Está na fila do supermercado e o seu filho atira-se para o chão a gritar porque quer um chocolate?

São horas de ir dormir, mas ele continua a brincar como se nada fosse?

Se estas situações lhe são familiares, não desespere. Educar uma criança é talvez a tarefa mais complexa que terá de realizar na vida. E, infelizmente, não há fórmulas mágicas. Cada família terá de perceber o que funciona no seu caso e estabelecer as suas próprias regras. Mas isso não quer dizer que não existam princípios gerais que lhe podem dar uma ajuda.

Mimo versus disciplina

Os pais sabem o quanto é difícil enfrentar as lágrimas dos filhos, principalmente quando têm tão pouco tempo para estar com eles. É, aliás, aqui, que muitos cedem e, para que o tempo em conjunto não se transforme numa batalha, permitem comportamentos que sabem não estar corretos.

Mas os especialistas são unânimes. Disciplinar não é simples, rápido ou infalível, mas pode ser menos complexo se os pais seguirem alguns princípios. E tentar comprar os filhos com mimo não é um deles. Nunca negue afeto ao seu filho, nem ponha em causa o seu amor por ele, mas seja firme na hora de aplicar a disciplina.

«Sempre que surja um comportamento inadequado, deve-se explicar, olhando olhos nos olhos e de modo assertivo, o que a criança fez de errado e o que deveria ter feito», recomenda a psicóloga Teresa Paula Marques.

Hierarquia familiar

Entre a escola, as atividades extra-curriculares e os passeios em família, os pais organizam o dia em função dos afazeres dos filhos. Centradas nas suas necessidades, as crianças acreditam assim que tudo deve adaptar-se à satisfação dos seus desejos. Aldo Naouri, pediatra francês, alerta exatamente para essa situação no seu livro «Educar os filhos, uma urgência nos dias que correm» (Livros d’Hoje).

Para o especialista, «pais e crianças não têm as mesmas armas, nem o mesmo cérebro, é por isso que a ideia de uma relação de igual para igual é nociva.» Não se justifique, para evitar dar uma imagem de fraqueza, mas explique que todas as ações têm consequência. As boas são recompensadas e as más castigadas! «Estabelecer limites em termos de educação ajuda a criança a estruturar-se e equilibrar-se», defende a psicóloga.

Famílias perfeitas

Compreender que ninguém é perfeito é meio caminho para a harmonia familiar. «Sejam pais. Apenas. E usem da vossa criatividade e de métodos imaginativos para educarem filhos emocionalmente inteligentes, racionais e intuitivos, que gostem de si próprios e dos outros e que os respeitem. Que aprendam a gerir as contrariedades e os limites com tranquilidade», aconselha Mário Cordeiro em «O Grande Livro do Bebé, O Primeiro Ano de Vida» (A Esfera dos Livros).

O que não deve mesmo fazer é «dizer que a criança é má ou que já não gosta dela porque isso vai gerar ansiedade e manter os problemas subjacentes, podendo mesmo intensificá-lo», salienta Mónica Pinto, pediatra. Em vez de seguir os padrões de amigos ou familiares, os pais devem adotar regras que façam sentido para a sua família.

Idade das birras

«As birras surgem, por regra, a partir dos dois anos, embora inicialmente apenas como resposta a uma frustração ou contrariedade e sejam pouco dirigidas. Mais tarde, a partir dos três, quatro anos, já começa a poder verificar-se uma atitude mais desafiante e de medição de limites e forças, muitas vezes com birras mais elaboradas», informa a pediatra.

É nesta fase que se assume como fundamental os pais manterem uma postura coerente e unânime. Observadoras implacáveis do comportamento humano, perante o mais discreto sinal de hesitação, as crianças encontrarão espaço para perpetuar o mau comportamento, fazendo chantagem entre os progenitores. Se não existir acordo entre os pais, estes devem evitar mostrá-lo diante da criança, mas suportar a decisão do outro e falar mais tarde, em privado, sobre o assunto.

Saber negociar

«Se os pais não tiverem medo de educar, não confundirem afeto com permissividade, as crianças aprenderão que é necessária outra estratégia, a da sedução e da negociação», avança o pediatra Mário Cordeiro no seu livro. Na prática, «é essencial os pais definirem os limites e, naquilo que é importante (como tomar um xarope), serem firmes e manterem a postura. Em situações menos importantes, podem ceder, de forma a fazer a criança perceber que também sabem dizer sim e assim ela aceitará melhor quando for a sua vez de ceder», sugere Mónica Pinto.

«Na relação com as outras crianças, nomeadamente em casos de violência, deve tentar fazer-se com que a criança se coloque no lugar dos outros, de forma a perceber que a agressividade não é o caminho para fazer amigos», aconselha a pediatra. Negociar não implica tratar a criança de igual para igual.

Aprender a relativizar

A reação dos pais deve ter em consideração a idade da criança, a intenção com que agiu e a gravidade da situação.

«Se foi numa atitude desafiante, o ideal é não ligar. Se persiste, pode tentar mudar-se a atenção da criança e dar sempre o exemplo. Se for uma atitude perigosa, deve ser explicado com calma, de modo a não ser repetido», exemplifica Mónica Pinto.

«Para além de ser proporcional à incorreção, o castigo deve ser aplicado na altura, já que, a posteriori, a criança não conseguirá associá-lo ao mau comportamento», reforça Teresa Paula Marques. Outra estratégia é destacar as boas ações. Toda a ação da criança visa despertar a atenção dos pais. Se ela vir essa atenção satisfeita através do bom comportamento, irá realizá-lo mais vezes.

Bomba-relógio

Na ânsia de que só desfrutar de bons momentos com as crianças, isentos de choros e birras, alguns pais cedem constantemente nas suas imposições. No entanto, esta atitude tem consequências. Por um lado, as crianças perdem a noção de respeito, autoridade e disciplina, acreditando que nada lhes é proibido e tornando-se possíveis adultos que não sabem agir perante a frustração.

Por outro, os próprios pais acabam por descarregar nos filhos a sua tensão, muitas vezes quando estes não fazem nada de mal. Por mais intensa que seja a pressão, os pais não devem esquecer o seu papel de adultos educadores. «Bater, agredir ou humilhar e rebaixar a criança são estratégias a evitar pois, ao fazê-lo, os pais mostram que são opções válidas», alerta Mónica Pinto.

O bom castigo

Passo a passo, saiba como agir em situações de crise:

- Antes de aplicar o castigo, avise-a fazendo uma advertência.
- Se o comportamento continuar, acompanhe-a até uma sala ou canto isolado.
- Durante o percurso, não a critique nem repreenda.
- O lugar deve estar livre de objetos que a entretenham.
- Explique-lhe que ficará nesse local a pensar no seu comportamento. Para definir a duração, há um critério que pode usar, um minuto por cada ano da criança.

Texto: Sandra Diogo com Mónica Pinto (pediatra do desenvolvimento) e Teresa Paula Marques (psicóloga)