Inimigos invisíveis face a um quartel indefeso, as doenças infantis travam uma injusta guerra contra o sistema imunológico das crianças, principalmente quando os mais pequenos frequentam o infantário ou o primeiro ciclo. O contacto é muito, as defesas fracas. Depois de um silencioso período de incubação, surgem a tosse, a febre e outros sintomas. A melhor prevenção é estar alerta e conhecê-los. Com a ajuda do livro «1333 Perguntas para Fazer ao seu Pediatra» do médico pediatra Mário Cordeiro, publicado pela editora A Esfera dos Livros, conheça algumas das principais ameaças à saúde das crianças:

- Adenoidite

Define-se por uma inflamação dos adenoides, estruturas que existem na parte de trás do nariz, onde começa a garganta. Têm como principal função a defesa local e regional contra infeções e agressões como micróbios, poeiras, fumo de tabaco e poluição. Quando a filtragem das agressões deixa de ser efetiva, os adenoides produzem secreções que escorrem para a frente, enchem o nariz e têm tendência a subir, quando a criança não se assoa, mas também baixam para a zona dos brônquios, dando origem a tosse, principalmente à noite.

O ranho é amarelo-esverdeado, a criança funga, as secreções podem subir pela trompa de Eustáquio até aos ouvidos, afetando-os, e pode evoluir para uma otite média. A maioria dos casos é leve e a situação controla-se com soro, nebulizadores de água-do-mar e gotas nasais. E, claro, ensinando a criança a assoar-se, o que é possível a partir dos dois anos, dois anos e meio.

- Amigdalite e escarlatina

São ambas infeções provocadas pela bactéria estreptococos, sendo a escarlatina uma amigdalite com pintas. Costumam surgir sobretudo em crianças de idade pré-escolar e escolar e transmitem-se, por norma, a partir de gotas de saliva, espirros ou infeções da pele.  A sintomatologia comum implica febre (pode ser alta), mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e de barriga. Particularmente, a amigdalite provoca o aumento das amígdalas, dor a engolir, dificuldade em respirar e falar, tosse (que pode ser seca), inchaço dos gânglios que ficam por baixo da boca, mau hálito, rouquidão e vómitos.

Na escarlatina, um sintoma específico é a língua muito vermelha, para lá das pequenas manchinhas encarnadas, que surgem no corpo, poupando as zonas à volta do nariz e da boca, e as pregas do sangradouro. Ambos os casos devem ser sempre confirmados pelo médico, para saber se há lugar a antibiótico. Poderá ter  de ser feita uma análise que, rapidamente, mostra a existência do estreptococo na garganta.

- Bronquiolite

Infeção respiratória que ataca os bronquíolos, que são as estruturas mais pequenas da árvore respiratória, e provoca por isso grande dificuldade respiratória na criança e muita ansiedade nos pais. Entre os fatores de risco estão o fumo do tabaco e a partilha de espaços mal arejados.  A maioria dos casos é de origem viral, sobretudo no inverno, e os micróbios transmitem-se via tosse, espirros ou através de secreções nasais. Uma medida pouco usada em Portugal é a máscara para os adultos que estão constipados.

Muitas vezes, estes vírus não causam uma doença especial nos adultos mas podem originar bronquiolite nos mais pequenos.  Os sintomas passam pela dificuldade respiratória, sobretudo à saída de ar (expiração) e respiração sibilante (pieira).  Há, geralmente, um historial de constipação nos dias anteriores e dura dois a três dias. É importante manter a criança sob vigilância, pois pode ser necessário o recurso ao oxigénio.

Nalguns casos, a bronquiolite pode ser uma manifestação da asma. Deve manter a criança confortável a nível respiratório e geral.  Deve colocar-se a criança semissentada para facilitar a respiração. São aconselhadas sessões de cinesiterapia e aerossóis três a quatro vezes por dia, com 15 minutos de duração. A criança deve beber muita água e ter o nariz desobstruído.  Se a situação não melhorar nas 24 horas seguintes, deve consultar um médico.

Veja na página seguinte: Conjuntivite, eczema e exantema súbito

- Conjuntivite

Geralmente benignas, são inflamações ou infeções da mucosa dos olhos.  São comuns nos primeiros meses de vida, pois o canal que drena as secreções e as lágrimas é pequeno e entope com facilidade, sobretudo se o nariz estiver inflamado e obstruído (por isso, a necessidade de colocar soro fisiológico nasal antes de todas as mamadas), tornando-se mais vulnerável a vírus. Os sintomas manifestam-se por ramelas, olhos pegados (especialmente de manhã), vermelhidão, intolerância à luz e inchaço.

