Dizem que é uma revolução. Dizem que muda tudo. Que deixamos de nos preocupar até com os cabelos desgrenhados. Que nos esquecemos de nós e até dos outros. Que durante meses teremos de reaprender a gerir o tempo. E os afetos. Dizem, também, que a nossa relação irá mudar e até se poderá sobressaltar.

Dizem-nos tudo isso, esquecendo-se de nos contar que tudo isso acontece não a partir do momento em que o nosso primeiro filho nasce, mas que começa a desenhar-se no primeiro minuto em que ficamos a saber que estamos à sua espera.

Aí, num ápice, temos a certeza de que o centro do mundo se situa na nossa barriga. Que o nosso corpo se vai remodelar em função dela. Que a nossa vida a dois se vai modificar por ela. Que até mesmo a nossa intimidade não resistirá em transformar-se. E então somos invadidas por dúvidas. As que dissipamos agora.

Não são poucos os casais que se preocupam com a possibilidade de o facto de terem relações sexuais poder ser nefasta para a gravidez. Caso a gestação seja normal (se não envolver riscos como aborto ou parto pré-termo) e o médico que a acompanha não impuser quaisquer restrições neste campo, é perfeitamente natural e seguro que a vida sexual do casal continue ativa, mesmo que sofra algumas mudanças, dadas as transformações físicas e emocionais que vão inevitavelmente ocorrer.

 

Não se surpreenda, portanto, se, por exemplo, notar que, ao longo dos próximos nove meses, o seu desejo sexual viaja por uma montanha russa. Nos primeiros três meses de gravidez, se algumas mulheres não vivenciam qualquer alteração na sua libido e algumas até se sentem sexualmente mais próximas do seu parceiro, outras, vítimas de náuseas, vómitos e fadiga, não conseguem dizer o mesmo.

Já no segundo trimestre, alguns dos sintomas iniciais tendem a desaparecer e o desejo sexual pode voltar a aumentar. Há inclusivamente teorias que defendem que o facto de haver um maior afluxo sanguíneo na região pélvica e das zonas erógenas se tornarem mais sensíveis se traduz, para algumas mulheres, numa sexualidade mais satisfatória.

Posições ideais

Chegado o terceiro trimestre, as curvas femininas estão indisfarçavelmente maiores.

Mais uma vez, se para algumas mulheres isso representa a perda de características físicas que as tornam atraentes, para outras não será necessariamente assim. O que é certo é que na reta final da gravidez, geralmente, regista-se uma diminuição da frequência das relações sexuais.

Nesta fase, o volume da barriga e do corpo torna-se mais incómodo, o bebé passa a mexer-se mais e é preciso uma boa dose de criatividade a nível sexual, já que nem todas as posições são confortáveis ou exequíveis.

Quando essa altura chegar, existem várias alternativas. Basta puxar pela imaginação e descobrir as posições que oferecem maior conforto e prazer. Por exemplo, geralmente a postura em que o homem fica por trás é uma boa opção, assim como aquela em que a mulher se coloca por cima é particularmente indicada na fase final da gestação.

 

Não só é confortável como a mulher consegue controlar o ritmo mais facilmente. Pode também experimentar ficar deitada na cama (em paralelo com a zona da cabeceira), com os pés assentes no chão, enquanto o seu companheiro fica de pé ou de joelhos.

(Mu)dança a dois

Não pense, contudo, que apenas você sentirá mudanças a nível sexual. Também o seu companheiro poderá notar uma quebra no desejo. Aliás, segundo os especialistas, é frequente os homens sentirem menos libido, quando se preparam para ser pais. Isto explica-se em parte porque o corpo da mulher se transforma, mas também porque o homem pode ficar apreensivo sobre as novas responsabilidades que a paternidade lhe irá trazer ou até ter receio de magoar o feto durante as relações sexuais.

