É regra, na geração cujo tempo termina, maldizer os instrumentos da gente que amadurece. Na minha opinião, quem resiste ao vento que sopra, cai destronado. Lembro-me das horas passadas na biblioteca à procura de uma referência que me iluminasse. A leitura do texto demorava uma fração do tempo gasto na sua busca. A comunicação com um colega estrangeiro tinha a lentidão da carroça, e dizia-se que o resto do mundo era “lá fora”, resumidos que estávamos a uma fatia fininha do bolo da Península Ibérica.

Ainda temos dedos para contar os anos em que tudo mudou. As novas tecnologias eram vistas como ficção numa idade em que já era adulto. James Bond com uma caneta que fotografava, ou um telefone que enviava mensagens, constituía, na memória dos ainda vivos, instrumento do mundo da fantasia.

Creio que quem cresceu usando canetas de tinta permanente, olha com receio para o chão tecnológico, com medo do que pisa, temendo que seja areia movediça de apetite voraz, ansioso de engolir quem é grisalho. Desconfia que parte do poder lhe tenha sido retirada, numa revolução em que não participou, e cujo controlo lhe escapa. Pela minha parte navego sem receio, transportado pelas novas correntes, enfunado por ventos recentes. A tecnologia não substitui o conhecimento feito de informação, experiência e reflexão. Apenas o primeiro fator foi, por assim dizer, democratizado, os outros dois requerem tempo e maturidade.

Tem sido esta a visão que impulsiona a equipa que dirijo, e que temos aplicado na intervenção à distância, usando a internet para aproximar técnicos e famílias, trazendo à nossa beira quem, pela distância, se encontra excluído, permitindo com um gesto breve do dedo, colocar uma questão ou partilhar uma dor.

As novas tecnologias não separam novos dos velhos, antes aproximam quem padece, de quem tem coração para ajudar, e quem carece, de quem se dispõe a abraçar a humanidade que a todos liga. Usada como a faca que corta a amarra, e que prende quem nasceu desfavorecido, a internet permite o acesso à informação por todos os cidadãos, e oferece a oportunidade de colocar a excelência e o conhecimento ao serviço da comunidade. As novas tecnologias transportam-nos para lá do cabo da Boa Esperança, tornando familiares culturas antes estranhas, fazendo de cada um de nós cidadãos do mundo. Sentir a responsabilidade de um perante todos é o grande desafio que, como todos os que valem a pena, é também uma honrosa missão. Pela nossa parte aceitamos o desafio de utilizar os novos meios de comunicação para encurtar as distâncias e, dessa forma, tornar maiores os homens.

Texto: PIN