Eliminar os quilos a mais em família é mais divertido... e eficaz! Quem o garante é a fisiologista do controlo de peso Teresa Branco, que já ajudou mais de 1.000 pessoas a gerir o seu peso.

Começou por fazê-lo na Faculdade de Motricidade Humana e mais tarde na Metabólica, clínica que criou.

 

É lá que desenvolve diferentes programas de gestão de peso, onde já participaram quase 600 pessoas, a quem a especialista telefona todos os anos. O balanço é positivo. «São muito poucas as que retomam o peso. Há tendência para aumentar um ou dois quilos após o programa, o que é normal, mas muitas delas mantêm o peso e algumas até estão mais magras», refere.

Foi também a ela que a apresentadora de televisão e atriz Catarina Furtado recorreu para recuperar a forma depois da gravidez do primeiro filho. Saiba mais pormenores aqui. Um dos trabalhos mais gratificantes que desenvolve é, no entanto, o Programa Peso Saudável em Família, como explicou em entrevista à Saber Viver.

Qual a vantagem do controlo de peso ser feito em família?

O envolvimento de todos é muito importante nesta questão do excesso de peso. Especialmente para as crianças seria muito difícil perderem peso, se os pais não estivessem envolvidos, uma vez que não são elas que vão às compras ou que escolhem as suas refeições. Além disso, muitas vezes, todos os membros da família necessitam de perder peso ou de ter um estilo de vida mais saudável.

Em que consiste o Programa Peso Saudável em Família?

Trata-se de um conjunto de consultas individuais de fisiologia, nas quais é feita uma avaliação da composição corporal de cada elemento para se perceber qual o excesso de peso e qual a atividade física que cada um deve realizar. Além disso, inclui consultas de nutrição, onde cada elemento tem acesso ao seu plano alimentar, bem como consultas de psicologia para os elementos que necessitem. Uma vez por mês são feitas sessões lúdicas com toda a família.

O que acontece nessas sessões?

São aulas muito práticas em que, de uma forma muito lúdica, a família cozinha, faz exercício físico e aprende o que é uma alimentação e um estilo de vida saudáveis.

Qual a importância do acompanhamento ser feito por diferentes especialistas?

É fundamental. Atualmente sabe-se que a obesidade é uma doença comportamental pelo que a intervenção de um psicólogo é fundamental. No entanto, não é este especialista quem define o plano alimentar.

Para fazer esse trabalho, é preciso haver um nutricionista. Por outro lado, tem de haver um fisiologista que avalie a composição corporal e estipule a atividade física certa para mais facilmente se obterem os resultados pretendidos.

Quanto tempo considera ser necessário para mudar os hábitos de uma família?

No mínimo seis meses, mas idealmente um ano.

Estabelece uma dieta para cada um dos elementos da família?

Sim. Estabelece-se um plano alimentar que devem seguir.

 

E, depois, através das sessões lúdicas que referi, conseguem-se criar alternativas ao que está definido.

Não se corre o risco da questão do peso se tornar uma obsessão?

Não, muito pelo contrário. Quanto mais conhecimento temos, menos fundamentalistas somos. Por outro lado, as pessoas que menos sabem têm medo de ir além do que conhecem com medo das consequências.  Por exemplo, a pessoa que não percebe que o arroz de feijão tem menos calorias que o arroz branco, é capaz de comer três dias seguidos arroz branco mas nunca come arroz de feijão.

Dou-vos outro exemplo. Há iogurtes com valores calóricos semelhantes e até superiores ao de certos gelados, mas há pessoas que comem sem preocupação um iogurte com mais de 100 calorias, mas não tocam no gelado Epá que tem apenas 69 calorias.

Define alimentos proibidos?

Não. No entanto, há alimentos obrigatórios como é o caso dos legumes e a fruta. É quase impossível ter um estilo de vida saudável e perder peso se não comer este tipo de alimentos, pois tudo o resto é muito mais calórico.

Qual é o maior desafio no controlo de peso de uma família?

É conseguir que todas as pessoas estejam focadas no objetivo. Quando algum dos participantes não está motivado pode ser penoso para esse elemento e pode, até, servir para desmotivar os outros.

Para o evitar, direcionamos essa pessoa para as consultas de psicologia. O objetivo é descobrir aquilo que a motiva para conseguirmos agarrá-la de novo. É um trabalho difícil, pois a obesidade é um pouco como a toxicodependência: as pessoas estão viciadas em comida e não conseguem abdicar.

Em termos de hábitos, o que é mais difícil mudar numa família?

A grande dificuldade é implementar a atividade física. As pessoas sistematicamente dizem que não têm tempo.

