Com alguma frequência, abrimos as portas do gabinete e quem nos entra diz ‘fizeram exames a tudo, não encontraram nada… e as dores continuam’… desta forma, e porque, não há uma segunda oportunidade para uma primeira impressão, a imagem que se forma é de algum descrédito pelas dores… como se elas fossem manha, desculpas ‘esfarrapadas’.

 

No retrato de família, entra geralmente a mãe, por vezes o pai, e o filho/filha com as dores… entram também  o cansaço e o descrédito em mais uma opinião técnica, mas como não custa tentar… é desta fibra que alimentamos o processo terapêutico. Deste vestígio de esperança, de quem em desesperança nos bate á porta.

 

Duvidas vs certezas, Desconfiança vs empatia, Diagnóstico vs crise … equações que nos pedem para resolver, e ao que apenas podemos responder, são todos e em simultâneo importantes.  Mais importante, é que a dor é algo subjectivo, universal e sintomático. A dor não se vê, sente-se… e cada um sente á sua maneira, de acordo com as suas características únicas e inexplicáveis.

 

As dores mais frequentes, são as dores de cabeça, e por vezes as dores de estômago. Por vezes os exames complementares de diagnóstico, referem algo como ‘achado sem repercussões clinicas significativas’… A procura por algo clinicamente significativo, faz parte de um processo de despiste, e não deve ser ignorado; desde que a mudança sucessiva de técnicos, pela busca de algo que tranquilize, não implique repetir exames invasivos. É muito importante confiar numa equipa, e ter a capacidade de fazer perguntas, pois o técnico é quem deve orientar a família. Após a escolha do caminho a seguir, manter-se fiel caminhando.

 

O primeiro passo, é garantir que as duvidas sobre a veracidade da dor são eliminadas… e em família fazer um puzzle, quais são as peças do limite, quais as do centro, quais as de um outro puzzle. Depois deste primeiro passo, é importante ajudar a criança/jovem a ser mestre na sua dor. Ninguém melhor que ele, para nos orientar. A família, precisa confiar e o técnico deve ser o tradutor, aquele que ajuda a classificar a dor, e a definir quais as estratégias a adoptar. Como se estivéssemos de novo na escola a aprender a escrever, não interessa se a caligrafia é redonda, pontiaguda, a lápis ou caneta… interessa sim que todos saibam quais são as letras e como se usam.

 

Estas dores de crescimento, que muitas vezes estão associadas a um mal-estar desconhecido, bem como a uma exigência permanente de adaptação a rotinas frenéticas e insatisfatórias, a tarefas em catapulta… são dores a não ignorar, pois rapidamente se transformam em algo central e não em algo extra.

 

Crescer é um processo complexo e por vezes assustador… mas é um caminho que não abranda, nem pára, mesmo quando dói. Existem muitas técnicas e estratégias para que a dor seja apenas o sinal de alarme para mudança, e não a mudança em si.

Mafalda Correia
mafalda.correia@pin.com.pt
Núcleo de Apoio e Terapia Familiar

 

PIN – Progresso Infantil