Segundo um estudo realizado pela APEME para um banco português, cerca de 32 por cento das crianças portuguesas já se preocupa em poupar e a maioria tem conta no banco. 

Num país onde o endividamento é notícia de primeira página, estes dados são uma lufada de ar fresco.

Mas será uma conta bancária precoce suficiente para garantir uma relação saudável com o dinheiro ao longo da vida? O segredo está em aprender cedo o seu valor. Em tempos de crise e de austeridade económica, mas também em todos os outros, esta questão reverte-se da maior importância. Eis alguns passos simples que pode pôr em prática desde já.

O tesouro

Um baú de moedas infinito. É assim que a maioria das crianças imagina o dinheiro, o que também explica porque uma ida às compras se pode tornar um peditório interminável. Antes dos cinco anos é difícil perceber as regras, por isso, depois de dizer ao seu filho que não pode comprar algo, não se multiplique em teorias sobre o dinheiro. Mantenha-se firme na palavra não para que ele interiorize outra noção vital, a necessidade de estabelecer limites.

Já sei contar

É a partir dos seis anos que o dinheiro se torna mais concreto. Nesta fase, a criança aprende operações, conceitos como o número e quantidade ganham forma. Aproveite situações do dia a dia para mostrar ao seu filho o valor dinheiro. Evite noções complexas e use casos práticos como quanto custou o pão (e o que sobrou) ou peça-lhe ajuda para ler e comparar preços de produtos.

Onde para o dinheiro?

Se a criança pergunta aos pais quantos euros têm no banco, a resposta que procura não é o rendimento familiar (algo abstrato) mas sim se irá receber um jogo ou qualquer outra coisa que ambiciona. Distinguir a necessidade do desejo é importante para que saiba definir prioridades. Explique também, por meio de brincadeiras, noções como: ganhar, gastar, poupar, emprestar e dar dinheiro.

A semanada

Segundo os especialistas, a primeira semanada deve coincidir com o início da escola, embora nesta fase deva ter um valor simbólico, e a mesada surgir aos 12 ou 13 anos.

Para definir o valor semanal ou mensal considere as necessidades da criança. Se vai comprar lanche na escola, por exemplo. Incentive-a a guardar de dez por cento da semanada ou mesada no mealheiro.

Primeiro salário

Recompensar monetariamente as tarefas domésticas? Os psicólogos são unânimes. A criança deve perceber que há gestos que fazem parte da vida familiar, logo são gratuitos. Ajudar a pôr a mesa e manter o quarto arrumado são missões que a ajudam a assumir responsabilidades. Mais tarde, na adolescência, tarefas pontuais podem ser remuneradas, como lavar o carro ou fazer babysitting.

Ida ao banco

São muitos os pais que, após o nascimento, abrem uma conta em nome do filho. Até aos nove anos, altura em que interioriza o que é guardar o dinheiro no banco, é mais importante para a criança aprender a gerir o que tem no bolso. Apenas na maioridade poderá movimentar a conta bancária livremente, embora muitos bancos disponibilizem já o cartão multibanco a partir dos 16 anos para contas à ordem com um limite pré-definido.


Economia de bolso

Dicas para facilitar o diálogo em euros:

  •  Adapte o discurso à idade da criança: use linguagem positiva e evite a crítica.
  • Dê o exemplo. É ao observá-lo que a criança tem o primeiro contacto com o dinheiro.
  • Deixe o seu filho aprender com os próprios erros.
  • Evite associar o dinheiro a conceitos de moral.
  • Não esconda o desejo de ter algo que não pode. Assim o seu filho perceberá que os pais, por vezes, também têm de dizer não a si próprios.

Texto: Manuela Vasconcelos