Todos gostamos de ser elogiados. Faz-nos acreditar mais em nós mesmos, transmite-nos uma sensação de plenitude e reforça os laços que temos com a pessoa, ou as pessoas, que nos têm em tão boa conta.

 

As crianças não são diferentes. Ao elogiá-las por qualquer atitude que nos pareceu positiva, demonstramos que apreciamos as suas capacidades, a forma como as conseguem colocar em prática e os princípios e valores que estão subjacentes.

 

Receber elogios, desde que sejam honestos e não apenas palavras simpáticas para acalmar uma birra ou fazê-las obedecer, ajuda as crianças a crescer. De que modo?

 

 

Dosear o entusiamo

 

Uma criança que é exaltada até à exaustão perante toda e qualquer atitude, toda e qualquer frase, toda e qualquer brincadeira, não vai beneficiar do poder de um elogio dito na hora certa e perante o acontecimento certo.

 

Se, ao ver um desenho igual a 50 outros desenhos, os pais parecem ficar em êxtase, todo esse entusiasmo diz duas coisas à criança. Primeira, não vale a pena esforçar-se mais e evoluir, pois o que tem estado a fazer é mais do que suficiente. Segunda, desenhar surge como uma actividade normal e, ao ser elogiada em excesso, coloca a fasquia alta demais em relação ao restante quotidiano.

 

Há, pois, que reservar os elogios para alturas merecedoras. Se, em vez de elogiar todos os desenhos, os adultos realçarem o trabalho da criança de cada vez que ela mostra sinais de uma nova conquista – e a boa notícia é que isso acontece todos os dias – a mensagem transmitida continua a ser positiva, sem nunca cair na banalidade.

 

 

Elogios e elogios

 

Há também de ter em atenção que nem todos os louvores são “lidos” pelas crianças da mesma maneira. A forma como se elogia pode fazer toda a diferença e obter resultados distintos.

 

Por outro lado, aplicar um rótulo aparentemente positivo como “és tão inteligentes” pode ter resultados surpreendentes e não muito desejáveis. Tudo porque a criança arrisca ficar colado ao que acha que os outros pensam dela, nunca arriscando comportamentos e atitudes diferentes.

 

A psicóloga norte-americana Carol Dweck, da Universidade de Standford, realizou uma pesquisa em que ficou caro de que forma dois tipos de frases diferentes  - mas usadas com o mesmo propósito – obtiveram desfechos desiguais.

 

 

Os “inteligentes e os esforçados”

 

Para o estudo, um grupo de 400 alunos dos primeiros anos de escolaridade realizaram testes para determinação do Quociente de Inteligência. No final, metade foi elogiada pela sua inteligência e a outra metade pelo esforço e concentração usados na obtenção dos resultados.

 

Ou seja, os alunos foram divididos entre os “inteligentes” e os “esforçados”. Seguiram-se novos testes e foi verificado que os elogiados como “esforçados” obtinham melhores resultados que os elogiados como “inteligentes”.

 

Perante estes factos, Carol Dweck defende que os elogios devem ser sempre destinados não à criança em si mesma, mas sim às suas capacidades e empenhamento. “Os alunos conotado como inteligentes tendem a fugir de desafios que possam colocar em risco essa classificação. Já os esforçados não temem desafios, já que sabem que é o seu esforço que é valorizado”, conclui a investigadora.

 

 

Maria C. Rodrigues