De que forma responde a isso?

Muitas vezes, as pessoas não conseguem ir ao ginásio porque estão a gerir mal o seu tempo. Uma das estratégias que utilizo é pedir que registem durante um dia tudo aquilo que fizeram, de 15 em 15 minutos.

Através deste registo é possível verificar vários momentos do dia em que aquela pessoa esteve sem fazer nada. A ideia é perceber onde é que desperdiça mais tempo e canalizá-lo para a atividade física.

Qual é a melhor atividade física para controlar o peso?

São os exercícios cardiovasculares, como a marcha, a corrida, a bicicleta, a natação e a aeróbica, porque exigem uma movimentação de todo o corpo e, portanto, não só queimam mais calorias como têm benefícios para o coração.

Qual o principal motivo que leva as famílias a procurar a sua ajuda para perder peso?

É a preocupação com o facto dos filhos poderem ter excesso de peso. E não se trata de uma questão de saúde. O que mais atormenta os pais é a possibilidade de poderem vir a ser discriminados por serem gordinhos. E têm tanto medo que as crianças sofram que resolvem intervir. Nessa altura, percebem que eles próprios não sabem o que hão de fazer para os ajudar e que, também, precisam de ajuda.

Em que é que se distinguem as estratégias que utiliza com as crianças?

A linguagem utilizada tem de ser completamente diferente. Não posso falar em calorias nem em hidratos de carbono, tenho de falar em termos muito mais acessíveis. Por outro lado, tenho de responsabilizar a criança e fazê-la perceber que são as suas atitudes que vão mudar o curso das coisas, mas não a posso pressionar ao ponto de ter medo de vir cá se não estiver menos pesada.

Que objetivos estipula?

Muitas vezes, os objetivos com as crianças são traçados, não pela diminuição de peso, mas pela manutenção, uma vez que se a criança mantiver o peso e crescer ela irá emagrecer. Por exemplo, uma criança de 12 anos que pese 65 quilos pode não precisar de perder peso pois irá crescer e com 65 quilos é capaz de ficar magra, mas se pesar 100 quilos, aí vai ter de perder peso a sério.

Que estratégias define para as idas às compras?

Normalmente fazemos um workshop em que mostramos o que é que devem comprar para depois não haver birras no supermercado. Por exemplo, ensinamos a família a ler os rótulos dos alimentos e lançamos o desafio de, no dia seguinte, quando forem às compras, ser a criança, como se fosse um jogo, a escolher as bolachas mais adequadas.

Também aconselho a não levar doces para casa: é preferível comer uma sobremesa no restaurante ou um gelado na rua do que os levar para casa onde é quase impossível estar permanentemente a dizer não.

Que estratégias prevê para compensar abusos alimentares?

É normal fazermos pontualmente um exagero ou outro e quando isso acontece temos duas opções: ou compensamos através de atividade física ou dos alimentos que vamos ingerir a seguir ou sabemos que, à partida, teremos um emagrecimento mais lento. Nenhuma das opções está errada. Cada pessoa terá que definir a melhor estratégia para si.

Quais os principais erros alimentares das famílias que tem seguido?

Em geral, as doses são muito grandes e as opções alimentares são más por dois motivos. Os adultos não comem legumes, o que faz com que as crianças também não os comam.

 

Além disso, preferem comidas que se preparam rapidamente, fazendo com que as refeições sejam muito monótonas. 

Qual é a grande mensagem deste programa?

O facto de se ter uma profissão exigente e dois filhos não nos impede de ter um estilo de vida saudável e simpático. Na verdade, nem é preciso mudar muita coisa para o conseguir.

Quem é Teresa Branco

Licenciada em Educação Física e Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana, possui um mestrado em Exercício e Saúde e está a preparar um doutoramento na área do Controlo de Peso.

Fundou a Clínica Metabólica e divide os seus dias entre a coordenação das atividades da clínica e as consultas externas, no Grande Real Villa Italia Hotel & Spa. Participa no programa «Mundo das Mulheres», de Adelaide de Sousa no canal SIC Mulher, onde todas as quartas-feiras apresenta a rubrica «Conta, peso e medidas».

«Estratégias para Gerir o Seu Peso» (Caleidoscópio) é o título do seu primeiro livro (2007). No final de 2008, lançou o segundo, no qual deu a conhecer alguns casos de sucesso, de pessoas anónimas e figuras públicas (a lista inclui ainda nomes como Maria João Bastos, Rui Unas, Sofia Carvalho e Adelaide de Sousa), que ajudou a emagrecer.

Texto: Vanda Oliveira