Estes números são surpreendentemente semelhantes aos resultados de um estudo com adultos em idade universitária, afirmou Annick Gilles, principal autora do estudo e especialista clínica do Hospital da Universidade de Antuérpia, na Bélgica.

 

A equipa de investigação esperava que os números fossem mais elevados nos alunos universitários «que saem muito à noite», declarou Annick Gilles à agência Reuters.

 

O zumbido nos ouvidos, ou tinnitus, causado pela exposição ao ruído alto, está claramente associado a danos de audição, disse a especialista. As pessoas com zumbido permanente nos ouvidos podem ser capazes de ouvir os mesmos volumes de som que ouviam antes do dano, mas muitas vezes têm dificuldade em identificar sons de discurso numa mistura de ruídos.

 

Para o novo estudo, cerca de 4 mil alunos do ensino secundário completaram um questionário sobre o zumbido temporário e permanente nos ouvidos, também respondendo a perguntas sobre as suas atitudes para com ruídos altos e proteção auditiva. Três em cada quatro jovens já vivenciaram zumbido temporário, e um em cada cinco sente um zumbindo permanente. Apenas cinco por cento dos alunos afirmaram usar algum tipo de proteção auditiva contra ruídos altos, de acordo com os resultados agora pulicados na revista PLOS ONE.

 

«O zumbido em si mesmo pode ser muito problemático e tem efeitos dramáticos sobre as pessoas», afirma Annick Gilles. «Muitos dos adolescentes neste estudo provavelmente também apresentarão uma perda auditiva associada, o que realmente agrava o problema.»

 

«O zumbido incomodativo interfere com o sono, com a concentração, com a comunicação e com capacidade de descansar», disse a investigadora. «Em suma, num adolescente, tal significa que vai ficar para trás academicamente, podendo perder muito na escola, repetir anos, etc. Isto, obviamente, tem enormes implicações na continuação dos estudos académicos e nas oportunidades de emprego.»

 

A SURDEZ NÃO TEM CURA

Utilizar os casos generalizados de zumbido entre os adolescentes como um sinal de alerta para a perda auditiva futura poderia ser uma boa estratégia, considera a equipa de investigação.

 

«A perda de audição costumava estar associada a fontes externas, tais como a indústria pesada e as atividades militares», afirma a especialista. «Hoje em dia, o volume alto aparece a partir de fontes autoinfligidas, como dispositivos pessoais de audição.»

 

Annick Gilles declara que há tratamento aliviar o trauma de ruído que resulta em perda auditiva e zumbido – incluindo esteroides ou câmaras hiperbáricas de oxigénio – mas que o dano não pode ser revertido.

 

«É sempre uma boa ideia usar proteção auditiva em ambientes ruidosos, tais como concertos, festivais e festas», declarou. «Além disso, a utilização de dispositivos pessoais de audição deve ser mais cuidadosamente controlada.»

 

«Muitos jovens ouvem música num volume demasiado alto por demasiado tempo em auscultadores», continuou Annick Gilles. «Os pais devem verificar se seus filhos ouvem música em volumes razoáveis e se usam proteção auditiva em ambientes barulhentos.»

 

«Além disso, os jovens que dizem ouvir “campainhas” nos ouvidos devem ser testados para a perda auditiva, uma vez que as duas situações muitas vezes andam juntas», acrescentou.

 

«Não há cura para o zumbido nem para a perda de audição, mas os médicos podem orientar as famílias para ajudar a lidar com os problemas, dependendo da gravidade», concluiu Annick Gilles.

 

 

Maria João Pratt