Lidar com os constantes estímulos ao consumo não é fácil para os pais e muito menos para os filhos, que são os alvos preferenciais da publicidade televisiva. Todos os dias surgem dezenas de produtos novos e as crianças mostram-se mais vulneráveis às estratégias de marketing que acompanham as novidades comerciais.

Partindo da certeza que saber resistir-lhes passa, acima de tudo, pelo comportamento dos pais desde os primeiros anos dos mais pequenos, descubra qual a melhor postura a adotar, em cada fase da vida, para que o seu filho cresça um consumidor inteligente.

Os primeiros anos

A partir dos dois ou três anos, as crianças tornam-se exigentes. Começam os pedidos e surgem as primeiras birras perante as recusas dos pais. Os especialistas consideram ser este o momento ideal para estabelecer fronteiras.

Elisabete Mechas, psicóloga infantil, explica que «fazer birras, insistir para testar os limites dos adultos são comportamentos normais no desenvolvimento de uma criança». Perante a birra e a recusa em aceitar o «não», os pais têm de se mostrar convincentes:

«A explicação tem de ser clara, curta, consistente para que a criança perceba os motivos dos adultos e, sobretudo, que não mudam de opinião perante uma birra. Com os mais pequenos, é importante fazer uma retirada da situação ou do local para acabar mais rapidamente com o conflito», refere ainda.

A estreia escolar

Ainda sem perceberem o valor dos objetos até à entrada no 1º ciclo escolar, a partir dos sete ou oito anos, as crianças passam a compreender o que é caro ou barato. «O 3º e 4º anos são a altura mais indicada para começar a dar semanada, pois a criança começa a ter a noção do valor do dinheiro e prepara-se para um mundo mais alargado (o do 2º ciclo) onde já faz pequenas aquisições sozinha. Esse dinheiro deve começar por ter uma periodicidade semanal para que tenha um tempo mais limitado para o gerir», considera a terapeuta.

Segundo esta especialista, os pais devem explicar às crianças que quantidade não é sinónimo de qualidade. «Na sociedade de consumo as primeiras vítimas são os pais que enchem os filhos de brinquedos, porque com os objetos os compensam do tempo em que não estão juntos e realizam os seus próprios desejos infantis. Já os pais que não cedem ao consumo tendem a dar prendas limitadas e apenas em momentos significativos, não as banalizam», diz.

O desafio da adolescência

Erguidos os alicerces para saber gerir o dinheiro, os limites são novamente testados na adolescência. A reação dos jovens dependerá da forma como os pais lidaram com eles na infância.

«É preciso relembrar que os caprichos devem ser da responsabilidade dos filhos e não dos pais, logo, os consumos supérfluos só podem acontecer quando os adolescentes reúnem o dinheiro da mesada», refere a especialista.

«Importa desmontar as estratégias da publicidade e mostrar o ridículo de rivalizarem uns com os outros nas marcas e ajudá-los a encontrar outras formas de se identificar», acrescenta ainda.

Nos anos conturbados da adolescência, a terapeuta considera que o diálogo é a melhor arma contra o consumismo. «Quando sabemos comunicar aos nossos filhos que o ser e o ter não se confundem é mais fácil construirmos pessoas que não se deixem manipular pelas necessidades da marca, pelo interesse em copiar o modelo irreverente da televisão. Quanto mais valores e motivações ligadas à realização, menores são as necessidades de uma identificação estética e material», refere por fim.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Elisabete Mechas (psicóloga clínica)