Só quem é pai (ou mãe) sabe como é difícil ensinar as crianças a resistir a tantos produtos disponíveis. Na televisão, é a publicidades a bonecos, jogos, consolas. Nas lojas, as roupas e ténis brilhantes. Na escola, a amiguinha aparece com uma caneta colorida nova todas as semanas. Realmente, é difícil não ouvir um «Ó, mãe! Compras-me?» vez em quando.

 

Mas é, sim, possível (e fundamental) criar filhos que dão valor ao dinheiro (ao nosso e ao deles) e que entendem que não é preciso ter todos os brinquedos do mundo para ser feliz. Com a ajuda de dois especialistas em educação financeira, reunimos algumas dicas para facilitar a sua vida.

 

A criança aprende a brincar

A cabeça da criança não funciona como a de um adulto. Por isso, não adianta querer pô-la sentada em frente a um quadro, fazer algumas contas e ensinar como juntar dinheiro. Nem tentar explicar a um menino de 6 anos sobre objetivos a longo prazo. «Raciocínio, valores e interesses das crianças são diferentes dos adultos. Imagine isto: enquanto os pais querem comprar uma casa própria, a criança sonha com uma casinha de bonecas», explica Álvaro Madeira.

 

Também é muito importante dar «lições» dentro de um contexto que faça sentido para o seu filho. Por exemplo, no momento de comprar um gelado, mostre que um custa 0,50€ e que um outro, muito maior e com cobertura, custa 1,50€, ou seja, são três moedas de 0,50€. Quando for à padaria, peça-lhe que conferia o troco. No supermercado, desafie-o a comparar preços de produtos iguais. Aos fins de semana, brinque com jogos de tabuleiro que ensinem a lidar com o dinheiro. São maneiras mais divertidas de falar sobre o assunto.

 

Mealheiro, sim!

O mealheiro é um dos métodos mais lúdicos de ensinar a criança a poupar. A brincadeira pode começar com a confeção do porquinho – podem montar um em casa ou customizar o que veio da loja. É indicado para crianças com mais de 3 anos (antes disso é muito provável que elas coloquem notas e moedas na boca) e serve para ensinar que o dinheiro não cai do céu: o que se gasta num dia, demora vários dias a juntar.

 

Segundo Álvaro Madeira, os pais não precisam de, necessariamente, estabelecer metas rígidas, como chegar a um valor determinado. «O importante não é o quanto falta para a meta, mas o ato de acumular para atingir um determinado valor». Se a criança quer comprar uma bola e demonstra comprometimento com aquele objetivo, depois de certo tempo os pais podem abrir o mealheiro, contar o dinheiro que está lá, fazer as contas e completar com o que falta. Nem por isso a criança deixará de se sentir responsável e vitoriosa.»

 

Para Marco Pelarin, coach financeiro, no momento de abrir o mealheiro é válido fazer uma certa cerimónia. O ideal é que os pais escolham um objeto que tenha uma tampa e que não precise de ser partido. «Contem juntos o dinheiro amealhado e dê os parabéns à criança por ter economizado, mostrando que é por isso que vai conseguir comprar o que queria.»

 

Defina limites

Sabemos que a criança não conseguir ter brinquedos ou roupas só com o que juntou no mealheiro. Dê-lhe um presentinho de vez em quando e permitir certos luxos. Porém, o ideal é o equilíbrio para que ela entenda que não pode ter tudo.

 

Deixe os presentes mais caros para datas especiais, como o aniversário e o Natal. Se a criança pedir, em setembro, um videojogo que acabou de chegar às lojas, diga para ter paciência e esperar até dezembro. Quando for comprar roupa, façam uma lista das peças que estão em falta antes de ir às lojas. Isso ajuda a manter o foco (o seu e o da criança). No supermercado, a mesma coisa. Estabeleça as regras antes de sair de casa e diga ao seu filho quantos produtos ele terá liberdade para escolher.

Os pais também precisam pensar na sua realidade financeira. Às vezes, os adultos gastam tudo o que têm para elevar o filho a um estatuto social ou económico falso.

 

«Os pais não podem fingir que têm mais do que têm na realidade. Se criar um filho assim, será mais difícil quebrar esse ciclo na adolescência. A criança precisa perceber qual é o padrão de rendimentos e saber que existem crianças que ganham mais e crianças que ganham menos. A vida é assim: nem tudo que o colega tem, a criança pode ter», afirma Álvaro Madeira.

 

Mesada

A mesada é uma opção dos pais. Alguns optam por este sistema, outros dão dinheiro apenas quando os filhos precisam para um gasto específico. Para os especialistas em educação financeira, a mesada é positiva para a aprendizagem da criança. O ideal é que dos 5 aos 8 anos ela seja, na verdade, semanada. Antes disso, os pais podem dar dinheiro eventualmente, sem se preocupar muito com valores, só para a criança se familiarizar com notas e moedas.

 

Para calcular o valor, a sugestão é que a semanada seja o equivalente em dinheiro à idade da criança. Portanto, com 6 anos, 6€ por semana. Com 9 anos, os pais já podem pensar em quinzenada ou mesada.

 

Uma dica importante é não misturar o dinheiro da mesada ou semanada com o dinheiro do lanche, caso o seu filho o compre no bar da escola. Isto porque, na ânsia de economizar, ele pode deixar de comer para que sobre mais dinheiro.

 

Dê o exemplo

Pode até dar jeito de enganar as crianças de vez em quando, mas que argumento vai sobrar quando disser que seu filho já tem roupas suficientes no guarda-roupa e ouvir como resposta «Mas todas as semanas compras uma blusa nova»? E não é só em relação às compras.

 

«Não adianta instruir as crianças se a vida financeira do casal é uma confusão», afirma Marco Pelarin. O ideal é que o casal também faça um esforço para organizar as contas, não atrasar pagamentos e criar uma reserva financeira.

 

Cuidado com o plástico

Um belo dia, o seu filho irá descobrir o dinheiro de plástico. Provavelmente, os seus pais não tiveram de lidar com isso na sua infância – no máximo, pagavam com cheques. Mas, atualmente, como pagamos muitas coisas com cartão, é necessário explicar às crianças que aquilo não é sinónimo de dinheiro infinito e que a fatura chega sempre no fim do mês.

 

Se até os adultos se confundem com cartões de crédito, imagine como será na cabeça dos pequenos, não é mesmo?