Nenhum luto é comparável ou pode ser classificado em alguma hierarquia (embora a nossa sociedade faça isso o tempo todo). Apesar de atingir toda a família, a perda de um bebé durante a gravidez traz marcas ainda mais profundas na grávida, que terá que passar por processos extremamente negativos e desgastantes que, apesar de serem necessários, apenas vêm aumentar a angústia trazida pela perda.

O sofrimento físico é exclusivo à mãe. Cabe à mesma compreender a sua perda e aceitar que deverá passar pelos procedimentos necessários, com o devido apoio. No entanto esta perda e o sofrimento emocional não é exclusivo à mãe. O pai sofrerá uma perda emocional e psicológica que poderá também ser incapacitante, no entanto, este deverá acompanhar a mãe nos processos médicos e posteriores ligados ao luto, assim como as pessoas mais próximas dos dois.

Os dias, as semanas e os meses após a perda de um bebé são extremamente difíceis e dolorosos, com sensações alternadas de tristeza, choque, luto, depressão, culpa, raiva, ressentimento e vulnerabilidade. Os pais poderão se sentir distantes e irritados, incapazes de se concentrar, comer ou dormir bem. Às vezes uma exaustão física também se apodera de si, tornando qualquer tarefa ou movimento um fardo muito pesado.  Com o passar do tempo, haverá horas ou até dias em que começará a retomar a vida normal, para, de repente, ter uma recaída de tristeza. Lembre-se: cada pessoa reage às perdas de uma forma diferente, e não há modo certo ou errado de se sentir.

Tenha em mente, contudo, algumas coisas que o pode ajudar a superar esta perda:

Aceite os seus sentimentos. Você poderá se surpreender por sentir raiva ou ressentimento em relação a amigas ou parentes que tenham gestações bem-sucedidas ou bebés em casa. Outro sentimento comum para as mães é responsabilizar-se pela perda, como se ela pudesse ter sido evitada por algum gesto seu.
A melhor maneira de lidar com esse tipo de culpa ou julgamento tão duro contra si mesma é falar abertamente com seu companheiro e pessoas próximas sobre o que aconteceu, e sobre como isso está a afetar a sua vida. Uma conversa com o médico sobre os motivos que levaram à perda também ajuda certas mulheres a compreender melhor as circunstâncias e aceitá-las.

Permita-se sentir tristeza. Não tente impor um fim à tristeza. Muitas pessoas vão tentar ajudá-la dizendo que "o próximo vem já a seguir", mas a verdade é que cada pessoa tem uma forma diferente de lidar com a dor. Alguns pais e mães voltam a sentir a perda mais fortemente na época em que o bebé estava programado para nascer ou em alguma comemoração familiar e é normal que assim seja, por isso não se impeça de sentir esse momento de tristeza.

Peça uns dias no trabalho. Mesmo que esteja fisicamente recuperada, passar algum tempo afastada do trabalho poderá fazer-lhe bem. É preciso ter um momento para processar o que aconteceu. A mulher que sofre um aborto tem direito a uma licença, mas por vezes poderão ser necessários uns dias adicionais.

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Esteja preparada para um afastamento sexual. Alguns casais consideram que a relação sexual os conforta e confirma o amor de um pelo outro. Outros, por outro lado, ficam tristes, um tanto "anestesiados", temerosos por uma futura gestação ou simplesmente assustados. Às vezes, depois de alguns meses (converse com seu médico sobre isso), um dos parceiros quer voltar a tentar engravidar, enquanto o outro ainda não está pronto. O melhor é tentar manter um diálogo sincero sobre o assunto e respeitar o tempo de cada um.

Converse com outras pessoas. A dor de uma perda costuma ser um assunto extremamente íntimo e solitário. Mas, embora seja difícil, conversar sobre o que aconteceu pode ajudar a diminuir a solidão.
Se com o passar dos meses ainda sentir muita dificuldade em retomar a rotina, ou se considerar que o seu estado emocional piorou, converse com o seu médico ou peça recomendação a conhecidos sobre um terapeuta. Uma ajuda especializada poderá muni-la das ferramentas emocionais necessárias para enfrentar melhor a perda.

Se  quer ajudar alguém que sofreu uma perda gestacional há algumas coisas que pode fazer:

– Não subestime a dor da perda gestacional.
– Não aja, em relação à mãe ou pai enlutados, como se nada tivesse acontecido.
– Não diga que “eles ainda terão outros filhos”.
– Não pergunte se eles “já começaram a praticar”.
– Se o bebé já tinha um nome, refira-se a ele pelo nome ao manifestar os seus sentimentos.
– Pergunte se pode ajudar de alguma forma.
– Se a pessoa quiser falar sobre o assunto, esteja preparado para ouvir.
– Nas conversas com a família evite culpar a equipa médica, o hospital ou a forma de parto escolhido ou qualquer coisa que só agrava o sofrimento.
– Evite indicar novos profissionais para “a próxima vez”.
– Não diga à mãe ou pai que eles têm que superar rapidamente.
– Permita que o casal tenha seu tempo de luto. Não existe um limite ou uma regra de normalidade para a tristeza passar.