Morrem cerca de quatro milhões de recém-nascidos por ano, em todo o mundo, um milhão dos quais devido a sépsis neonatal (uma infeção generalizada). Segundo a Organização Mundial de Saúde, estes números refletem uma tendência preocupante. Em vez de reduzirem de ano para ano, como a mortalidade noutras faixas etárias infantis, o número de mortes neonatais poderá inclusivamente aumentar. Isto porque «atualmente, a única forma de tratar este tipo de infeções é através da administração de antibióticos», avança Paula Ferreira da Silva.

Essa situação «tem contribuído para o surgimento de estirpes de bactérias altamente resistentes aos antibióticos», afirma ainda a investigadora que lidera a equipa que está a criar a vacina neonatal no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. Portugal está muito longe das taxas de mortalidade neonatal que se verificam em 98% dos países mais pobres. O país registou uma taxa de 1,9% de mortes de recém-nascidos em 2013.

Todavia, dado que na grande maioria dos países em desenvolvimento a segunda principal causa de mortes neonatais são infeções, esta vacina tem apotencialidade de vir a salvar milhões de vidas. «A principal vantagem desta vacina é a sua eficácia contra os principais agentes infecciosos responsáveis pelas infeções perinatais [que antecedem e sucedem o nascimento] e para os quais não existem vacinas», afirma Paula Ferreira da Silva. Existem várias infeções que podem ser letais para os bebés.

A Escherichia coli, uma bactéria do intestino conhecida por E. coli, é, nas palavras da investigadora, «o agente infecioso mais mortífero». Por isso, as mulheres que queiram ser mães e as grávidas devem ter particular cuidado para não contraírem infecções que possam afetar a sua saúde e a do feto. Embora desenvolvida a pensar nos recém-nascidos, Paula Ferreira da Silva esclarece que a vacina deverá ser administrada apenas «às mulheres em idade fértil, antes da gestação». Isto porque as infeções ocorrem antes, durante ou logo após o parto, «não havendo tempo útil para uma vacinação dos bebés».

Quando será comercializada?

«Vão começar agora os ensaios clínicos», adianta Bruno Santos da Venture Catalysts, empresa que licenciou a vacina neonatal. Após a conclusão dos ensaios laboratoriais (em animais e em humanos), o processo de autorização da comercialização da vacina neonatal junto do INFARMED e da Comissão Europeia não deverá exceder um ano e pode mesmo ser acelerado dependendo do interesse no medicamento. Ainda pode demorar uns anos até a vacina estar disponível no mercado, mas Paula Ferreira da Silva já deixou a sua vontade bem clara. «O ideal era entrar no Plano Nacional de Vacinação», admite.

Texto: Filipa Basílio da Silva