Aprender duas línguas na mais tenra idade é um processo natural e são cada vez mais os pais que procuram estimular os filhos nesse sentido.

 

De natureza social, a linguagem é o instrumento de comunicação mais aperfeiçoado do ser humano.

Quer se trate do choro e de outros sons nos recém-nascidos, quer através da língua que se adquire nos primeiros anos de vida, falar é uma forma de estabelecer contacto com os outros e de partilha de um mesmo mundo.

A facilidade em comunicar é, igualmente, um dos barómetros que indicam aos pais se a criança está a desenvolver-se corretamente. Como explica Paulo Oom, pediatra, «de uma forma geral, o crescimento do corpo (peso, altura, perímetro cefálico), as aquisições motoras mais grosseiras (segurar a cabeça, sentar, gatinhar, andar) e a evolução da linguagem representam os três grandes pilares do desenvolvimento infantil mais facilmente percetíveis pelos pais».

Vários idiomas

Por viverem num país com um idioma oficial distinto ao que ouvem em casa ou porque um dos pais tem uma nacionalidade diferente, algumas crianças adquirem a capacidade de se expressar em duas línguas sem que o bilinguismo (ao contrário do que se acredita) possa provocar confusão no seu desenvolvimento intelectual. «A criança que aprende mais de uma língua em simultâneo, normalmente, começa a desenvolver a sua linguagem mais tarde, mas, uma vez desenvolvida, acaba por falar corretamente os vários idiomas, sem que o sotaque de um interfira no outro», refere o especialista.

«Não há qualquer problema em a criança aprender diversas línguas ao mesmo tempo (habitualmente duas ou três), desde que saiba em que idioma deve falar com cada um dos interlocutores e se dê mais tempo à criança para desenvolver uma linguagem correta», esclarece.

Evolução da linguagem

Pela proximidade com os filhos, cabe aos progenitores avaliar se as capacidades linguísticas da criança estão a ser bem adquiridas. «A evolução da linguagem é gradual e obedece às mesmas regras do desenvolvimento infantil em outras áreas, com períodos de maior desenvolvimento alternando com outros de mais acalmia. E, mais importante de tudo, nem todas as crianças são iguais», adverte o especialista.

Umas têm um ritmo mais lento, outras mais rápido. E, na mesma criança, esse ritmo pode variar de tempos a tempos.

«É importante que os pais conheçam o que será de esperar de uma criança em cada etapa do seu desenvolvimento em termos de linguagem, mas, mais relevante ainda, é conhecer os sinais de alarme, ou seja, aquelas idades em que determinadas etapas já deverão estar concluídas e que, caso não o estejam, devem levar o pediatra a investigar o que se passa», refere Paulo Oom.

Aprendizagem natural

Uma vez que o processo de aprendizagem de duas línguas é natural nas crianças que convivem desde o nascimento com dois idiomas, para os pais que gostariam que o filho fosse bilingue, Paulo Oom aconselha a que a criança estabeleça contacto com outra língua desde a mais tenra idade. «A aprendizagem deve ser iniciada tão precocemente quanto possível (pré-primária), quer com livros ou músicas noutra língua, quer na escola, pois permite que os conceitos básicos da construção desse idioma sejam integrados na aprendizagem normal da criança, ainda possuidora de uma enorme plasticidade cerebral».

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Paulo Oom (pediatra)