Esta é a explicação comum, quando se fala da relação de avós e netos. Mas são muito mais do que isso. Quem teve a sorte de conviver com os avós durante a infância sabe bem a importância desta afirmação. Quem não teve, certamente sentirá esse vazio.

Costuma dizer-se que os pais educam e os avós mimam. Apesar de ter algum fundo de verdade, o conhecimento dos avós, a experiência de vida, passada aos netos, tem um impacto significativo na formação das crianças e também na vida dos avós.

António e Mariana tomam conta dos três netos, todos os dias, das 17h30 até à hora do jantar. Quando necessário, dão-lhes banho, jantar e deixam-nos prontos para dormir. A tarefa nem sempre é fácil.

“Quem manda cá em casa somos nós mas às vezes é complicado. Há dias em que chegam bem dispostos e tudo corre bem mas noutros dias quando um está mais birrento parece que ficam todos mal dispostos”, assegura a avó, Mariana. No entanto, adianta, “quando eles não estão cá parece que falta qualquer coisa, a casa fica vazia. Já estamos habituados e já sentimos a falta quando eles não estão”.

O avô, António, diz, a sorrir, que sem os netos “parecíamos dois tontos a olhar um para o outro”. A avó, Mariana concorda: “Se estivéssemos sempre sozinhos era mais complicado. Tínhamos de sair de casa para nos distrairmos. A primeira neta já nasceu há sete anos, já são sete anos de animação, não dá para imaginar os dias sem eles”.

António sabe bem a importância da ajuda que dão à filha nesta tarefa. “Nem quero pensar em como seria se os pais deles não tivessem a nossa ajuda. Porque não é só ir buscar à escola. Estamos disponíveis para eles 24 horas por dia, se adoecem ficam nos avós, se precisam de ajuda em casa, qualquer coisa. Felizmente temos tempo”, afirma.

“Durante o dia preparamos tudo, faço a lida da casa, tenho de adiantar tudo até à hora de os ir buscar, porque depois não temos tempo para mais nada. A rotina é sempre a mesma: primeiro vamos buscar a mais velha à escola e depois os mais novos à creche”, esclarece a avó, Mariana.

“Quando chegamos a casa preparamos o lanche. Um quer uma coisa, outro quer outra. O mais pequeno quer tudo o que as irmãs querem mas depois não quer nada. A do meio come sempre a mesma coisa: pão com nutella. Todas as tardes temos de ter disponível iogurtes, pão, croissants, sumos, papas, leite, nutella”, especifica a avó da Inês (sete anos), Joana (três anos) e Gonçalo (um ano).

Depois do lanche, é preciso ajudar nos trabalhos da escola e animar os netos até à hora da chegada dos pais.

“Eles têm personalidades diferentes: a mais velha já compreende bem as coisas e o seu estado de espírito depende de como lhe correu o dia na escola, se correu bem vem bem disposta e não refila (porque é um bocado refilona e teimosa) e é muito meiga; a do meio está numa fase complicada em que não sabe bem o que quer, tem um feitio muito especial, é teimosa e às vezes só faz o que quer; o mais novo já começa a sair da casca. Nem sempre é fácil”, confessa a avó, Mariana.

A Inês faz os trabalhos de casa com a ajuda do avô, que teve de voltar a aprender matemática e outras disciplinas para garantir que a neta não erra e compreende os exercícios.

“Gosto de vir para casa dos avós porque faço desenhos, faço os trabalhos. O avô ajuda-me a fazer os mais difíceis”, diz Inês (sete anos).

Enquanto isso, a avó dedica-se aos mais novos que revolucionam a casa assim que lá entram. “A desarrumação total tomou conta desta casa. Só quando eles vão embora podemos dar um jeito. Enquanto cá estão está sempre tudo espalhado, cheio de brinquedos”, diz o avô.

A sala transforma-se num espaço de brincadeira com mesas e cadeiras feitas à medida dos mais novos e na televisão só dá desenhos animados. Novelas e outros programas só são permitidos quando as crianças saem. Ao lado do rádio há cd’s de fado e música alentejana mas o que toca sempre são as músicas infantis que servem para entreter os mais novos. E todos dançam e cantam para passar o tempo.

Os avós deixam os netos andar à vontade. Podem sujar-se desde que não se magoem. Muitas vezes o estendal dos avós está cheio de roupa de criança. “O importante é que estejam entretidos, que se divirtam, sempre em segurança”, assegura o avô, António.

Para a Inês, a casa dos avós permite outras brincadeiras: “Aqui posso saltar à corda e na minha casa não posso porque vivo num prédio”. Já a Joana valoriza o recheio do lanche. “Os avós fazem sempre carcaça com nutella”. O lanche tem um sabor diferente em casa dos avós. E é aqui que os netos encontram muitas vezes um espaço de refúgio. “Às vezes durmo cá e gosto muito porque tenho mais sossego. Não tenho de ouvir os meus manos a acordar cedo e durmo com a avó”, lembra a Inês.

Desde que nasceu a primeira neta as rotinas do casal mudaram e as tarefas foram-se intensificando com o nascimento dos outros dois.  “Agora é uma rotina, fomo-nos habituando conforme eles foram nascendo. Nós é que tivemos de nos adaptar às crianças”, diz o avô António. Para este casal de avós, apesar do esforço, os netos ajudam a dinamizar o lar.

“Fui criado com 4 irmãos, a minha mulher tem mais 7 irmãos, por isso estamos mais que habituados a estas confusões. Para mim isto é uma alegria”

Depois de cuidarem das filhas, já com mais de 30 anos, os avós voltaram às fraldas, papas e cuidados infantis. Não se dizem cansados, pelo contrário. As crianças enchem-lhes a casa.