A criatividade é inerente a qualquer criança.

 

Basta pensar nas mais inesperadas respostas que os mais pequenos dão, nas questões inusitadas que colocam e na sua capacidade de ver as coisas de uma nova perspetiva.

 

Mas será que os podemos estimular a ser ainda mais criativos? Claro que sim e o ponto de partida é «criar oportunidades para a criatividade, pois sem espaço para a experimentação e para a tentativa e erro, nada se cria», afirma Isabel Ruivo, professora da Escola Superior de Educação João de Deus e doutorada em Educação Infantil e Familiar.

 

E as vantagens são muitas. «A capacidade de criar proporciona à criança uma sensação de bem-estar muito grande», realça a professora. O ideal, como diz Catarina Valença Gonçalves, diretora do MAPA Espaço Criativo, é «não impor nada mas mostrar o que se pode fazer e acompanhar esse caminho da descoberta da criatividade».

 

Lançar desafios


E ser criativo pode ajudar ao sucesso escolar? Isabel Ruivo não tem dúvidas. «Ao serem criativos não só terão mais sucesso como serão mais felizes! Sentir-se-ão mais aptos a responder aos desafios que a escola impõe», diz.

 

Não pense que estimular a criatividade é difícil, para isso, basta ser imaginativo e «os pais podem ser criativos na forma como abordam as questões, como respondem às perguntas, como lançam desafios, como encaram as invenções deles, como agem perante um projeto apresentado, como ouvem e como  brincam».

 

Lançar desafios é o método a seguir. «Não faça a papinha toda, dê espaço para que as crianças construam os seus próprios brinquedos (sugiro jogos de peças de encaixe, que permitam criar, construir algo pelas suas próprias mãos)», sublinha Isabel Ruivo. E, como diz, Fabrice Génot, proprietário da

loja Cristina Siopa, «ser criativo não tem que significar ser um génio mas sim ter a capacidade de criar coisas simples».

 

«Observe o seu filho e valorize pequenas coisas: uma criança que se questiona, que faz perguntas ao adulto exigindo resposta, uma criança que provoca, que desafia, que tem opiniões contrárias ao grande grupo, que se destaca pela pertinência das suas intervenções, que abana consciências, é uma candidata a criativo», sublinha a professora.

Material original


O material escolar que «deve estimular, nunca limitar a criatividade de uma criança, o que não significa que tenha de ser necessariamente o mais caro», sublinha a professora da Escola Superior de Educação D. João de Deus.

 

Em conversa com Fabrice Génot descobrimos algum material que pode ajudar nessa tarefa.

 

Um exemplo disso «são os pequenos blocos de cera de abelha inquebráveis, que as crianças mais pequenas agarram mais facilmente que o lápis de cera e que deslizam com muita facilidade. Além disso, contrariamente às canetas de feltro, as cores misturam-se por camadas», refere o proprietário da loja Cristina Siopa.

 

Outro material interessante é a cera de moldar que, depois de aquecida com as mãos, permite às crianças moldarem o que a sua imaginação ditar. «Noutro dia vi uma criança a fazer um pião, passou horas a afiná-lo e, depois, a brincar com ele, ou seja, com este material, os mais pequenos podem fazer os próprios brinquedos», conta.

 

Fabrice Génot aponta ainda que os lápis gigantes com uma forma ergonómica e minas de 6 milímetros que não se partem e deslizam facilmente no papel, bem como as aguarelas, «que se diluem em água e cujas cores se misturam, fazendo com que surjam as cores secundárias e isso é mágico para qualquer criança», refere.

 

Livros e fantoches


E depois existem os livros. «Ler, ouvir e ver é algo extraordinariamente importante para a criança. Em caso de dificuldade na escolha, recorra sempre aos livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura e agora também os aconselhados pelas Metas Curriculares», aconselha Isabel Ruivo. A professora defende ainda a criação de fantoches. Estes «podem transformar uma simples história num momento mágico. A criança pode dar largas à sua imaginação, criando um novo discurso, uma nova história. Pode ser criativa na linguagem, nos vocábulos que inventa».

 

Opinião partilhada por Catarina Valença Gonçalves que, no MAPA, põe as crianças a viver e a sentir o património cultural português para puxar o seu lado mais criativo. «Se dissermos a um miúdo que vamos ler um poema e que isso vai ser a coisa mais divertida do mundo e, depois, ainda lhe pedirmos para o recriar numa determinada expressão artística, ele vai interessar-se. As crianças são seres que não sabem não ser criativos», conclui.

 

Texto: Rita Caetano com Catarina Valença Gonçalves (historiadores de arte e diretora do MAPA Espaço Criativo), Fabrice Génot (proprietário da loja Cristina Siopa) e Isabel Ruivo (professora e doutorada em Educação Infantil e Familiar)