1. Para ela: controlar o peso

Começa a ser um lugar comum, mas de facto hoje em dia todos falam dos problemas da obesidade e das múltiplas consequências que o excesso de peso tem para a saúde. Num estudo recente, realizado em 2112 mulheres grávidas, concluiu-se que no caso das que apresentavam um IMC (índice de massa corporal) aumentado, o tempo necessário para engravidar era o dobro do que as mulheres com peso normal precisavam para atingir esse objetivo. Já no caso das mulheres com peso demasiado baixo, esse tempo era 4 vezes superior.

Ou seja, o ideal é que as mulheres tentem ter uma dieta saudável e equilibrada, com um IMC entre 18,5 e 24,9 - os ganhos em saúde serão gerais e isso é algo que ajudará seguramente a optimizar a fertilidade.

2. Para ele: proteger os espermatozóides do calor

A utilização de roupas largas e de boxers em vez das clássicas cuecas “normais” é desde há muito um clássico nos conselhos de optimização da fertilidade. De facto, a temperatura ideal para que se realize a espermatogénese (formação dos espermatozóides) são os 35ºC, isto é, 2ºC abaixo da temperatura corporal normal - e por isso todos os hábitos que acabem por expor os testículos a temperaturas superiores serão inevitavelmente prejudiciais. Ou seja, vamos esquecer as saunas, o computador portátil ao colo e as roupas demasiado justas, pois precisamos de ter os espermatozóides ao seu melhor nível.

3. Para os dois: cuidado com o álcool

Há vários estudos que demonstram uma clara associação inversa entre o consumo de álcool e a fertilidade. Por exemplo, um estudo feito pela Ferticentro e pela Universidade de Aveiro em estudantes universitários antes e depois das semanas académicas de Aveiro e Coimbra encontrou uma diminuição estatisticamente significativa quer do número total de espermatozóides, quer da percentagem de espermatozoides normais entre os estudantes que consumiram maiores quantidades de álcool. O número de indivíduos com alterações no espermograma aumentou 7 vezes com a exposição ao consumo de álcool, existindo alguns casos com resultados verdadeiramente devastadores.

No caso das mulheres, um estudo sueco recente mostrou que as que bebem pelo menos duas bebidas alcoólicas por dia têm uma diminuição de pelo menos 60% da respetiva fertilidade. Além disso, não nos devemos esquecer dos enormes riscos para o bebé associados ao consumo de álcool durante a gravidez. Se está a tentar engravidar, é definitivo: não beba.

4. Para os dois: parar de fumar

No caso do homem, o consumo de tabaco está associado ao aumento da fragmentação do DNA dos espermatozóides. Estudos recentes mostraram que os casais em que o homem tem a fragmentação do DNA dos espermatozóides aumentada têm uma probabilidade de gravidez natural inferior a 2%.

Por outro lado, as mulheres fumadoras têm problemas de recetividade uterina, pois têm maior dificuldade em assegurar a criação de uma rede de vasos sanguíneos que permita fornecer ao embrião tudo aquilo de que este necessita para se desenvolver e crescer. A este fator acrescem os riscos do tabagismo durante a gravidez, amplamente reconhecidos e divulgados.

5. Para os dois: Atenção aos alimentos

São várias e muito conhecidas as associações entre alguns alimentos e a fertilidade. Nos últimos anos vários estudos têm sugerido novas associações, que quase sempre chegam às secções de curiosidades da imprensa generalista. Eis alguns exemplos:

  • Zinco (presente nas carnes vermelhas, mariscos, ostras e em alguns queijos): alguns estudos referem que o consumo deste elemento pode aumentar a fertilidade masculina pois por um lado aumenta a produção de testosterona e por outro ajuda a reparar as agressões produzidas aos espermatozóides por outros elementos. Na mulher a deficiência em zinco está associada ao risco de aborto espontâneo;
  • Alimentos biológicos: estão cada vez mais documentados os efeitos dos pesticidas sobre a fertilidade masculina, que podem ser extremamente significativos. Uma dieta baseada em produtos biológicos será seguramente mais saudável e conterá menos vestígios deste tipo de produtos;
  • Vitaminas do grupo B (legumes diversos, bananas, algumas carnes): associadas à promoção da ovulação e à produção de progesterona, uma hormona extremamente importante na manutenção da gravidez após a conceção;
  • Vitamina C (laranjas, pimentos, brócolos): promove a absorção de ferro e a produção da progesterona. Tem ainda efeito anti-oxidante;
  • Coenzima Q10 (cereais, frutos secos, peixe): vários testes encontraram associações claras entre o seu consumo e o aumento da fertilidade masculina e feminina;
  • Vitamina D (salmão, ostras): é essencial para a produção de hormonas sexuais, existindo estudos que mostram uma associação clara entre a respectiva deficiência e a infertilidade. Uma boa exposição solar (mesmo com os riscos que daí advêm) pode assegurar a manutenção dos níveis adequados desta vitamina;
  • Vitamina E (óleo e sementes de girassol, avelãs, amendoins): tem um potente efeito anti-oxidante, o que a torna sobretudo eficaz na fertilidade masculina.
  • Ácido fólico (fígado, lentilhas, feijão, espinafres): deve ser tomado por todas as mulheres que tentam engravidar pelo seu papel na prevenção de defeitos do tubo neural, mas estão também reportados benefícios na qualidade do esperma. Um estudo americano revelou que os homens com deficiência de folato apresentavam uma percentagem de espermatozóides normais 20% inferior aos que tinham níveis normais.

6. O dia certo

Um dos grandes motivos pelos quais alguns casais têm dificuldades em engravidar tem a ver com a chamada "abordagem despreocupada", em que as relações ocorrem de forma natural e sem grande planeamento.

Contudo, a natureza precisa que optimizemos um pouco o processo - e como nas mulheres com ciclos menstruais regulares a ovulação ocorre por volta do 14º dia, o ideal será que o casal tenha relações em dias alternados entre o 12º e o 18º dias. Naturalmente que se for entre o 10º e o 20º a margem de erro será menor, pelo que não haverá nada a perder em tentar também nesses dias.

Os testes de ovulação que se vendem nas farmácias poderão ser uma ferramenta útil para os casos de ciclos mais irregulares ou para os que gostam de fazer as coisas de uma forma mais programada. Há ainda o método da temperatura basal, que embora possa ser útil está a cair em desuso, dada a variabilidade existente e a dificuldade de identificar de forma rigorosa uma variação de temperatura que na maior parte das vezes é de apenas 0,5ºC.

A opção pelos dias alternados tem a ver com a necessidade de garantir a optimização da qualidade do esperma, pois por um lado as relações mais frequentes podem fazer com que a concentração de espermatozóides diminua e por outro tempos de abstinência mais prolongados provocam a diminuição da mobilidade do esperma.

7. Os lubrificantes

Alguns casais recorrem a lubrificantes vaginais, o que poderá causar problemas se contiverem agentes espermicidas ou não sejam feitos à base de água, pois isso pode diminuir a mobilidade dos espermatozóides.

Por Vladimiro Silva, Embriologista Clínico e Diretor do Laboratório de FIV da Ferticentro