Quando um casal decide ter um filho são muitas as dúvidas que se levantam. 


Desafiámos um especialista a responder às questões que mais a preocupam.


Para que fique completamente esclarecida, leia este artigo.

Contraceção, sexualidade, maternidade ou a simples ação das hormonas são alguns dos temas que podem surgir numa consulta de ginecologia. Apontar as questões a colocar antes de entrar no consultório é uma das regras a seguir para ter a certeza de que não se esquece de esclarecer nada.


Mas, a verdade é que nem sempre chega a fazer todas as perguntas, seja por falta de tempo, de lembrança ou até por pensar que algumas das suas dúvidas podem parecer um pouco ridículas. Não se preocupe. 

A Saber Viver reuniu as principais questões relacionadas com saúde feminina e, em conversa com Fernando Cirurgião, ginecologista, encontrou a resposta para cada uma delas:

1. Em que idade deve ser feita a primeira consulta de ginecologia?

A primeira consulta poderá apenas ser de esclarecimento de dúvidas, sobre o funcionamento do aparelho reprodutor, os métodos contracetivos e a necessidade do preservativo como única forma de prevenir das doenças sexualmente transmissíveis. Pode acontecer durante a adolescência e é fundamental antes do início da vida sexual. Se tal não acontecer, é imprescindível realizá-la logo após a primeira relação sexual.

2. Com que regularidade se deve consultar um ginecologista?

Como rotina, uma vez por ano.

3. Para que serve o exame de Papanicolau?

Descrito por um médico com este nome há quase 60 anos, este exame tem como objetivo o rastreio do cancro do colo do útero. É realizado durante o exame ginecológico e deve ser feito anualmente.

4. A menstruação irregular pode ser indício de problema de saúde?

Os ciclos menstruais regulares traduzem um adequado funcionamento do aparelho reprodutor. A menstruação pressupõe que tenha ocorrido uma ovulação, sendo irregular pode deduzir-se que as ovulações não estão a acontecer na altura devida, o que pode comprometer a fertilidade.

Fatores externos, emocionais, profissionais ou alterações do peso corporal podem estar na origem desta mudança. Os ovários poliquísticos são outra situação comum, mais frequente na adolescência e que se pode prolongar na idade fértil em que, conjuntamente com as irregularidades menstruais e dificuldade em engravidar, podem coexistir o peso excessivo, pilosidade e alterações na pele (oleosidade e acne).

5. O que pode provocar dor na relação sexual?

A dispareunia, dor no ato sexual, divide-se em superficial e profunda. A primeira localiza-se à entrada da vagina e levanta a suspeita de uma infeção ginecológica vulvovaginal, como a causada pelo fungo candida albicans.

Já a dor profunda pode dever-se à posição durante o ato sexual, a aderências entre os órgãos internos, como acontece após cirurgias abdominais ou como complicação de doenças inflamatórias pélvicas, e também a uma infeção pélvica aguda. Trata-se de um sintoma que justifica uma consulta de ginecologia com a maior brevidade.

Há ainda outra patologia, nem sempre fácil de diagnosticar, a endometriose, cujas manifestações podem incluir dores espontâneas, durante as relações, e muito intensas na menstruação, bem como uma maior dificuldade em engravidar.

6. É normal a mulher ter corrimento vaginal?

O corrimento vaginal é normal e necessário, por exemplo durante o ato sexual. Habitualmente é transparente e tem um odor natural, já que as glândulas que o produzem são idênticas às do suor.

Quando associado a comichão, ardor, dor durante as relações, cor (branco grumoso, amarelo, esverdeado ou acinzentado) poderemos pensar que existe uma infeção.

 

Esta pode localizar-se na vulva e vagina (vulvovaginite) ou ser mais grave, com origem no colo do útero (cervicite), no útero (endometrite) ou trompas (salpingite).

7. Que cuidados deve ter quem pretende engravidar?

Ir a uma consulta de ginecologia para esclarecimento de dúvidas e iniciar um suplemento vitamínico de ácido fólico, fundamental ao desenvolvimento do sistema nervoso do futuro bebé e comprovado na prevenção da espinha bífida.

 

Seguramente que lhe irão ser pedidos exames laboratoriais, entre os quais a colpocitologia, a tipagem sanguínea, análises de carácter geral e outras específicas para o rastreio de doenças infeciosas que poderiam interferir no desenvolvimento do bebé, nomeadamente o rastreio de rubéola, toxoplasmose, hepatites B e C, sífilis, VIH e citomegalovírus.

8. Usar pensos diários é prejudicial?

O uso de pensos diários facilita o desequilíbrio da flora vaginal com o crescimento dos microrganismos como os fungos que se dão bem nos ambientes quentes, húmidos e pouco arejados.

9. É verdade que os produtos de higiene íntima podem também ser prejudiciais?

Depende. Devem ser evitados os produtos perfumados. Aqueles considerados específicos, que respeitam o pH vaginal, que é ácido ao contrário da pele, podem ser usados diariamente.

10. O que são ovários micro-poliquísticos e que repercussões têm na saúde ou fertilidade?

Nesta situação, os ovários estão ligeiramente aumentados e a sua cápsula é mais fibrosa, o que também dificulta as ovulações. Esta descrição é ecográfica em que os ovários apresentam uma série de folículos, os percursores dos óvulos, à periferia. Habitualmente é associado a alterações hormonais e físicas.

É comum excesso de peso, alterações na pele (acne) e um aumento na pilosidade. A dificuldade em engravidar pode estar associada e deve-se à irregularidade nas ovulações.

