A obesidade infantil é já chamada de uma das epidemias do nosso século e motiva grande preocupação. No entanto, no outro lado da moeda estão os pis angustiados porque o seu filho parece ser mais magro que todas as crianças da sua idade e dificilmente ganha peso. Calma. Muito provavelmente está tudo bem e trata-se de uma caraterística que o acompanhará pela vida fora.

 

Tudo pode começar após uma visita ao pediatra. Se, por acaso, a curva de percentil determina que a criança está no grupo do 5 ou do 10 no que respeita ao peso, a angústia instala-se. Por que motivo surgem estes dados? E será que está tudo bem?

 

Para combater a preocupação, é necessário, em primeiro lugar, perceber o que são os percentis. Tratam-se de fórmulas estatísticas, adotadas segundo indicações da Organização Mundial de Saúde, que ajudam os profissionais clínicos a perceber as características da criança e não o seu estado de saúde naquele momento.

 

Por exemplo, se no Boletim de Saúde o percentil do peso é o 10, tal significa que 90% das crianças têm um peso superior ao da criança. Ou seja, ela é mais magra que a maioria, mas isso está longe de querer dizer que está doente ou pouco desenvolvida.

 

Muito mais facilmente um pediatra se preocupa com indicadores que apontam para um excesso de peso pouco saudável do que na situação inversa.

 

Se o seu pequeno paciente mostra vitalidade, se atingiu os patamares de desenvolvimento físicos e mentais esperados para a sua idade e se estão afastadas todas as hipóteses de doença, muito provavelmente o médico limitar-se-á a, calmamente, apontar os percentis, por muito baixos que estejam na tabela.

 

Uma tarefa mais difícil pode ser acalmar os pais, especialmente se aos percentis mais pequenos se juntam dificuldades em alimentar a criança. Uma boa forma de o fazer é recorrer à ciência e recordar o passado. Como? Vamos ver em seguida.

 

 

Questão genética

 

Antes de mais, há que olhar para o historial de peso da família. Se pais e avós têm características físicas em que não domina o excesso de peso, é natural que a criança herde essas mesmas caraterísticas.

 

Se os mais novos vão buscar as manifestações genéticas familiares a nível, por exemplo, da altura, da cor da pele, olhos e cabelos e muitas outros sinais físicos e de personalidade, por que razão haveria o peso de ser diferente?

 

Como o uso de percentis pediátricos apenas se generalizou no nosso país há poucas décadas, ainda não é muito comum conseguir fazer-se a comparação entre os dados dos pais e dos seus filhos. Mas não é de espantar que, daqui para a frente, essas comparações comecem mesmo a acontecer e os adultos percebam que tinham percentis muito parecidos aos das crianças lá de casa.

 

Uma outra forma de estabelecer um paralelo é medir o Índice de Massa Corporal de mãe, pai e filhos. Se forem idênticos, não há muito que errar: eles são magros porque têm a quem sair.

 

 

Magrinhos de ontem e hoje

 

E já que estamos a falar de história da família, vale a pena também relembrar os hábitos alimentares do pai e da mãe quando tinham a mesma idade dos filhos. Muitos avós recordam a missão difícil que era dar um simples prato de sopa, ou as horas quase infinitas que demorava acabar uma refeição.

 

Muitos anos depois, é provável que as crianças apresentem comportamentos muito idênticos. E se os adultos, que “tão magrinhos e difíceis de comer” estão cá para contar a história, nada indica que exatamente o mesmo não se venha a passar com os filhos.

 

 

Maria Cristina Rodrigues