A investigação publicada esta semana refere que as distinções foram mais profundas em regiões do cérebro que apoiam a linguagem e a leitura, funções executivas como a memória e a tomada de decisão, e habilidades espaciais, segundo o artigo publicado na revista Nature Neuroscience.

Esse impacto é "significativo" na forma como o cérebro trabalha nas crianças, explicou à  agência France Presse a co-autora do trabalho, Elizabeth Sowell, da Universidade do Sul da Califórnia. "Descobrimos que a relação entre o cérebro e o rendimento familiar afeta o funcionamento cognitivo das crianças", adiantou por e-mail.

O estudo destaca que há soluções ao alcance da maioria para desfazer essa diferença, como uma merenda escolar reforçada, um ensino motivado e programas comunitários de incentivo.

"Não é tarde demais para pensar em como usar recursos que enriquecem o ambiente de desenvolvimento, que em troca ajudam as conexões cerebrais", comentou Sowell, cita a agência France Presse.

As desigualdades socioeconómicas já eram vistas como influenciadoras do desenvolvimento cognitivo, mas a medida em que a estrutura do cérebro era afetada não era ainda clara.

A investigação conduzida por Sowell  testou 1.099 meninos e meninas com idades entre os três e os 20 anos com desenvolvimento típico, de diversos grupos da população.

O grupo de investigação comparou o rendimento e o nível de educação dos pais com a superfície do cérebro das crianças, através de tomografias computorizadas e testes cognitivos. Também foram tidas em conta outras influências sobre a estrutura do cérebro, como a ascendência genética.

Além das diferenças observadas entre a área da superfície do cérebro das crianças nos níveis de rendimento mais baixos e mais altos, assistiu-se a uma disparidade gritante entre os grupos com rendimentos no extremo inferior da escala. Ou seja, assistiu-se a uma diferença maior, por exemplo, entre os resultados em crianças de famílias com rendimentos anuais entre os 30 mil dólares e os 50 mil, do que entre 90 mil e 110.000 mil dólares.

"Parece razoável especular que os recursos proporcionados pelas famílias mais abastadas (nutrição, cuidados infantis, escolas etc.) ajudam o cérebro durante a sua fase de desenvolvimento", afirmou Sowell.