A tendência geral das escolas é de aumento da carga horária com redução dos intervalos ou recreio. Parece-me uma ideia funesta. É no recreio que as crianças e jovens aprendem os valores essenciais na relação com os outros e se molda o seu carácter. Aprendem a conhecer o valor da amizade, a exercitar a coragem, a respeitar a diferença, a apreciar a lealdade, enquanto ,e em simultâneo, são expostos ao inverso de tudo isto, aprendendo a reconhecer em quem confiar e, pelo contrário, que "amigos" evitar.

Da Escola espera-se que eduque, não apenas que informe. Decerto os valores acima mencionados são pelo menos tão importantes quanto saber que o antónimo de bom é mau, porque não se tratam de meros vocábulos, mas de palavras que refletem o concreto da existência, e os atos bons e maus são praticadas na relação com os outros, em geral fora do constrangimento da sala de aulas.

Poder-se-á argumentar que esse é o papel da família. Decerto que assim é, mas não exclusivamente, em particular quando as necessidades económicas e outras diminuem o tempo de permanência das famílias junto das crianças, e a escola vai ocupando o vácuo assim criado.

A vigilância dos recreios é muitas vezes realizada por pessoas com menor qualificação. Seguramente muitas delas serão exemplares na forma como se relacionam com as crianças, mas parece-me que uma figura de referência que pudesse orientar as crianças nesse período, ajudasse a resolver os conflitos, servisse de conselheiro e árbitro, poderia ter um papel importante na formação dos alunos. Que tal tirar o psicólogo do gabinete e incentivá-lo a exercer parte da sua função orientadora  nos tempos livres? Também veria a figura de um professor respeitado a exercer esse papel, ou até de voluntários a quem fosse fornecido o treino e supervisão que também devia ser realizado pelas auxiliares de educação que "vigiam" as crianças. É que a sua função não deveria ser fiscalizar, mas educar.

 

Nuno Lobo Antunes
Neuropediatra

 

PIN - Progresso Infantil