Um estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos da América, publicado em março de 2010, no jornal Health Affairs, concluiu que as crianças comem snacks salgados, ricos em gordura e açúcar cerca de três vezes por dia, o que representa mais de 27% da ingestão calórica diária. Uma realidade que, quase uma década depois, continua a existir e a preocupar muitos profissionais de saúde e educadores.

Em Portugal, onde um terço  das crianças portuguesas têm excesso de peso e dez por cento são obesas, os números relativos à obesidade infantil podem levar-nos a pensar que o cenário não será provavelmente muito diferente. As investigações revelam que este tipo de lanche muito pouco saudável, para além de contribuir para o aumento de peso, pode afectar o desempenho escolar e interferir no desenvolvimento infantil.

Para que saiba quais os alimentos que as crianças podem (e devem) levar na lancheira e que opções são de evitar, lançámos a Mónica Pinto, na qualidade de pediatra do desenvolvimento da Clínica Gerações, algumas questões. Leia as respostas de seguida, siga os seus conselhos e proteja a saúde do seu filho.

Em que medida são o lanche e a merenda da manhã importantes para o desenvolvimento e bem-estar da criança?

As refeições intermédias ajudam a distribuir melhor os aportes ao longo do dia reduzindo os tempos de jejum demasiado longos que geram mais fome e mais esforço de compensação em termos do organismo. Além disso, fazem com que a criança não coma de forma excessiva na refeição principal, sobretudo se os lanches não tiverem açúcares rápidos e forem ricos em vitaminas, fibras e hidratos de carbono de absorção mais lenta.

De quanto em quanto tempo deve a criança fazer refeições?

A criança deve comer mais ou menos de três em três horas para que não haja um jejum prolongado que estimule a activação de outras vias para obter energia além da glucose que são geradoras de corpos cetónicos. Estas substâncias  são excretadas na urina quando temos um jejum prolongado e resultam de uma via metabólica alternativa à via normal, o que significa que está a haver obtenção de energia de outras fontes que não a dieta.

Como deve ser composto o lanche e a merenda da manhã de uma criança?

A composição deve estar de acordo com os gostos da criança e pode conter uma peça de fruta, duas a três bolachas ou meia sandes com queijo, fiambre ou manteiga e iogurte, leite (simples e não com chocolate) ou apenas água. Não se recomendam bolos, chocolates nem refrigerantes (que, além do açúcar, são gaseificados ou têm outros aditivos) porque estes alimentos são metabolizados mais rapidamente em energia que depois é transformada em gordura.

Qual é a importância de uma alimentação variada para o desenvolvimento da criança?

Os alimentos têm diferentes perfis de nutrientes e vitaminas e variar a ementa ajuda a ter uma distribuição mais equilibrada, além de permitir à criança adquirir novos sabores e experiências gustativas. No entanto, devem respeitar e evitar o que a criança mais detesta, desde que possam substituir por um equivalente nutricional que ela goste mais. Por exemplo, se a criança não gosta de pêra pode comer uma maçã, ou se não gosta de pão com queijo pode comer pão com fiambre ou manteiga.

Há diferenças entre o que as crianças gostam de comer nestas refeições e os alimentos que deveriam comer?

As diferenças surgem sobretudo pelos hábitos que são criados. Claro que se a criança se habitua a comer doces vai preferir ter um chocolate no lanche. Os gostos são adquiridos pelo hábito e pela educação que é incutida pelos pais, o exemplo que dão aos filhos é fundamental.

Quantas vezes por semana podem comer um bolo, por exemplo?

O ideal seria ter a excepção uma a duas vezes por semana. Assim tem mais prazer e mais valor como excepção. Senão passa a ser a regra!

Que estratégias se pode utilizar para convencer a criança a preferir o que é saudável?

O hábito é algo que deve ser criado desde cedo, usando o exemplo parental de uma boa educação alimentar e preferindo sempre os alimentos saudáveis, não proibindo os outros, mas não os tornando um hábito. Se a criança se habituar a não os ter em casa, nem à vista, provavelmente não se habituará a precisar deles.

Texto: Fabiana Bravo