Em 1992 o tratamento da infertilidade conheceu uma verdadeira revolução com o aparecimento de uma nova técnica, a microinjeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI), desenvolvida por uma equipa de Bruxelas e que mudou completamente o paradigma no tratamento da infertilidade masculina.

 

Este procedimento, que consiste na introdução de um único espermatozóide no óvulo, permitiu que muitos homens com problemas no número e qualidade dos espermatozóides pudessem ser pais genéticos dos seus filhos, para além de ter permitido uma maior eficiência nos próprios tratamentos de Procriação Medicamente Assistida.

 

A generalização da utilização da ICSI fez com que aumentassem as taxas de fertilização, passando-se a obter um maior número de embriões, para além de permitir o tratamento de milhões de casos que até então eram dados como perdidos e para os quais a única solução passava pelo recurso a esperma de dador. Hoje em dia a ICSI é uma ferramenta indispensável no arsenal terapêutico do tratamento da infertilidade.

 

Trata-se de uma técnica delicada e sofisticada, que diariamente permite o nascimento de milhares de crianças em todo o mundo e que é considerada extremamente segura e eficaz, quando realizada por Embriologistas experientes. A ICSI consiste na injeção de um único espermatozóide no interior de cada um dos ovócitos obtidos a partir dos ovários da mulher, originando-se assim embriões. Depois de formados, os embriões são transferidos para o útero, onde se poderão implantar e originar uma gravidez.

Em que consiste a Microinjeção intracitoplasmática de espermatozóide

 

Quando realiza um ciclo de ICSI, a mulher começa por ser submetida a tratamento com medicamentos estimuladores da ovulação (Gonal F®, Puregon® ou Menopur®, entre outros). São estes medicamentos (semelhantes às hormonas que existem naturalmente no organismo feminino) que vão estimular os ovários a produzirem mais óvulos que o habitual.

 

O desenvolvimento dos óvulos é controlado através da realização periódica de ecografias e análises ao sangue (para dosear os níveis de algumas hormonas). Quando o médico verifica que os folículos ováricos (onde se estão a desenvolver os óvulos) já estão suficientemente desenvolvidos, é administrada outra hormona (gonadotrofina coriónica humana – hCG, cujo nome comercial é Pregnyl® ou Ovitrelle®), cuja função é promover a libertação dos ovócitos a partir dos folículos.

 

Nesta fase o tempo tem um papel fundamental: a punção (operação de recolha dos ovócitos a partir dos ovários) deverá ser realizada 35 a 36 horas após a administração da hCG. Ou seja, é muito importante que os casais respeitem as horas indicadas pelo ginecologista para administração das várias injeções, pois um erro a este nível pode pôr em causa todo o processo de tratamento.

 

A punção dos ovários é feita com controlo ecográfico e consiste na introdução na vagina de uma agulha muito fina, que irá permitir a recolha de óvulos a partir de cada um dos ovários. Esta operação é realizada sob sedação e dura cerca de 15 minutos.

 

No mesmo dia da punção, é pedido ao homem que recolha esperma, para que este possa ser utilizado no tratamento (embora também seja possível a utilização de esperma congelado ou proveniente de biópsia testicular).

 

Depois de obtido, o esperma é centrifugado a alta velocidade e sujeito a uma série de processos de tratamento, de modo a selecionar os espermatozóides mais fortes e com melhor capacidade de fertilização.

 

Os óvulos obtidos são transferidos para meios de cultura apropriados, sendo de seguida tratados e microinjetados com um espermatozóide cada, dando posteriormente origem a embriões.

 

Uma vez formados, os embriões (normalmente um ou dois) são transferidos para o útero da mulher, para que se implantem e dêem origem a uma gravidez. Os embriões podem ser transferidos 2, 3 ou 5 dias após a fecundação, dependendo a decisão relativamente ao dia da transferência de vários fatores, dos quais o mais importante é a capacidade que o laboratório tiver de identificar os embriões com maior probabilidade de implantação.

 

A partir do dia da punção, a mulher começa a aplicar progesterona (em comprimidos vaginais ou gel), de modo a preparar o endométrio para que a implantação dos embriões possa ser bem-sucedida.

Para que serve a Microinjeção intracitoplasmática de espermatozóide

 

Existe indicação para ICSI nos seguintes casos:

 

- Alterações na concentração, características físicas e/ou mobilidade dos espermatozoides;

- Concentrações elevadas de anticorpos anti-espermatozóide;

- Ausência de fecundação em tentativas de FIV convencional;
- Congelação de esperma;
- Distúrbios da ejaculação (ejaculação retrógrada);
- Ausência congénita ou obstrução dos canais deferentes (que ligam os testículos ao pénis);
- Homens que fizeram vasectomia.

 

A ICSI é também particularmente útil nas situações em que os espermatozóides por qualquer razão não conseguem penetrar nos óvulos e nos casos em que os espermatozóides têm formas anormais.

 

Nos casos de mulheres com reserva ovárica diminuída, em que o número de ovócitos obtidos é baixo poderá igualmente ser preferível a realização de ICSI em vez da FIV tradicional, pois o risco de uma eventual falha de fecundação em FIV poderia colocar em causa todo o tratamento. A ICSI também pode ser utilizada nos casos em que é necessário recorrer a esperma ou ovócitos de dadores.

 

Saiba mais aqui sobre tratamentos com doação de esperma (FIV e IIU) ou doação de ovócitos.

As taxas de sucesso

 

As taxas de sucesso da ICSI são bastante variáveis e dependem essencialmente de dois fatores: a causa de infertilidade e a idade da mulher.

 

Quanto mais complicado for o diagnóstico de infertilidade e mais velha for a mulher, menor será a probabilidade de sucesso do tratamento. No caso dos homens, a idade não será tão relevante, embora a probabilidade de sucesso seja maior em homens mais jovens.

 

Na generalidade dos relatórios internacionais mais recentes, as taxas de sucesso para os ciclos de ICSI com embriões frescos (gravidez clínica confirmada ecograficamente por transferência de embriões) são de cerca de 30-35% e para os ciclos com embriões congelados rondam os 20% (Registos Europeus da ESHRE).

 

Embora muitas vezes as taxas de sucesso dos tratamentos de PMA tendam a ser consideradas demasiado baixas, não nos devemos esquecer que nas situações em que há concepção natural a probabilidade de sucesso é semelhante: apenas 20 a 30% das tentativas resultam em gravidez.

 

Por outro lado, é importante que os casais tenham em conta que a probabilidade de terem realmente um filho é ligeiramente mais baixa pois, tal como acontece nos casos em que a concepção se faz do modo natural, algumas mulheres não conseguem levar a gravidez a termo e correm o risco de abortar espontaneamente.

 

 

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