O livro, intitulado "Economia Informal dos Estudantes dos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa] em Coimbra", é da autoria de Hector Costa, doutorando são-tomense, que realizou um inquérito entre 2013 e 2015 a 500 estudantes que frequentam licenciatura, mestrado e doutoramento na Universidade de Coimbra.

O livro, que dá seguimento ao inquérito que realizou em 2009 para a sua dissertação de mestrado, alerta para os valores reduzidos das bolsas dos estudantes africanos e para a quantidade de estudantes que têm de trabalhar para se manter na universidade.

Pelo caminho, há situações de "pobreza extrema", casos de racismo e estudantes que dormem "em garagens", disse à agência Lusa Hector Costa. De acordo com o investigador, "mais de 90%" dos inquiridos têm como fonte de rendimento principal o trabalho, sendo que, dos que laboram, 56% não têm um contrato de trabalho. A maioria trabalha na área da restauração, mas há também quem tenha emprego na agricultura ou nas limpezas, informou.

Como consequência, há vários casos de estudantes que trabalham "16 horas por dia" e, por estarem numa situação laboral ilegal, estão impedidos de requerer exames na época especial, ao abrigo do estatuto de estudante-trabalhador.

Apenas dois a três por cento desta população tem a bolsa de estudo como "fonte de rendimento principal", visto que, para a maioria, a bolsa atribuída pelos seus países de origem "é muito reduzida, na ordem dos 100 a 250 euros" - valor que não permite viver em Coimbra, notou Hector Costa.

Face à necessidade de terem de trabalhar para garantir a estadia em Coimbra, o estudante acaba por demorar, em média, "seis anos a acabar o curso", constatou, frisando que, se a taxa de retenção era de 46% em 2009, hoje situa-se perto dos 60%.

Há também estudantes a viverem "em condições habitacionais muito precárias", seja em vivendas ou em prédios sem "grandes condições de habitabilidade" ou até "em garagens". "Há pobreza extrema", alertou à agência Lusa Hector Costa, referindo que estudantes africanos têm de recorrer ao Banco Alimentar, ao Instituto Justiça e Paz ou à Caritas para suprirem as suas necessidades.

A discriminação também está presente no percurso dos estudantes africanos pela Universidade de Coimbra, referiu, afirmando que situações de racismo "são mais frequentes" na relação com outros estudantes. "Faltam políticas concretas para reduzir estas vulnerabilidades", criticou.

Segundo Hector Costa, os estudantes são-tomenses, guineenses e cabo-verdianos sãos aqueles que estão numa situação "mais precária".

Apesar de todas as dificuldades, os estudantes dos PALOP continuam a querer fazer a sua formação superior em Portugal e, nomeadamente, em Coimbra, universidade cujo diploma "dá prestígio e dá estatuto".

"Quando regressam têm emprego praticamente garantido e acham que a sua capacidade de resiliência é suficiente para contornar todas as dificuldades", contou o investigador, sublinhando que, apesar de ser o sonho de muitos, há estudantes que perante as dificuldades do quotidiano veem o seu desejo de ter um diploma pela Universidade de Coimbra interrompido e acabam por abandonar o curso.

O livro de Hector Costa é lançado no sábado, pelas 15:30, no Instituto Justiça e Paz, em Coimbra.

Questionada pela Lusa, a UC referiu que "acompanha estes estudantes" e "tenta resolver as suas dificuldades através dos mecanismos de que dispõe, como o PASEP [Programa de apoio social a estudantes através de atividades de tempo parcial] ou o Fundo de Apoio Solidário".

No entanto, "a UC não se pode substituir às entidades financiadoras dos países de origem destes estudantes", sublinha.