Deve limpar os olhos regularmente, para que as secreções não se acumulem no canal lacrimal, fazendo-o no sentido do nariz para a orelha, sem pressionar para não obstruir o canal lacrimal com secreções. Quando existem ramelas, aplique um colírio antibiótico, uma pomada  ou gel com antibiótico.  Se persistirem ou existir  um grande inchaço, consulte um médico.

- Eczema

Consiste no aparecimento de lesões da pele, cuja causa mais comum é a dermatite atópica, de origem alérgica, mas também as dermatites seborreicas e de contacto (prolongado ou repetido com a saliva, sumos de citrinos, detergentes, sabonetes, espumas de banho ou medicamentos).  Os sintomas revelam-se pelo aparecimento de lesões na pele caracterizadas por vermelhidão, exsudação (líquido lamacento) e formação de pequenas vesículas debaixo da pele. A terapêutica adequada passa, geralmente, pela aplicação de uma pomada (por vezes com um corticóide) para o eczema que deve ser prescrita pelo médico assistente.

- Exantema súbito

Também conhecido por 6ª doença, é um problema viral habitual em bebés até aos 18 meses. Depois de três dias de febre alta, com prostração, eventuais convulsões febris, mal-estar e dor de ouvidos, a temperatura desaparece e surgem manchas na pele que duram cerca de três dias. O diagnóstico só é possível à posteriori e, por vezes, a sintomatologia é confundida com uma vulgar otite, sendo receitado inutilmente um antibiótico.

- Gastroenterite aguda

Causada por micróbios, tem um mecanismo simples. O agente entra, é reconhecido pelo estômago como indesejável e o organismo tenta expulsá-lo. Vómitos (por vezes intensos), diarreia, febre baixa e mal-estar são os sintomas habituais. Na maioria das situações, passa espontaneamente.

Deve controlar-se os vómitos (se necessário com um medicamento), fracionar as refeições (muitas e pouco de cada vez), retirar verduras e frutos de sumo, evitar dar leite com lactose (se a diarreia for intensa) e dar um suplemento probiótico. Se a criança estiver prostrada, com olhos encovados, prega da pele seca, a gemer e lábios secos, leve-a de imediato ao hospital.

- Otite média

Inflamação da área do ouvido que fica para dentro do tímpano (ouvido médio). A maioria é causada por secreções que sobem o canal de arejamento do ouvido, a trompa de Eustáquio, entre o ouvido médio e a parte de trás do nariz, sobretudo quando as crianças não se assoam e fungam. Começa geralmente com uma constipação e pode dar febre alta, dor intensa no ouvido, mal-estar, perda de apetite e diarreia.

Quando a infeção progride e a pressão aumenta, o tímpano rebenta e a dor e a febre desaparecem, podendo ver-se um líquido viscoso a sair pelo canal auditivo. O tratamento passa pela aplicação de gotas nos ouvidos para diminuir a dor e tratar da obstrução nasal (com soro, nebulizadores de água-do-mar, vasoconstritores). Se os sintomas persistirem, é recomendável uma ida ao médico e pode ser receitado um antibiótico.

Veja na página seguinte: Como lidar com os piolhos e com a varicela

- Piolhos

São insetos chupadores de sangue que parasitam o couro cabeludo dos seres humanos. Reproduzem-se através de ovos e multiplicam-se rapidamente. Transmitem-se por contacto direto, pentes, escovas ou chapéus. São mais comuns em crianças que frequentam jardins-deinfância e escolas do primeiro ciclo. Geralmente, os medicamentos que matam os piolhos eliminam também os ovos e são muito eficazes.

- Varicela

Muito contagiosa, é uma das doenças mais frequentes na infância. Geralmente, tem evolução benigna mas pode complicar-se, principalmente no caso de crianças com imunodeficiências, leucemias e outras formas de cancro. Existe uma vacina para prevenção que deve ser dada a partir dos 14 meses de vida.  A varicela pode também deixar mais hipóteses de ter zona em adulto, uma doença maçadora e, por vezes, grave, que é a reativação do vírus da varicela que ficará, para sempre, alojado no corpo.

A incubação varia entre duas e três semanas antes de aparecer febre (baixa), mal-estar e falta de apetite. Depois, rapidamente, aparecem pequenas pápulas vermelhas que se transformam em vesículas (com líquido) e depois em crostas (causam muita comichão). Os fármacos antivirais ficam ao critério do médico. é recomendável uma loção antiprurido para a comichão e, por vezes, um xarope para diminuir o mal-estar.

Texto: Carlos Eugénio Augusto com Mário Cordeiro (médico pediatra)