A perturbação de hiperatividade com défice de atenção, também conhecida como PHDA, é das perturbações neurodesenvolvimentais mais prevalentes e estudadas, sendo mais frequente nos rapazes do que nas raparigas. É um transtorno que manifesta sinais de desenvolvimento inadequado na criança em relação à sua idade mental e cronológica, nos domínios da atenção, impulsividade e atividade motora. As causas são diversas, sendo difícil, na maior parte dos casos, identificar uma etiologia precisa.

São várias as investigações desenvolvidas nesta área, sendo que provavelmente a primeira referência científica foi efetuada por G. Keith Still que em 1092 descreve um conjunto de crianças que apresentavam sintomatologia comportamental muito semelhante à atual PHDA e à perturbação de oposição. E. Cardo e Mateu Servera-Barceló, em 2005, referem que a PHDA tem uma base genética, em que estão implicados diversos fatores neuropsicológicos que provocam na criança alterações atencionais, impulsividade e uma grande atividade motora.

Trata-se de um problema generalizado de falta de autocontrolo com repercussões no seu desenvolvimento, na sua capacidade de aprendizagem e no seu ajustamento social. Diversos estudos demonstram que a atividade física e desportiva contribui, de modo muito positivo, para o desenvolvimento das crianças portadoras de PHDA, atuando como um estímulo ao desenvolvimento psicossocial da criança.

Os desportos mais indicados para contrariar o problema

Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), no Brasil, mostrou que a realização de atividades físicas intensas pode melhorar o nível de concentração, sendo os desportos mais indicados o futebol, as artes marciais e outras atividades coletivas. Este artigo centra-se nestas duas áreas, a perturbação de hiperatividade e défice de atenção e a sua relação com a atividade física e desportiva. «Hiper» vem do grego e significa «além» ou «excesso». «Atividade» deriva de um radical latino que exprime tanto a ideia de movimento como a de ação exterior. Pôr em movimento ou ser ativo.

«Hiperativo» significa, portanto, impulso excessivo de atividade, como também o caracterizaram C. Schweizer e J. Prekop, em 1997. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, a PHDA caracteriza-se por um «padrão persistente de falta de atenção e/ou impulsividade, hiperatividade, com uma intensidade que é mais frequente e grave que o observado habitualmente nos sujeitos com um nível semelhante de desenvolvimento».

Uma criança com PHDA manifesta, na sua atividade diária, padrões comportamentais em que a atividade motora é muito acentuada e inadequada ou excessiva. São crianças que têm muita dificuldade em permanecer no seu lugar, que se mexem ou baloiçam continuamente, que mantêm um relacionamento difícil com os colegas, intrometendo-se nas suas brincadeiras, que não prestam atenção, que se precipitam nas respostas. Estas ações são muitas vezes confundidas com maus comportamentos ou com indisciplina.

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Os critérios que ajudam a diagnosticar o problema

A Associação Americana de Psiquiatria distingue três subtipos de PHDA, de acordo com o predomínio dos sintomas da falta de atenção e da hiperatividade e da impulsividade:

- PHDA do tipo predominante desatento

- PHDA do tipo predominante hiperativo e do impulsivo

- PHDA do tipo misto.

Este último é o mais frequentemente diagnosticado e combina a hiperatividade com a impulsividade e a falta de atenção. Para diagnosticar a PHDA é necessário atender a alguns critérios. Estes são os mais comuns:

- Quantidade

Devem estar presentes pelo menos seis dos sintomas de falta de atenção ou de hiperatividade-impulsividade.

- Duração

Sintomas persistentes por um período mínimo de seis meses com uma intensidade que é simultaneamente desadaptativa e inconsistente com o nível de desenvolvimento do indivíduo.

- Início

Sintomas com início antes dos sete anos de idade (antes da idade escolar).

- Contexto

Acontecerem em dois ambientes ou contextos diferentes (escola e casa, por exemplo).

- Provas

Existirem provas claras de um défice claramente significativo do funcionamento social e académico ou laboral.

- Exclusão

Assegurar que os sintomas não são devidos a outra perturbação mental.

Veja na página seguinte: Como se trata a perturbação de hiperatividade e défice de atenção  

Tratamento da perturbação de hiperatividade e défice de atenção  

Muitos especialistas defendem que o tratamento global de uma criança com PHDA envolve a maioria das vezes combinação de intervenções comportamentais e farmacológicas, até porque a medicação não é útil na melhoria de patologias associadas à PHDA, como a perturbação de oposição e desafio. Por outro lado, os pais aderem de forma mais entusiasta à intervenção se esta incluir técnicas comportamentais, acreditam.

De acordo com um estudo publicado no Journal of Pediatrics, bastam 20 minutos de atividade para que estas crianças consigam concentrar-se melhor (e distrair-se menos) nas aulas. Ainda num estudo publicado no site Life Science Journal concluiu-se que alunos que realizam exercícios aeróbicos de forma regular apresentam melhorias em três dos cinco itens envolvidos no estudo (atenção, skills motores, realização de tarefas, comportamento emocional e académicos/ comportamento na sala de aula), apresentando melhorias no quadro de sintomas da PHDA.

Havendo evidências que comprovam que a atividade física e desportiva pode ajudar estas crianças na escola, já que contribuem para o desenvolvimento físico, social e mental de cada um, os professores de educação física poderão, através da sua prática educativa, dar um contributo importante na formação integral dos alunos com PHDA. A utilização de estratégias adequadas trabalha, entre outras capacidades, a aquisição de regras, a entreajuda, o espírito de equipa e não só.

A necessidade de mais atividade física nas escolas

A utilização de estratégias adequadas trabalha age ainda sobre a socialização, a integração, o desenvolvimento de estratégias, a resolução de problemas, a noção de limite, a capacidade de atenção/ concentração, a autoestima, o relaxamento, o controlo corporal, o sentido crítico, a criatividade, a curiosidade, a libertação de energias e a adaptação às tarefas que se apresentam ao aluno na escola. A concentração é um dos maiores desafios das crianças com défice de atenção e, com base nestes dados, os investigadores aconselham as escolas a aumentarem e integrarem diversas atividades físicas nos horários escolares.

O desporto é a área que reúne mais facilidade para lidar diariamente com a diversidade. Quando devidamente apoiado, torna-se um elemento fundamental em todo o processo de inclusão dos alunos que se destacam pela diferença, defendem mesmo vários especialistas. Praticar exercícios físicos permite incrementar a inibição muscular, relaxar, aumentar o controlo corporal e a atenção e, consequentemente, conseguir uma adaptação às tarefas e às exigências que se apresentam, sobretudo na escola.

Texto: Joana Macedo (personal trainer no clube Holmes Place da Avenida da Liberdade em Lisboa)