Antes de o terem nos braços, já o vêem correr, já lhe ouvem os risos, já o acompanham à escola, já ouvem as suas palavras e todas as conversas que daí nascerão, de intimidade e partilha. Mas quando a criança já anda, corre, entra na creche, e as palavras não se fazem ouvir, começam as interrogações… Haverá algum problema? Os pais começam a olhar para outras crianças, os filhos dos amigos, os colegas da creche. Se já todos falam, o que se passará com o nosso? Seguem-se os conselhos de uma amiga, de uma avó, de uma educadora, ora para se preocuparem ora para descontraírem, e os pais embarcam frequentemente numa viagem de angústias.

 

Importa em primeiro lugar recorrer ao pediatra, expressar as preocupações e insistir num despiste de eventuais problemas. É esperado que uma criança diga algumas palavras perceptíveis com 1 ano e que faça frases simples aos 2. Se não o faz, é necessário interrogar o porquê. Ouvirá bem ou estaremos perante um possível défice auditivo? Haverá história de atraso de linguagem na família que possa sugerir uma Perturbação Específica do Desenvolvimento da Linguagem? Como se encontram as restantes áreas do desenvolvimento? Existirão outras lacunas que traduzam um atraso global do desenvolvimento? E apesar de não falar, a criança mostra compreender o que lhe é dito? Cumpre instruções e identifica o que a rodeia?

 

As dificuldades a nível da expressão poderão eventualmente estar associadas a dificuldades na compreensão. Importa também perceber se a criança, apesar de não falar, sabe como comunicar. A ausência ou escassez de oralidade é muitas vezes compensada pelo recurso a gestos comunicativos, tais como o apontar, o sim e o não com a cabeça, o adeus e muitos outros, acompanhados por um contato visual frequente e um rosto muito expressivo. Se esta comunicação não-verbal for escassa e a criança se limitar a gritar, a chorar ou a levar o adulto pela mão para pedir o que quer, será essencial fazer um despiste de uma Perturbação do Espectro do Autismo. Naturalmente que existem intervalos normativos e que a “demora” na linguagem poderá traduzir apenas um ritmo próprio.

 

Num equilíbrio entre preocupação e serenidade, importa assegurar que a criança não tem entraves ao seu desenvolvimento pleno e que, se os tiver, sejam identificados o mais rapidamente possível e se necessário, serem alvo de avaliação especializada e de intervenção terapêutica.

Uma estimulação precoce dita muitas vezes o rumo e marca a diferença. Importa não perder demasiado tempo numa idade extremamente recetiva aos estímulos do envolvimento. Numa parceria de confiança com o pediatra ou neuropediatra assentará o desenhar do futuro, onde pais e profissionais de intervenção precoce poderão acertar o passo e traçar diariamente novas metas e novas vitórias para a criança.

 

Carla Cintrão Almeida

 

Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação

carla.almeida@pin.com.pt