É estimado que entre 40 a 60% da população mundial seja fluente em duas ou mais línguas. A exposição a uma segunda língua pode acontecer logo desde o nascimento ou posteriormente, durante o desenvolvimento. Podemos encontrar cenários como: pais e criança nativos do país onde residem mas colocam a criança numa escola de outra nacionalidade; a família muda-se para um país estrangeiro; a criança é filha de pais de diferentes nacionalidades que podem ou não residir no país de origem de um deles.

 

Várias são as teorias que pretendem perceber qual o período óptimo de aquisição de uma segunda língua. Sabe-se que, devido à plasticidade cerebral, as crianças apresentam maior facilidade para se tornarem fluentes numa segunda língua do que um adulto.

 

Está estudado que as crianças bilingues não apresentam maior probabilidade de terem atraso de desenvolvimento da linguagem. No entanto, numa etapa precoce (caso a criança esteja exposta a duas línguas em simultâneo desde o nascimento) é esperado que apresente um vocabulário mais reduzido e maior dificuldade na construção frásica, respeitando as regras gramaticais. Porém, conciliando ambas as línguas, o número de palavras apresenta-se semelhante a uma criança monolingue. Isto pode ser explicado comparando o nosso cérebro a um armário: dependendo do contexto e daquilo que é percepcionado pela criança, a mesma adquire o vocabulário e toda a gramática na língua em que o experienciou; assim acontece com cada gaveta que ‘armazena’ um tipo de roupa ou assessório, de acordo com as nossas vivências, preferências ou aquilo a que fomos ensinados.

 

Todas as crianças são, biologicamente, aptas para adquirir linguagem. Entende-se que é durante o período crítico de desenvolvimento das competências cognitivas, linguísticas e sociais que se dá o período óptimo para a aquisição, até por volta dos 4 anos. O sucesso normalmente não se relaciona com o grau de competência da criança com um desenvolvimento global típico mas com o tipo e duração de exposição a uma segunda língua: interação dos pais em actividades diversificadas que impliquem não apenas oralidade mas gestos, comportamentos, e outros traços extralinguísticos da cultura, permanência da figura paternal que adopta a segunda língua, contacto com outras crianças, metodologia de ensino, entre outros, de forma a proporcionar uma ‘imersão’ na língua estrangeira, facilitando a aquisição e, posteriormente, a aprendizagem formal.

 

Ana Beirão

Terapeuta da fala
ana.beirao@pin.com.pt

 

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