Muitos ainda se assustam com a ideia mas a verdade é que há cada vez mais homens a assistir ao nascimento do filho, como é o caso de Rui Gonçalves.

 

Este homem, um dos muitos corajosos, decidiu assistir ao parto do primeiro muito tempo antes do dia em que a criança decidiu vir ao mundo. 

«Achei que seria um momento importante para os dois e que poderia dar algum suporte psicológico à Isabel», conta, sem esconder que também tinha alguma curiosidade sobre como seria a experiência.

O parto acabou por ser bem mais fácil do que inicialmente pensara e o que mais o impressionou foi, sem dúvida, «o profissionalismo e a eficácia da equipa médica, bem como a rapidez das decisões tomadas. Tudo começou e acabou em dez minutos, a minha mulher sofreu muito pouco e a Joana nasceu saudável», lembra.

Curiosamente, Rui não acredita que assistir ao parto tenha aumentado o sentido de paternidade de forma imediata. «Penso que não influencia muito. O sentido de paternidade surge com o tempo e é o contacto diário que nos faz envolver mais com o bebé», afirma. No entanto, existem vantagens.

Dar apoio

Se até há algum tempo na hora do parto, o pai esperava, passiva e ansiosamente, longe da mulher e do filho pela boa nova, hoje, tem a oportunidade de estar presente na sala de parto e participar num momento de felicidade para a vida do casal, mas também de alguma ansiedade e receio. Acompanhadas, as futuras mães sentem-se mais seguras e até mais corajosas.

Na verdade, as diferenças entre ser pai e mãe estão a esbater-se. À semelhança de Rui, a maioria dos pais acompanha a gravidez cada vez mais de perto, vai às consultas, está presente durante a realização de exames e no momento do nascimento e participa mais ativamente em todas as tarefas que estão relacionada com os mais pequenos.

Papel ativo

«A presença do pai no parto é fundamental e deve ser promovida. Ele deve não só assistir, mas também participar ativamente», afirma Clara Soares, obstetra e coordenadora do Serviço de Urgência da Maternidade Alfredo da Costa (MAC). Um papel ativo que passa por prestar apoio à mulher, partilhar afetos e ajudá-la, recorrendo a técnicas de relaxamento e massagens para aliviar as dores, nos intervalos das contrações.

Saber o que fazer no momento certo é uma das «matérias» estudadas nos cursos de preparação pré-parto, daí que estes sejam muito importantes para os casais. «Quando o homem entra na sala de parto deve estar a par do processo e do seu papel», afirma Clara Soares.

Tem de estar preparado para a demora e para a dor, caso contrário o mais comum é «sentir-se perturbado com todo o processo e não perceber porque razão a equipa médica só atua em determinado momento», acrescenta.

Sem medo

Tal como acontece com outras unidades hospitalares de Portugal, na Maternidade Alfredo da Costa, a maioria dos homens acompanha o nascimento in loco.

«Os pais estão muito motivados e nem sequer pestanejam na hora de entrar», afirma a obstetra. Quando o pai e a mãe decidem que o primeiro fica fora da sala, as equipas médicas não insistem.

«É uma questão do casal e o importante é que a grávida se sinta bem. Ela pode ter a companhia de um outro familiar que, tal como o pai, pode ser uma ajuda primordial», refere Clara Soares que defende que a presença do homem na sala de partos é importante para a união familiar, mesmo que o sentido de paternidade vá crescendo com o tempo e com contacto com o recém-nascido.

Intimidade intacta

Algumas parturientes, embora sejam cada vez menos, preferem que os maridos fiquem para lá da porta, por recearem que o momento do parto vá influenciar a vida íntima do casal no futuro. No entanto, esse impacto vai «depender da preparação do pai e do seu conhecimento e compreensão dos processos fisiológicos que o parto acarreta», refere a obstetra.

«Os pais preparados para o momento sabem que pode ser um processo doloroso, que pode demorar horas e que a sua presença, nem que seja apenas à cabeceira, é um apoio enorme. Não precisam de ver tudo, têm apenas de se preocupar em apoiar», aconselha a especialista.

Quanto à presença de câmaras de vídeo durante o nascimento do bebé, a coordenadora do Serviço de Urgência da MAC considera que é uma decisão do casal, «dependendo da vontade de querer ou não rever o momento», remata.

Texto: Rita Caetano com Clara Soares (obstetra)