Induz-se porque o bebé «passou do tempo», porque o médico só está de serviço naquele dia, porque a barriga já pesa, porque sim.
Mas, ao contrário do que poderá pensar-se, a indução do parto não é um procedimento isento de riscos. Nascer com dia e hora marcada é, cada vez mais, uma prática comum em Portugal.
«Banalizou-se muito a ideia do parto induzido», critica Diogo Ayres de Campos, professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Particularmente, «as induções sem motivo clínico», que este responsável acredita serem frequentes a nível nacional.
Quantos partos induzidos ocorrem em Portugal, ninguém sabe. Luis Graça, presidente do Colégio de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos (OM), afirma que este é um assunto «que não está minimamente estudado no nosso país» e que não existem estatísticas nacionais sobre indução do parto.
«Uma das principais causas do aumento da taxa de cesarianas é a indução do parto em grávidas que ainda não têm o colo do útero maduro», explica. Uma prática que o médico reconhece ser «comum» em Portugal.
Diogo Ayres de Campos aponta outras consequências dos nascimentos induzidos com fármacos: contracções mais precoces, partos mais dolorosos e incómodos, necessidade de outras intervenções.
A tentativa de fazer coincidir o dia do parto com o dia de serviço do médico assistente é um dos motivos do aumento das induções por conveniência. Luis Graça confirma-o e acrescenta duas outras razões:
«Querer que o bebé nasça numa determinada data e acreditar, sem fundamento, que os fármacos de que dispomos para induzir o parto são infalíveis.»
Há algum controlo sobre a actuação dos médicos? «Não existem orientações nacionais sobre a indução do parto – e mesmo que existissem, nunca seriam de aplicação obrigatória -, por isso as normas de actuação são decididas em cada serviço hospitalar», afirma Luis Graça.
O responsável defende que os médicos são «livres de tomar as suas decisões de acordo com as parturientes» e sublinha que o parto programado «tem a vantagem de as equipas médicas e de enfermagem estarem completas, de o parto ter lugar durante o dia e de a monitorização fetal poder ser aplicada desde o início do trabalho de parto.»
Delfim Guerreiro, chefe de serviço no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, onde a taxa de induções ronda os 20 por cento, avança outros motivos para a ausência de linhas de orientação para a indução do parto:
«O estabelecimento de critérios muito apertados para as induções poderia, de algum modo, desmotivar as grávidas de terem os seus partos na nossa instituição, nomeadamente aquelas grávidas com maiores recursos financeiros, e desmotivar também os médicos que as seguem, que se podiam passar de “armas e bagagens” para a clínica privada.»
A generalização desta prática é a consequência natural deste cenário, confirma Delfim Guerreiro. Ainda que «à custa de um aumento da taxa de cesarianas».
Texto de Maria João Amorim
Revista Pais & Filhos
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