11. A vacina contra o cancro do colo do útero também traz benefícios a mulheres adultas sexualmente ativas?

O efeito preventivo do cancro do colo do útero existe para além dos 26 anos. Esta idade, teoricamente limite, havia sido falada porque os estudos iniciais só contemplavam mulheres entre os nove e os 26 anos. Entretanto, já foi alargado o âmbito dos mesmos e existe um efeito protetor na prevenção da infeção pelos tipos de vírus HPV mais cancerígenos mesmo na faixa dos 40 anos.

12. Como pode ser feita a prevenção do cancro do colo do útero?

Deve-se realizar uma vigilância ginecológica regular, anual, com colpocitologias também anuais. E evitar fumar. O cancro do colo não é hereditário, é adquirido, e por detrás está um vírus, o HPV, cuja transmissão, ainda que não exclusiva, é essencialmente sexual pelo que para a sua prevenção só mesmo o uso de preservativo. Atualmente a vacina conseguirá prevenir mais de 2/3 dos casos de cancro do colo do útero.

13. Em relação ao cancro da mama que cuidados preventivos podemos ter?

Sob o ponto de vista geral, é tido que a gravidez e o amamentar têm um efeito protetor. Deve fazer o auto-exame da mama mensalmente após a menstruação. Pode fazê-lo no banho (com a mão ensaboada é mais fácil deslizar ao longo da mama e axila para perceber se há diferenças comparativamente ao mês anterior).

A mamografia complementada com a ecografia deve ser pensada a partir dos 35 anos, ou antes se houver fatores de risco como os antecedentes familiares. Entre os 35 e os 40 anos é feito um primeiro exame e após os 40 é feito de dois em dois anos.

14. Quando se deve realizar uma mamografia? É perigoso para a saúde?

Para além dos critérios de rastreio antes mencionados, pode justificar-se perante um exame clínico suspeito como a descoberta de um nódulo mamário. Apesar de ser um exame radiológico, mesmo feito anualmente, não traz nenhum risco acrescido.

15. Com que frequência deve ser revisto o método contracetivo?

Havendo uma boa adaptação não há necessidade de mudança. A periodicidade das consultas anuais poderá ser mantida, com exceção do uso do DIU (dispositivo intrauterino) que passa a ser semestral. A mudança da pílula poderá ser recomendável se, para além do efeito contracetivo, se justificar outros benefícios que algumas pílulas têm, nomeadamente a nível da pele, cabelo ou para debelar os sintomas da síndrome pré-menstrual.

16. A toma da pílula aumenta o risco de cancro da mama e afeta a fertilidade?

A pílula exerce um efeito protetor quanto à patologia benigna da mama (quistos). Quanto ao cancro não se sabe, mas é aconselhável não ultrapassar os 15 anos de toma contínua.

A fertilidade não é afetada, o que acontece é que a capacidade fértil da mulher reduz-se com o passar do tempo e, enquanto está a tomar a pílula, os ciclos menstruais estão regulares de uma forma artificial e, se porventura quando a iniciou também tinha como objetivo regular a menstruação, quando a suspender tudo volta ao mesmo.

17. Que contracetivo recomenda a uma mulher que não pretende usar um método hormonal?

As alternativas são poucas. Como método definitivo e considerado irreversível existe a laqueação de trompas. Em mulheres que pensem numa solução a médio-longo prazo, o dispositivo intrauterino (DIU) pode ser uma boa opção, já que a sua eficácia prolonga-se até aos cinco anos e pode ser retirado em qualquer altura.

18. É verdade que o DIU não deve ser usado por quem ainda não teve filhos?

Não é recomendável o seu uso por quem ainda não teve filhos. O DIU é um corpo estranho que fica colocado dentro do útero. Ainda que os riscos de infeção estejam mais relacionados com os cuidados higiénicos na altura da colocação, não deixa de causar uma reação inflamatória local, já que é por este mecanismo que ele exerce o seu efeito contracetivo.

Não vai modificar o padrão menstrual da mulher, ou seja, se era irregular continuará a ser e, por fim, espera-se um pouco mais de fluxo menstrual. Há um DIU que tem uma impregnação hormonal cuja libertação é exclusivamente intrauterina, o que o torna um método atrativo, porque acaba por ter as vantagens da pílula (redução do fluxo menstrual, dores).

19. O que marca o início da menopausa e quando é considerada precoce?

A instabilidade hormonal pela claudicação dos ovários pode começar até dez anos antes do desaparecimento das menstruações, manifestando-se pelas irregularidades menstruais e afrontamentos. O desaparecimento da menstruação antes dos 45 anos deve ser estudado pois considera-se uma menopausa precoce.

20. Quando é indicada a terapia hormonal de substituição? O risco de cancro é real?

A THS deve ser considerada em todas as mulheres na peri e pós-menopausa, desde que não existam contraindicações. Beneficia todos os órgãos e sistemas (pele, sistema nervoso, cardiovascular, urogenital).

O risco de cancro da mama, que não se alterou, mantém-se ligeiramente mais elevado do que a população em geral só após sete anos de terapêutica hormonal, sabendo-se que nesse período não se verifica um risco acrescido e mesmo depois, não havendo alterações na mamografia, não haverá razões para interromper. As alternativas, como os fitoestrogénios, alguns apresentam resultados nos afrontamentos.

Texto: Manuela Vasconcelos com Fernando Cirurgião (ginecologista)