Não querendo soar como uma bisavó, mas «no nosso tempo», as crianças tinham apenas um par de ténis que era usado até à exaustão (leia-se: buracos ou o pé crescer demasiado), a mochila da escola dava para todos os anos da escola primária e a Fada dos Dentes (Ratinho dos Dentes, segundo outras versões) deixava uma moeda de 25 escudos (ainda não havia Euro, lembram-se?) debaixo da almofada, durante a noite.

 

Ó, como os tempos mudaram.

 

Na sua pesquisa anual sobre dentes (sim, há pesquisas anuais sobre dentes), uma conhecida empresa mundial de cartões de crédito e de débito descobriu que a quantia média paga pelos pais portugueses, por dente, durante o ano de 2012, foi de 5 euros. Dois anos antes, tinha sido de 2,5 euros, ou seja um aumento de 50 por cento em dois anos.

 

A este ritmo, podemos dizer que os miúdos poderão arrecadar mais de 100 euros com todos os 20 dentes de leite.

 

Se acha que este valor médio de 5 euros é o suficiente para deixar a Fada do Dente na bancarrota, pense nisto: seis por cento das crianças recebe 20 euros ou mais por dente e dois por cento conseguem atingir a marca colossal de 50 euros! Serão dentes revestidos a ouro?

 

Aqui na redação, os nossos filhos recebem uma reluzente moeda de 1 euro. Aparentemente somos forretas, já que apenas um terço dos pais inquiridos pela famosa empresa de cartões de crédito e de débito está disposto a pagar 1 euro por dente.

 

E, a propósito, se vive no litoral, paga mais por dente – 4 euros, em média – enquanto no interior do país, dá-se cerca de 2,5 euros por dente. Também há pais que optam por oferecer um presente, cujo valor não costuma ser inferior aos tais 5 euros.

 

Bem, somos grandes fãs da tradição da Fada dos Dentes (assim como 90 por cento dos portugueses), mas 1 euro por dente parece totalmente justo e completamente razoável. Se está a pagar 20 euros por dente, é vantajoso que os seus apelidos sejam semelhantes aos dos banqueiros da nossa praça.

 

Ao ritmo a que os miúdos de 6 anos perdem os dentes, teríamos de contrair um empréstimo bancário em benefício da Fada dos Dentes. Não, um euro é suficiente.

 

Já agora, conhece a história de como nós tínhamos de fazer três quilómetros a pé, fizesse chuva ou sol, para ir e vir da escola?

 

 

Maria João Pratt