Há cada vez mais pais com as dúvidas desta mãe, receosa pela saúde do filho. «O meu filho tem nove anos, 50 quilos e mede 1,37 metros. Faz natação, equitação, é super ativo. Não tem gorduras balofas, o seu corpo é firme», começa por contar esta mulher, que se pretende manter no anonimato. «Começou a ficar gordinho depois de ter tomado medicamentos para alergias, que já não toma», prossegue.

«A sua alimentação inclui sopa, carne, peixe, legumes, mas só consigo que coma feijão-verde e brócolos. Não gosta de saladas e fruta. Come como um adulto», garante a progenitora. «Com 12 meses tinha 14 quilos, sendo nessa altura alimentado com leite materno. Ele começou a comer muito tarde porque tive a possibilidade de amamentar», recorda ainda.

«Quando iniciou a alimentação diversificada gostava de tudo, mas aos dois anos teve de deixar de comer diversos alimentos aos quais ficou alérgico (incluindo legumes e alguns frutos). A partir daí nunca mais consegui introduzi-los na alimentação, apesar de já não ter alergias alimentares», revela. «Bebe imenso leite de soja, tal como eu», relata ainda.

«Com a idade dele também era gorda mas, hoje, tenho 39 anos, 56 quilos e 1,70 metros. Será que é genético? Pode ser um problema hormonal?», questiona a especialista. Para a nutricionista Alva Seixas Martins, como escreveu no antigo blogue que mantinha associado à revista Saber Viver, «o pediatra que o acompanha desde o nascimento é a pessoa indicada para fazer a avaliação clínica e encaminhar o seu filho para outras especialidades, incluindo a nutrição».

«Apesar de se poder verificar um aumento da massa gorda nestas idades, em preparação para o rápido crescimento da puberdade, a relação peso/estatura do seu filho apresenta um percentil superior a 95, o que indicia excesso de peso e requer, na minha opinião, uma intervenção nutricional imediata», aconselha a especialista.

O (mau) exemplo que os familiares dão

Mais do que a herança genética, o meio ambiente onde a criança vive, os seus comportamentos alimentares e, porque ainda é criança, os dos seus pais são determinantes para o desenvolvimento da obesidade. Um problema crescente que já afeta a vida, a saúde e o bem-estar de milhões de crianças em todo o mundo. Uma verdadeira epidemia do século XXI para a qual (também) contribui a incúria de muitos pais.

«Por exemplo, refere que o seu filho bebe imenso leite de soja, tal como a senhora. Ora se, em vez de água, o seu filho bebe mais de meio litro/dia de leite de soja (incluindo outros laticínios ou equivalentes, quantidade necessária para garantir um bom aporte de cálcio), pode contribuir para aumentar o peso», alerta a especialista.

«Como sabe, certamente, o consumo excessivo de bebidas calóricas é uma das causas do aumento da prevalência da obesidade infantil, tal como a inatividade física, o que felizmente não é o caso do seu filho. Por isso, assegure-se que ele bebe muito, mas água», sublinha. Nestas idades o tratamento da obesidade visa, mais do que a redução do peso, a sua estabilização, de forma a não prejudicar o crescimento da criança ou adolescente.

Veja na página seguinte: O problema dos lanches e dos petiscos

O problema dos lanches e dos petiscos

Uma situação que, muitas vezes, implica uma reeducação alimentar. Para isso, a caracterização dos comportamentos alimentares é muito importante. «Contudo, esta centrou-se essencialmente nas refeições principais, que me parecem bastante equilibradas. Come como um adulto (suponho que comerá tanto como a mãe, o que é normal), come sopa e alguns legumes (o que compensa a falta de gosto pela fruta)», explica ainda Alva Seixas Martins.

«Mais uma vez, atenção aos comportamentos alimentares do resto da família. Comem fruta? Não menciona os hábitos de pequeno-almoço, lanches ou eventuais rotinas de petiscar mas são estes, na maioria dos casos, os responsáveis pelo excessos alimentares e não a chamada comida de prato», adverte a nutricionista. Os lanches mais saudáveis para o seu filho podem não ser aqueles que lhe anda a dar, alerta também a pediatra do desenvolvimento Mónica Pinto.