A aprendizagem da leitura e escrita inicia-se numa etapa precoce de qualquer criança, através da compreensão de conceitos de literacia e fonologia. Desde a combinação e sequencialização de acontecimentos de forma lógica em imagens representativas até á automatização do Princípio Alfabético. É através da experiência e interação com o ambiente e agentes envolvidos que cada criança desenvolverá num ritmo próprio, mas dentro de um período normativo, as competências necessárias para ler e escrever.

Para que a leitura e a escrita ocorram, é necessário que a criança consolide a noções de correspondência som-grafema-som, sistema alfabético e fonologia em diferentes padrões que lhe permitirão autonomia e fluência em ambos os processos.

Crianças com um diagnóstico de Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) nem sempre desenvolvem de forma espontânea ou pouco explícita competências literárias ou acompanham num mesmo ritmo que outras crianças. Embora seja frequente observar noções precoces de grafemas (algumas desenvolvem um interesse marcado por letras e conhecem o alfabeto desde muito cedo), apresentam lacunas significativas noutras competências, como a compreensão do que é lido, interpretação literal do conteúdo, compreensão da utilidade e regras para a leitura e escrita eficaz, correspondente a cerca de 80% de crianças com PEA.

O universo de perfis das PEA não permite correlacionar e definir a intervenção na leitura e escrita antecipadamente. Algumas crianças ao longo do seu desenvolvimento apresentam perturbações da comunicação, da linguagem, sensoriais, comportamentos repetitivos e restritivos, interesses, dificuldades na compreensão do abstrato, entre outras, que embora preditores, não contribuem necessariamente para dificuldades na aprendizagem da leitura.
Embora instruções verbais e descodificação leitora tendam a ser tipicamente áreas fracas, suportes visuais são recursos essenciais a adicionar como meio aumentativo de programas estruturados para a aprendizagem da leitura. Algumas metodologias de ensino têm sido criadas de modo a oferecer um apoio especializado e dirigido à competência da criança. O mais comum é o método global, e para além deste, foi desenvolvido também o método das 28 palavras. Um aspeto transversal a estes métodos é o contexto ou contextos reais da criança, ou seja, pretende-se que a criança seja capaz de associar e atribuir significado a todos os elementos introduzidos, assim como a associação de uma imagem/símbolo à palavra ensinada.

As crianças com PEA podem apresentar muitas vezes dificuldades motoras que comprometem a aprendizagem da escrita. Estas dificuldades podem ser mais gerais, ao nível da motricidade global, ou mais específicas para a grafomotricidade, como a motricidade fina. Quando as dificuldades comprometem o ritmo de aprendizagem e limitam o seu desempenho, tipicamente recorre-se ao uso de letra de imprensa maiúscula, evitando penalizar e potencializar negativamente aspetos relacionados com a motivação e autoestima. Noutras circunstâncias, com crianças com dificuldades significativas na grafomotricidade, o uso do tablet ou computador torna-se a ferramenta chave como meio auxiliar e aumentativo para promoção da sua aprendizagem e autonomia para a escrita.

A equipa terapêutica tem o papel, em conjunto com o corpo docente e os pais, enquanto elementos centrais, de avaliar as áreas deficitárias, identificar as áreas fortes, definir objetivos atingíveis de acordo com o potencial da criança e qual o método mais apropriado para estas aquisições tão importantes e intervir de modo a promover a aprendizagem e o sucesso.

Ana Beirão – Terapeuta da Fala – ana.beirao@pin.com.pt

Raquel Mata – Educação Especial e Reabilitação – raquel.mata@pin.com.pt

PIN – Progresso Infantil

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