Só em Portugal estima-se que mais de 80 mil crianças sofram de enurese noturna. Numa turma do primeiro ciclo, por exemplo, cerca de 5 crianças têm o problema. No caso de já ter havido historial de enurese na família, a probabilidade da criança vir a ser enurética é maior.

Estas crianças podem apresentar sinais de baixa autoestima, ansiedade, tristeza e depressão. Devido às noites mal dormidas, têm dificuldades de concentração na sala de aula, o que afeta o seu desempenho escolar. A longo prazo pode causar disfunções psicológicas e psiquiátricas. Mas também mexe (e muito) com o ambiente familiar.

Não é só a criança, que sofre por causa do problema. As noites mal dormidas, a muda constante de lençóis e a preocupação com o bem-estar da criança geram grande stress na família. E nem sempre esta consegue lidar com a situação de forma paciente. É por esta razão que deve falar com o seu pediatra.

Porque não deve culpar a criança?

A enurese está associada a causas fisiológicas, ou psicológicas.

Nas primeiras poderá haver aumento da produção de urina por défice hormonal, isto é, uma deficiente produção noturna de uma hormona chamada vasopressina, que regula a produção de chichi. A bexiga pode ser demasiado pequena para a quantidade de urina produzida, ou a criança pode mesmo ser incapaz de acordar perante o estímulo de bexiga cheia.As segundas podem causar a chamada enurese noturna secundária e podem surgir por situações que causam desconforto, ou stress na criança, como o nascimento de um irmão, uma morte na família, o divórcio dos pais, entre outros.

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Como vê, a enurese é um problema que ultrapassa a criança. Se o seu filho ainda molha a cama, não ralhe, não castigue, não penalize. Ele não tem culpa! Fale de imediato com o seu pediatra sobre o problema. Ele saberá ajudar o seu filho/a, encontrando o tratamento mais adequado.

As férias estão à porta, o que fazer?

Durante as férias, as oportunidades da criança poder ficar a dormir em ambientes diferentes do seu quarto familiar, aumentam consideravelmente. Pela vergonha que sente e o medo de ser descoberta, com frequência é a própria criança que recusa esses convites.

É importante assegurar que a criança se sinta segura e receba um ambiente compreensivo por parte de quem a convida. Os pais dos amigos devem ser alertados para este facto e discretamente devem ser tomados cuidados de proteção da cama, com a colocação de resguardos. Pode, em determinadas circunstâncias e a título excepcional, estar indicado acordar a criança durante a noite para fazer chichi.

Os cuidados a ter em acampamentos, ou colónias de férias são semelhantes, devendo a família falar previamente com o professor ou monitor responsável pela criança, para serem combinadas estratégias adequadas.

É professor ou agente educativo?

Por esta altura e tendo já conhecimento do número de crianças que sofrem de enurese em Portugal, é bem possível que esteja a ter contacto diário com algumas delas, mesmo sem saber disso. Se trabalha com crianças do primeiro ciclo, saiba que pode ajudar e muito. Quer saber como?

Primeiro informe-se sobre a Enurese Noturna: o que é e como pode afetar a criança. Consulte o site www.chichinacama.pt. Para além de encontrar muita informação sobre este tema, construímos de raiz uma página inteiramente dedicada aos professores e agentes educativos. Não sabendo quem são as crianças que podem sofrer do problema, divulgue esta informação junto de todos os pais.

Desta forma, as famílias afetadas ficarão mais informadas sobre como e onde poderão procurar ajuda para os seus filhos. Fale-lhes do site. Temos muita informação para os pais e estratégias para aprenderem a lidar com o problema.

É importante respeitar a privacidade da criança que sofre de enurese. Os colegas não precisam saber. Se a situação, por algum motivo se tornar pública na escola, não permita que as outras crianças ridicularizem, humilhem ou estigmatizem a criança enurética. Suporte a criança. O apoio de um adulto compreensivo é muito importante.

Em atividades externas que envolvam dormidas fora, como acampamentos, passeios, etc., mostre-se receptivo/a para que os pais possam pedir a sua ajuda no caso de terem um filho enurético que precise de apoio durante a noite. Com um adulto que o ajude se necessário, a criança não terá que deixar de participar em atividades que envolvam dormir fora.

Um artigo de Marta Janeiro, Médica Especialista em Cirurgia Pediátrica no Hospital Santa Maria