A obesidade e suas complicações na infância e adolescência são um problema dos nossos tempos.

Portugal, não foge à regra, sendo a incidência desta grave situação traduzida por um aumento alarmante do número de crianças com excesso de peso.

Este padrão de desenvolvimento conduz a menos saúde, com destaque para a diabetes tipo 2, que, há 20 anos, era característica do adulto obeso e muito rara nas crianças e atualmente contribui para uma percentagem importante dos casos de diabetes na idade pediátrica.

«Tenho uma filha com seis anos que adora comer! Doces, salgados, repete quase sempre o segundo prato... Acontece que está com uns quilinhos a mais», desabafa uma mãe, que prefere manter o anonimato.

«As pessoas dizem que quando ela crescer tudo voltará à normalidade. Eu não penso assim porque, desde pequena, sempre tive peso a mais para a minha altura e hoje ainda tenho... Qual a melhor solução de dieta para a poder ajudar?», questiona.

«No caso da sua filha com uns quilinhos a mais, é importante esclarecer, junto do pediatra que a segue, se tem obesidade ou excesso de peso, pois as medidas a tomar na obesidade exigem um acompanhamento e controlo mais individualizado, na maior parte das vezes uma ação orientada por técnicos com experiência na área da Nutrição», recomenda Helena Carreiro, pediatra.

Mas, em qualquer dos casos, a primeira intervenção começa em casa, ao nível dos hábitos alimentares e da atividade física. A criança na nossa sociedade é muito solicitada a ingerir alimentos que são nutricionalmente muito desequilibrados por serem ricos em açúcar (como os doces, as bebidas açucaradas, os sumos de fruta, os refrigerantes ou o leite com aditivos) ou com excesso de gorduras, como os pré-confecionados e os snacks (bolachas, iogurte, queijinhos...).

«Todos estes alimentos não devem fazer parte da dieta regular da criança, devendo privilegiar-se outros como, por exemplo, legumes, sopa (um ótimo alimento, equilibrado, que fornece, ao mesmo tempo, a sensação de plenitude, evitando com isso o ingestão em excesso, como a repetição do segundo prato), fruta e pão, que devem fazer parte de uma refeição», defende a pediatra.

Num regime equilibrado existem outros pontos que interessa referir: o número de refeições e o intervalo entre estas deve ser regular; o pequeno-almoço é a refeição por excelência, por isso, muito importante para o equilíbrio integrado; a refeição deve ser sempre e se possível em família, as crianças devem comer com os adultos.

Atividade física

Para além destas medidas, a criança deve ser estimulada a alterar hábitos de sedentarismo, cada vez mais comuns nos dias que correm.

Recomenda-se atividade física, se possível regular, não esquecendo atividades como o jogar à bola, andar de bicicleta, que começam a ser colocadas em segundo plano.

«A televisão, o computador e a consola não devem ocupar mais de duas horas por dia e, de preferência, não devem estar no quarto da criança. É importante que os pais estejam atentos aos hábitos alimentares e à atividade física da criança na escola, pois só com um programa transversal, em que a escola é parte importante, é possível que as medidas tenham eficácia», sublinha Helena Carreiro.

Esta alteração de hábitos não é fácil. Exige disciplina, rigor e muito esforço coletivo. Mas certamente que, se todas as medidas forem implementadas, vão promover crianças com mais saúde e bem-estar, indicadores muito importantes para o desenvolvimento futuro e harmonioso da sociedade.