Se for esse o caso, explique ao seu parceiro que não há razões para se preocupar. Na verdade, a penetração, embora deva ser suave, não envolve riscos para o feto, que se encontra protegido no útero pelo líquido e membranas amnióticos. Mesmo na última fase da gestação, caso não haja qualquer contraindicação médica, não há problema em continuar a ter relações sexuais.

 

Sabe-se inclusivamente que fazê-lo, no final da gravidez, estimula as células do colo do útero a segregarem determinadas hormonas que ajudam a desencadear o trabalho de parto. O próprio esperma contém substâncias que incentivam o útero a contrair-se. Não espanta, pois, que o coito seja desaconselhado em caso de risco de parto prematuro.

Outras intimidades

Acima de tudo, o mais importante é que você e o seu parceiro se sintam unidos, independentemente da vossa vida sexual ter atingido um pico de satisfação ou de não se encontrar nos seus melhores dias.

É também determinante que ambos se lembrem que a sexualidade não se resume à mera prática de relações sexuais.

 

O casal deve ter em conta que existem inúmeras maneiras de expressarem a vossa atração, o vosso desejo e amor um pelo outro. Aconchegarem-se, tocarem-se, aplicarem massagens um ao outro são excelentes formas de o fazer e até de despertar a sensualidade e o desejo.

 

E se é verdade que há coisas que não deverão dizer um ao outro, sob pena de se magoarem, também é verdade que, ao longo dos próximos nove meses, deverão cimentar uma boa comunicação, discutirem abertamente as suas preocupações e desejos. Por exemplo, se não tiver vontade de ter relações sexuais, é fundamental que explique ao seu parceiro o porquê dessa situação, de forma a que ele não sinta que você o está pura e simplesmente a rejeitar.

Nova etapa

Para além de procurarem redescobrir a sexualidade, importa também que ambos os elementos do casal tenham expetativas realistas no que toca à sua vida sexual, nesta fase que inicia grandes mudanças ao nível da conjugalidade. Sabe-se, por exemplo, que, durante a gravidez, a maioria das mulheres, especialmente nos últimos três meses de gestação, não atinge o orgasmo com regularidade. Pode também acontecer que a frequência com que o casal tem relações sexuais diminua.

Ora estar consciente destes factos, falar abertamente sobre eles, tendo a perceção de que mais importante do que a quantidade é a qualidade das relações sexuais e, particularmente, da união em si mesma, é uma boa estratégia para impedir que as alterações que irão ocorrer contaminem negativamente a relação a dois que se alargará a um terceiro elemento.

Nessa altura, o desafio que começou há nove meses estará longe de estar concluído. O casal terá de se reorganizar não permitindo que o papel de pai e mãe aniquilem o de homem e mulher. Daí a necessidade de desmistificar algumas ideias e aceite alguns conselhos:

O medo de magoar o bebé
Caso não haja qualquer contraindicação médica e a gestação for normal, o casal pode viver a sua sexualidade plenamente. As relações sexuais não provocam aborto nem magoam o feto.

Penetração delicada
A penetração não envolve riscos, embora deva ser suave para evitar o desconforto. Deve, contudo, ser evitada na reta final da gravidez.

Receio do clímax
Durante o orgasmo é normal que o útero se contraia, o que, no caso de uma gravidez normal, não representa perigo. Já numa gravidez de alto risco, pode ser desaconselhado que a mulher atinja o orgasmo.  

 

Essa recomendação é defendida por muitos especialistas dado o risco de aborto espontâneo ou de parto prematuro.

Após o clímax
É normal que depois do orgasmo a mulher sinta um aceleramento do ritmo cardíaco e o bebé a mexer-se. Não entre, por isso, em stresse se se passar o mesmo consigo. Trata-se de um reflexo da atividade hormonal e uterina. As cólicas após o orgasmo não acarretam perigos numa gravidez normal.

Sem infeções

Desde que o homem não seja portador de uma doença sexualmente transmissível, não existe risco que a introdução do pénis na vagina possa causar alguma infeção que afete a mãe ou o bebé.

Texto: Nazaré Tocha