Psicólogas da Polícia Judiciária estão a traçar o perfil dos agressores sexuais ‘online’ em Portugal e de uma primeira amostra de 26 casos concluíram que são práticas associadas a homens com instrução superior à dos autores do crime físico.

 

Para já, foi possível constatar que "a pornografia é algo que está mais relacionado com o sexo masculino", referiram à Lusa as investigadoras do Gabinete de Psicologia e Seleção da Escola da Polícia Judiciária (PJ), Cristina Soeiro e Raquel Guerra.

 

O estudo, iniciado em julho, analisa várias faixas etárias, estabelecendo a média nos 40 anos: os mais jovens rondam os 20, enquanto o mais velho da amostra tem 69.

 

O facto de os agressores ‘online’ terem uma maior instrução escolar, em comparação com os físicos, ou seja aqueles que estabelecem contacto direto com a vítima, é outra das conclusões.

 

As investigadoras falavam à margem da conferência mundial da IATSO (International Association for the Treatment of Sexual Offenders) que está a decorrer na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto, indicando que os casos estudados foram detetados por polícias estrangeiras através de redes, tratando-se de pessoas residentes em diversas localidades do país.

 

Cristina Soeiro apontou como objetivo ajudar no "desenho de perfis para a realidade portuguesa", vendo se há semelhanças com as já traçadas em investigações estrangeiras.

A legislação nacional que regula este tipo de crime - material pornográfico para comercialização, posse e partilha - só existe desde 2007.

 

Este trabalho surgiu a pedido da Brigada de Criminalidade Informática e Tecnológica da Diretoria de Lisboa e Vale do Tejo e serve para "avaliar o nível de severidade das imagens", de forma a tornar "mais fácil" a caraterização, uma vez que "muitos dos indivíduos têm milhares".

 

Prevenir potenciais agressores diretos, ou seja "que passem do uso ‘online', que por si só é crime, para o contacto físico com as crianças e adolescentes é outro objetivo", acrescentou Raquel Guerra.

 

Questionada sobre se já é possível identificar um padrão de risco, a psicóloga adiantou que "os fatores de risco são diferentes face ao tipo de imagens consumidas". "Não é igual consumir imagens de crianças nuas num clube naturista, a consumir imagens de sadismo", exemplificou.

 

Com o intuito de traçar perfis, as investigadoras dividiram a amostra por três grupos de gravidade.

 

O "exploratório" (19% da amostra) inclui agressores de 50 anos ou mais que usam imagens com um nível de gravidade baixo (eróticas e de pose), tendo como motivação a "curiosidade" e não têm grande conhecimento sobre as ferramentas informáticas. A estes casos foi aplicada a medida de termo de identidade e residência.

 

O segundo grupo (39%) junta agressores ‘online' que já praticaram crime de abuso físico com motivação de "fantasia" e económicas, uma vez que em alguns casos foi detetada pornografia para venda, tendo sido aplicada prisão preventiva.

 

Com 42%, o terceiro grupo junta comportamentos de parafilia, incluindo imagens de exposição erótica e de sadismo com vítimas masculinas e femininas, dos zero aos seis anos de idade. Os agressores, jovens entre 20 a 30 anos, estão obrigados a apresentações periódicas.

 

As psicólogas da PJ contam iniciar uma segunda fase do estudo até ao final do ano, incluindo entrevistas aos agressores que estão em prisão preventiva.

 

Por Lusa