Tem apenas alguns metros quadrados mas, para ele, é o universo. Aprenda a decorar o quarto do seu filho.

Primeiro surge o berço, a luz de presença e os peluches macios em tons suaves entre o rosa e o azul.

Meses depois, as fraldas começam a dar lugar ao triciclo, aos brinquedos e, onde estava a alcofa proliferam agora os cestos e caixas com os jogos de mil peças. Com a escola surgem as primeiras obras de arte, expostas ao longo do quarto e, mais tarde, ao som das músicas do momento os posters começam a ganhar terreno, o pufe torna-se o elemento central e a placa «Proibido entrar» um requisito obrigatório.

Está a reconhecer o local? É isso mesmo, referimo-nos ao território do seu filho, o quarto. Uma verdadeira região autónoma dentro de um país que é a sua casa. Espaço vital para o desenvolvimento da criança, o quarto é o cenário das suas brincadeiras, dos seus sonhos e, como tal, reflexo puro do seu equilíbrio e bem-estar.

Aprenda a torná-lo um ambiente à altura das melhores energias. Guiados pelos conselhos práticos de Alexandre Saldanha da Gama, especialista em Feng Shui, ajudamo-la a decorar o quarto do seu filho com harmonia. Como ele merece...

Energias essenciais

Decorar um local, seja quarto ou sala, não se trata apenas de distribuir objetos pelo espaço disponível. De acordo com o Feng Shui, filosofia oriental, estamos rodeados por fluxos de energia suscetíveis de alteração pelo ambiente em que vivemos.

Embora invisível esta força energética influencia o nosso equilíbrio. Torná-la harmoniosa é, por isso, vital. Cada um possui uma energia própria que, segundo Alexandre Saldanha da Gama, «está relacionada com o ano em que se nasceu. Há determinadas pessoas que têm mais qualidades de água e gostam de cores suaves, por exemplo.»

Esta energia pode ainda ser analisada noutro prisma, ou seja, com base na etapa de vida atual. «De um modo geral, qualquer jovem tem uma energia que se ajusta mais às qualidades da energia árvore. Não tem a ver com a energia interior, mas com a fase de evolução, crescimento, expansão que vive», explica.

Embora se possa escolher o quarto segundo estas energias (considerando que árvore, por exemplo, equivale à orientação nascente) cada casa é um caso. Por isso, é no interior da divisão que melhor podemos aplicar as regras gerais do Feng Shui.

A peça principal

Um dos pontos de partida para a decoração do quarto é, sem dúvida, a porta. Canal dinâmico por excelência, esta representa a entrada de energia naquele espaço.

O percurso dos fluxos estabelece-se entre a porta e a janela. Por isso, manter a cama afastada deste canal é importante para garantir uma boa noite de sono.

«Interessa que a criança esteja numa zona mais recolhida, mas de maneira a que quando olha para o resto do quarto consiga ter visão sobre a porta», esclarece. A cama é a grande protagonista. Nas palavras do especialista em Feng Shui, esta «é a carapaça da tartaruga. É aí que a criança vai buscar todo conforto e segurança que o quarto lhe transmite».

Com preferência para os materiais naturais como os tecidos e a madeira (o metal é considerado «frio») e uma estrutura robusta, a cama deve incluir uma cabeceira ou, se encostada à parede, almofadas na zona lateral para reforçar a proteção. Qualquer modelo é aceite, contudo o beliche tem, segundo esta filosofia, menos vantagens.

E Alexandre Saldanha da Gama explica-nos porquê. «Ao dormir dá-se o fluxo direto entre a terra e o céu. Se uma das crianças tiver uma perturbação no sono mais facilmente incomodará a outra, estando no mesmo fluxo.» Em quartos partilhados, colocar duas camas paralelamente é uma boa alternativa.

Território demarcado

Se o quarto da criança é um mundo, faz sentido dividi-lo por regiões. Tendo como base as atividades do seu filho defina as áreas: uma de descanso, outra de estudo e uma terceira para brincar. Apesar de próximas, estas devem ser distintas. Mas será possível delimitar três zonas num espaço tão reduzido?

Claro, defende o especialista. «Basta colocar um tapete diferente no chão. Pôr um tapete pequeno junto à cama, outro na zona da secretária e ainda outro a meio do quarto onde está a zona polivalente para brincar.» A iluminação também deve ajustar-se ao momento.

Uma luz de presença junto à cama, um candeeiro sobre a secretária e boa iluminação geral são vitais. «Se está a trabalhar faz sentido ter o quarto quase às escuras e boa iluminação na secretária, para que se foque no que está sobre a mesa», destaca. Ainda no que toca a trabalho, acredita-se que ter a secretária contra a parede gera frustração, sendo preferível pô-la de modo a que a criança fique de frente para a zona ativa do quarto, mantendo os horizontes alargados.

A eletrónica é também pouco recomendável devido ao campo eletromagnético que constitui. Se não for possível relegar o computador para outra divisão, ponha-o o mais longe possível da cama e desligue-o à noite.

Quem manda aqui?

Ao contrário dos adultos, apreciadores de ambientes neutros, as crianças convivem bem com cores vivas.

O dilema entre rosa e azul é apenas cultural, por isso, na hora de decorar o quarto aposte em tons alegres, nomeadamente amarelos, laranjas, verdes ou azuis, que estimulam o desenvolvimento da criança.

Se é verdade o poder de decisão cabe aos pais, também é certo que os filhos também têm uma palavra a dizer. Eles são mais sensíveis ao que os rodeia, por isso, a sua opinião merece atenção. Além disso convém não esquecer que aí será o seu cantinho e, como tal, este deve ter flexibilidade para dar o seu cunho pessoal.

«O quarto de uma criança é o seu território, onde ela deve ter os desenhos em exposição, para sentir que damos valor ao que ela cria. É uma forma de a estimular», afirma Alexandre Saldanha da Gama. À medida que cresce, a decoração do quarto deve acompanhá-la. Gradualmente, a mesa pequena dá lugar à secretária, enquanto a exposição de desenhos é substituída por posters de surf ou cinema. E não há razão para alarme. O seu filho está a apenas a crescer. E o mundo dele também.

Feng Shui trocado em miúdos para pôr em prática no quarto do seu filho

Orientação
Evite colocar a cama no eixo da porta ou entre esta e a janela. Em quartos partilhados, disponha as camas paralelamente.

Triângulo vital
Divida o quarto em três zonas específicas: descanso, estudo e brincadeiras.

Matéria-prima
Dê preferência a fibras naturais (lã, algodão), madeira e cores vivas. Plástico, fibras sintéticas, vidro e metal podem ser usados pontualmente.

Más energias

Evite colocar televisão, computador ou consolas no quarto. Caso não haja alternativa,
certifique-se de que estão desligados durante a noite.

Boas energias
Autorize a criança a decorar o quarto com fotos, imagens de desportos favoritos ou desenhos da sua autoria.

Texto: Manuela Vasconcelos