Falar de luto, e da morte, é quase desenhar arco-íris sem cores…mas não será isso difícil por não sabermos ter essa conversa connosco próprios?

 

Enquanto adultos acreditamos que educar bem as crianças é fazê-las acontecer na alegria e esperança, é incentivar, elogiar, abraçar e protegê-las de todas as experiências dolorosas, como a perda de quem amam. Mas esquecemo-nos, tantas vezes, como estas experiências de perda pertencem ao nosso caminho e de como, não controlando a extensão das nossas vidas, muito podemos fazer sobre a largura e profundidade delas.

 

Ajudar a criança e o jovem a ser capaz de compreender a perda (como na morte) é semear com ela competências para viver de forma adequada as emoções e pensamentos que advêm nos momentos mais dolorosos, sabendo ultrapassar esses estádios e a participar na vida com vontade. A verdade é esta: apesar de a infância e juventude parecerem incompatíveis com a dor de uma ausência infinita, as crianças e jovens não estão apenas a preparar-se para a vida mas a vivê-la.

 

Será saudável a criança que se conheceu (e reconheceu a segurança dos outros) em situações de alegria e perda ou a que, de tão escondida que andou, se imagina incapaz de aguentar a ausência do colo?

 

Se as crianças e jovens testemunham muitas mortes, sejam elas ficcionais (cinema, televisão, livros) ou concretas (significativas ou impessoais), evitar o assunto é um exercício supérfluo. Depende de nós, adultos, o desenho que lhes permitimos construir sobre a perda, considerando a sua fase de desenvolvimento. Por isso, os pais/família devem aproveitar todas as oportunidades, que surjam no dia-a-dia, para ensinar os conceitos básicos da morte e do sofrimento (ex.: perda de um animal, a doença, as mudanças da vida da família são oportunidades óptimas para falar da vida e convidar as crianças a pensar em voz alta). Alimentar segredos e tabus é guardar espaço para medos inquietantes, cenários imaginados, perguntas acumuladas e histórias incompletas… E o perigo do incompleto, ou fugidio, é bem maior do que o “perigo” de chorar dentro de um abraço.

 

Fale-lhes com amor, do amor sentido, use e abuse da memória e do que guardam além dos cinco sentidos. Fale com verdade, acompanhando o ritmo das suas perguntas e permitindo a sua participação nos acontecimentos, antecipando o que podem sentir e encontrar (ex.: como num funeral). Clarifique a ausência de culpa, a impossibilidade de controlar o que aconteceu e evite incertezas (ex: dizer que foi fazer uma longa viagem é deixar em aberto a possibilidade de regressar).

 

O luto é um processo de adaptação, mas não significa ausência de saudade. A saudade é a mãe do que fica dentro de cada um, depois de perder alguém, e essa história interior ilustrada nas memórias e fotografias (que não devem ser escondidas) é tudo o que ninguém nos/lhes tira.

 

Viva ensinando que quando se perde alguém, para o fim da vida, não se perde para nós mesmos.

 

Ana Santos

Psicóloga Clinica

ana.santos@pin.com.pt

 

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