Portugal não é um país de gigantes. Se mede um pouco mais de 1,65 m e se o seu marido não é muito mais alto, o mais provável é que o seu filho não venha a ter grande futuro no basquetebol.

A altura é hereditária, logo é comum que pais baixos tenham filhos de baixa estatura.

Mas existem outros factores que podem influenciar o crescimento, nomeadamente uma boa alimentação ou a prática regular de exercício físico. Ajudamo-la a identificar as situações em que se justifica um parecer médico.

Avaliar cada caso

Segundo o endocrinologista Davide Carvalho «uma criança tem baixa estatura quando se registam dois ou mais desvios-padrão abaixo da média para as crianças da mesma idade e género». Para a avaliação do desenvolvimento é mais importante a definição do padrão de crescimento num período de tempo. A estatura deve ser determinada via instrumentos e técnicas adequadas e registadas como as tabelas de percentil.

É certo que os ritmos de crescimento variam muito, mas se aos sete anos o seu filho é o mais baixo da turma deverá consultar um médico? Se crescer menos de quatro centímetros por ano num período de três anos, o caso pode merecer atenção médica.

«Quando se confirma a paragem do crescimento de uma criança e esta não apresenta qualquer disformia notória, as causas podem ser múltiplas, nomeadamente doenças sistémicas [que afetam vários aparelhos ou sistemas do organismo].Das causas endócrinas e metabólicas, o hipotiroidismo é das mais frequentes e em geral fácil de diagnosticar», explica Davide Carvalho.

Tratamentos hormonais

A preocupação com a altura dos filhos leva alguns pais a procurar tratamentos com hormonas de crescimento. Para o especialista, «o diagnóstico de carência de hormona de crescimento (HC) exige a demonstração de ausência de resposta da HC em duas provas de estimulação». Produzida por engenharia genética e idêntica à humana, a HC é uma proteína usada para normalizar o ritmo de crescimento.

Em Portugal, as crianças com baixa estatura e em que se evidencia carência de HC devem ser enviadas a centros de Endocrinologia Pediátrica onde os médicos encaminharão os processos para a Comissão Nacional para a Normalização da Hormona de Crescimento.

Esta comissão de peritos da Direção-Geral da Saúde poderá aprovar a terapêutica.

 

Esta poderá ser «comparticipada a 100 por cento em crianças com carência de HC, e com síndrome de Turner (malformação cromossómica que afeta o sexo feminino) e em crianças que nasceram pequenas para a idade gestacional» conclui.

Fórmula de Tanner

Na década de 1960, o pediatra britânico James Tanner, num estudo sobre o crescimento, criou uma fórmula matemática para calcular a altura aproximada de uma criança, somar a altura do pai e da mãe e dividir o resultado por dois. Se for rapaz deve acrescentar 6,5 centímetros, se for rapariga subtrair o mesmo valor. Segundo esta fómula, a altura é considerada normal se estiver seis centímetros acima ou abaixo do valor calculado.


Curiosamente, nos últimos 100 anos os portugueses cresceram cerca de nove centímetros, ou seja, aproximadamente um centímetro por década, revela um estudo da antropóloga Cristina Padez da Universidade de Coimbra. 

Texto: Sónia Ramalho com Davide Carvalho (endocrinologista)