Todas as crianças gostam de fazer perguntas, é um facto. Mas há questões que colocam os pais numa posição periclitante. E um dos temas mais desconfortáveis é também um clássico da infância: “como nascem os bebés?”

 

Por muito que se engula em seco, não há como fugir a dar resposta e isto por duas grandes razões. A primeira é que a criança vai continuar a questionar até ver a curiosidade satisfeita. A segunda é que cabe aos pais controlarem a quantidade e a qualidade da informação que ela recebe. Especialmente num ponto tão sensível.

 

 

Barrigas e bebés

 

Tal como acontece com quase tudo, as crianças despertam para este assunto através das experiências quotidianas. Assim, se alguém próximo está à espera de bebé – pode ser a mãe, uma tia ou uma amiga da família – nada mais natural que tentar saber o que aconteceu.

 

Então surgem as perguntas, habitualmente em rápida sucessão: “como é que o bebé entrou lá para dentro?”, “o que é que ele está a fazer?”, “como é que ele vai sair?” ou ainda “como é que ele saiu?”, são algumas das mais comuns.

 

Há muito que a cegonha que trazia os bebés de Paris, ou a couve que no interior albergava um menino perderam o prazo de validade. Mas também não é confortável – nem sequer desejável – explicar a uma criança todos os pormenores. Então, como fazer?

 

 

Idades de compreensão

 

A idade da criança é um bom ponto de partida para abordar a questão. O tipo de resposta deve ter em conta a maturidade e os diferentes níveis de compreensão. Uma explicação simples, que satisfaz perfeitamente aos três anos, já vai despertar dúvidas aos cinco anos e incredulidade daí para a frente. Até porque as crianças falam entre si destes assuntos e se tiverem o conhecimento correto, tanto melhor.

 

Existem três estratégias indispensáveis, seja em que idade for. Espere pelas perguntas, não responda a mais do que ela está a perguntar e seja honesto. Se optar inicialmente por um mito ou fábula, a confiança que a criança deposita em si ficará minada quando ela conhecer finalmente a verdade.

 

 

Informação doseada

 

As crianças pequenas não têm capacidade para apreender as complexidades da conceção, gravidez e parto. Assim, se ela pergunta “como nascem os bebés?” é possível perceber em que patamar está devolvendo a pergunta com um: “como é que achas que é?”. Conforme o que ela responder, assim se vai corrigindo e esclarecendo.

 

Outra técnica é usar a história da família, e do próprio nascimento da criança e dos eventuais irmãos, para explicar como o pai e a mãe se conheceram, se apaixonaram, decidiram ter um bebé e o que fizeram para o conseguir.

 

Os termos a usar também variam com a idade da criança. As mais pequenas estão familiarizadas com palavras como “pilinha”, “pipi” ou “semente”, que são de grande ajuda para esclarecer os mistérios da conceção.

 

Já para uma criança que se prepare para entrar para o Primeiro Ciclo, por exemplo, expressões corretas, tais como “útero”, são perfeitamente aceitáveis. Até porque, mais tarde ou mais cedo, ela vai tomar contacto com o aparelho reprodutivo, na disciplina de Estudo do Meio.

 

Com tranquilidade Se, mesmo respirando fundo, esta conversa continua a ser difícil, é importante que os pais se lembrem que os temas ligados à reprodução não têm nenhuma “carga” especial para as crianças.

 

Ou seja, elas perguntam porque querem conhecer o processo e a mecânica e, especialmente se forem muito novas, estão longe de os associar a sentimentos adultos como o desejo e a atração sexuais.

 

Pelo contrário, se a criança sentir que este é um tema que causa ansiedade ou desconforto, vai começar a perguntar-se a razão e a curiosidade natural pode dar origem a sentimentos indesejáveis de vergonha e embaraço. E isso não a vai ajudar, nem aos pais.

 

Vale assim a pena mostrar calma e ser direto nas explicações, independentemente da idade da criança e do nível de complexidade que achar mais adequado para explicar como nascem os bebés.

 

 

Maria Cristina Rodrigues