Este processo é, simultaneamente, comum (todos vivemos separações e perdas) e único, uma vez que cada perda tem um significado para cada pessoa, tendo, também, em consideração a fase de desenvolvimento em que se encontra (Barbosa, 2010; Melo, 2004). Apesar de o tema da morte ser muitas vezes afastado ou não abordado com crianças ou jovens, também eles, tal como os adultos, vivem processos de luto.

Pode pensar-se que as crianças não compreendem nem sofrem pelo impacto causado por uma perda ou que se as afastarmos dos rituais funerários estão protegidas da dor e do sofrimento. Contudo, este afastamento pode levar a que as crianças e jovens cresçam sem enquadrar a morte e o luto no seu desenvolvimento. Além da morte, há uma variedade de perdas que as crianças e jovens podem experienciar como, por exemplo, a perda de animais, separações causadas pelo divórcio ou deslocalizações dos pais ou fim de relacionamentos. Todas as perdas geram dor. Tal como os adultos, quando em luto, as crianças podem manifestar saudades e desejo de reencontrar a pessoa significativa que perderam, tristeza, apatia ou maior ansiedade perante o tema da morte ou de separação de pessoas que lhe são próximas (Andrade & Barbosa, 2010).

Especificidades do luto infantil

A forma como as crianças vivem e expressam o luto é diferente consoante a fase de desenvolvimento em que se encontram.

A maior inexperiência face a uma situação de perda e o menor entendimento de o que é a morte e porque acontece às pessoas de quem se gosta, podem contribuir para uma maior dificuldade de ajustamento e exigem um papel importante por parte dos adultos. As crianças estão dependentes dos adultos para compreender o que está a acontecer à sua volta e, por isso, é importante fornecer apoio e cuidado consistentes, durante todo o processo de luto, dando espaço para a formulação de perguntas e para a expressão de emoções, tão naturais quando perdemos alguém ou algo de que(m) gostamos, como a tristeza, a zanga ou mesmo a culpa.

Como explicar a morte às crianças?

Muitas vezes, as explicações dadas às crianças são vagas e confusas. Muitas vezes, não sabemos que palavras utilizar para comunicar a morte e confortar quem sofre. Utilizamos eufemismos de forma a tentar proteger as crianças do impacto da perda de alguém significativo. Não antecipamos, como adultos, que para uma criança a expressão “perder a pessoa” ou “está a dormir para sempre” pode ser interpretado literalmente e desenvolver a crença de que a pessoa pode ser encontrada ou desenvolver medos relativamente a adormecer. As explicações dadas, no momento e lugar adequados (idealmente, no seio familiar), devem ser simples e honestas, com detalhes adequados ao nível de desenvolvimento emocional e cognitivo da criança e aos contextos cultural, educacional, familiar em que ela está inserida (Andrade & Barbosa, 2010).

Como exemplo, algumas formas simples de conversar sobre a morte com as crianças:

  • A morte é comum a todos os seres vivos. Mesmo as pessoas de quem gostamos morrem e quando acontece não permite que elas voltem como eram para junto de nós.
  • Quando uma pessoa morre já não sente nada, não respira e o seu coração pára de bater.
  • Normalmente, quando uma pessoa morre faz-se uma cerimónia chamada funeral. As pessoas que a conheciam vão para se despedirem dela e para recordar o que foi a sua vida.
  • É natural ficarmos tristes e pensarmos na pessoa que morreu muitas vezes, principalmente quando gostamos muito dela.
  • Quando alguém de quem gostamos morre, pode ser difícil fazer as mesmas coisas como brincar ou ir à escola.

Maria Inês Galvão

Estagiária profissional de Psicologia Clínica

www.psinove.com