É consensual que a escola é extremamente importante na vida de uma criança. As experiências que todos tivemos na escola fizeram-nos gostar muito dela ou repudiá-la totalmente. De nada servirá um excelente colégio ou escola se o seu filho não gostar de o frequentar, o que levará a que o seu desempenho seja menor.

 

A escolha da escola provoca nos pais uma grande agitação e dúvida. Será que escolhi a escola certa? Será que fiz bem em ir para uma escola pública? Será que fico mais descansado com a sua segurança numa escola privada? São um sem-número de questões que preocupam os pais e que os fazem envolver-se no processo de escolha.

 

«Os filhos devem ter uma voz ativa neste processo de escolha mas não um papel decisivo», diz Renato Paiva, especialista em Educação. «Decidir cabe aos pais, mas a opinião dos filhos deve ser tomada em consideração. As crianças ainda não têm capacidade para avaliar os prós e os contras das circunstâncias, nem antecipar-se aos factos».

 

Segundo Renato Paiva, as crianças desconhecem a importância de aspetos úteis para o seu futuro, como um ensino bilingue ou a informática. «Os pais certamente reconhecem a utilidade de falar com fluência uma segunda língua ou mesmo uma terceira e a importância que a informática assume na atualidade, e muito mais ainda será no futuro. Será importante que partilhem os seus pontos de vista com os filhos, para que estes percebam as preocupações parentais para a escolha de uma determinada escola», afirma.

 

Ao permitirem que a criança se envolva e participe na escolha da escola, os pais estão a atribuir importância à sua opinião. Será útil para o filho poder sentir que as suas opiniões têm valor e que também é respeitado pelas suas ideias.

Fatores a ter em consideração para uma escolha consciente

Uma escola ideal, que sirva para todos, não existe. Cada família tem os seus valores, e cada criança, uma personalidade. Uns valorizam uns aspetos da vida, outros valorizam aspetos diferentes. Esta valorização relaciona-se maioritariamente com as expectativas, as vivências, o conhecimento que os pais têm sobre os filhos…

 

Diferentes preocupações ocupam as cabeças dos pais, sendo muitos os fatores que devem ser tidos em consideração no momento da escolha de uma escola, como:

 

*Localização

*Transportes

*Horário

*Proposta pedagógica

*Espaço físico

*Alimentação

*Local destinado às atividades

*Acompanhamento individual

*Mensalidade

*Aulas de inglês

*Atividades extracurriculares

*Segurança

*Organização interna

*Estabilidade do corpo docente

*Limpeza *Janelas

*Como é a prática da sala de aula

*Projetos em que participa

*Número de alunos por turma

*Participação dos pais

 

«Os pais devem tentar fazer com que a sua decisão seja a mais refletida e documentada possível», afirma Renato Paiva. «O meu primeiro conselho passa por se informarem devidamente sobre as possibilidades que têm em mãos e fazerem uma visita presencial na qual possa conhecer as instalações e perceber as suas dinâmicas», aconselha.

 

Seja qual for a opção dos pais, deverão prestar muita atenção à reação do filho – ele é um indicador valioso. «Se estiver feliz e interessado em aprender, é um sinal de que a escolha foi acertada. Se estiver desanimado e com rendimento escolar baixo, conversem com os professores e orientadores pedagógicos dele», recomenda o especialista. Isso não significa que a escola seja má ou que a escolha tenha sido deficitária. Há vários fatores que provocam insucesso e nem sempre as «culpas» devem ser imputadas à escola.

Uma escola para todos

Quase todos os pais afirmam querer para os seus filhos melhor do que aquilo que tiveram. Este discurso leva-os a optar, muitas vezes, pelo privado apenas por não terem andado num colégio. «Associamos a ideia de uma escola privada a mais qualidade do que uma escola pública. De facto, a maioria é, mas nem sempre! É uma grande falácia pensar que na escola pública é tudo mau e na escola privada é tudo mau», diz Renato Paiva.

 

«Os professores de ambas as escolas são formados nas mesmas instituições de ensino superior. Em termos de formação profissional, não podemos admitir uma grande diferença. O que é mais notório é o envolvimento dos professores nas escolas privadas. Têm um maior controlo e avaliação do seu desempenho do que nas escolas públicas, e quando é efetuado um bom trabalho, esse envolvimento tem resultados muito significativos», justifica.

 

Há também a ideia de uma homogeneidade e facilitismo na escola privada. É notório que em grande parte dos colégios não se verifica uma grande variedade multicultural por comparação com as escolas públicas. Mas não significa que exista discriminação. Como afirma Renato Paiva, «Nos colégios, entra em jogo a possibilidade financeira das famílias, e não será uma realidade muito distante que estas famílias mais carenciadas de diferentes culturas consigam a sua independência financeira e possam ter capacidade de matricular os filhos nas escolas privadas. Todos ficariam a ganhar! Estes dilemas morais e a busca pela melhor solução fazem com que esta seja uma questão delicada e individual.»

 

Ideias-chave

• Opte em consciência e não pela possibilidade financeira.

• Não privilegie a estética, a aparência e a simpatia, opte pela competência dos recursos humanos.

• Exija qualidade e rigor em qualquer escola.

• Esteja atento ao que o seu filho diz da escola – será um excelente indicador para perceber se lá se sente bem.

• Tenha preocupações com a segurança, com a divisão etária, condições humanas e materiais e com a participação ativa dos pais na escola.

• Não há escolas perfeitas nem se conclui que o ensino privado é melhor ou pior do que o público. Dependerá sempre das pessoas que lá trabalharem.

 

 

Maria João Pratt

Fonte: Ensina o teu filho a estudar (2012), de Renato Paiva, A Esfera dos Livros.