«Este é o livro que o seu filho pequeno não quer, de todo, que você leia. Este é o livro que lhe ensina os truques, as capacidades e os estratagemas para ganhar ao seu filho no único jogo que ele sabe jogar, ser criança. As crianças não sabem que é suposto
vestirmo-nos antes de ir a qualquer lado ou que as guloseimas não são o ideal na roda alimentar», pode ler-se a determina altura.

«As crianças não sabem que é preciso pagar as coisas que levamos da loja ou que as birras não são o principal instrumento de negociação entre litigantes. Não lhes passa pela cabeça que lavar o cabelo não é uma tortura medieval, que cortar as unhas não dói ou que existe uma coisa chamada voz da consciência. É aí que você entra», referem David Borgenicht e James Grace.

«Seja como for, tem que educá-lo. E isso pode acontecer de várias maneiras. Às vezes é suficiente lançar as bases, tratá-lo como um ser responsável e inteligente e ensinar-lhe porque é que certas coisas acontecem de certa maneira. Outras vezes, porém, é preciso ser astucioso. Essencialmente, usar truques e estratagemas para o seu filho entrar na linha», afirmam ainda estes especialistas.

Este é um excerto de «Grandes Birras Pequenos Truques», da autoria de David Borgenicht e James Grace, que até incluíram no livro um «Diploma de Heroísmo» para os os pais premiarem os fihos, quando merecerem. Selecionámos os ensinamentos mais úteis e contamos consigo para começar já a pô-los em prática. De que é que precisa para esta missão ser bem sucedida? De muita imaginação.

Convença o seu filho a ir deitar-se

Dormir é uma rotina e, como tal, tem de ser cumprida, independentemente do local onde a criança esteja (casa dos pais, dos avós ou dos amigos). Borgenicht e Grace aconselham os pais a encararem o ritual de deitar «como um comboio: não tem retorno. Os seus filhos sabem que, quando entram num comboio, ele não volta para trás. A sua função é pôr o comboio a andar e fazê-lo sair da estação. Desenhe a sua linha na areia ao princípio da noite e mantenha-se firme. Se lhe disse exatamente quantos livros ele pode ler, conte-os e deixe claro que ele só pode escolher essa quantidade», explicam.

«Se lhe disser que não vai voltar ao quarto para lhe dizer outra vez boa noite ou cantar outra cantiga, não volte atrás por mais que ele grite. Estabeleça um repertório de métodos criativos de entrar na cama: pelo lado da cama e por baixo dos cobertores; por cima das nuvens, voando e aterrando na almofada (...) Ensine ao seu filho técnicas de respiração enquanto lê ou canta para ele: uma inspiração profunda pelo nariz e, depois, uma expiração pela boca», acrescentam.

Convença o seu filho a lavar as mãos

O primeiro passo é dar o exemplo. Se os pais forem à casa de banho e saírem sem lavarem as mãos os filhos não perceberão porque é que têm de o fazer.

 

Explicar-lhes que lavar as mãos frequentemente é fundamental para evitar gripes e afins talvez não tenha muito impacto, sobretudo se ainda forem muito pequenos.

Mas pode, por exemplo, arranjar um banquinho baixo, para uso exclusivo da criança, e deixá-la encarrapitar-se nele e lavar as mãos sozinha, aplaudindo a sua independência. Também poderá recorrer a um marcador de tinta lavável e desenhar um monstro nas mãos do seu filho, desafiando-o a fazê-lo desaparecer. «Lavar o monstro resulta sempre», garantem os autores da publicação.

Convença o seu filho a tomar um medicamento

Neste ponto não há negociação possível e deve explicar que os pais e os irmãos também têm de tomar remédios quando estão doentes e só assim ficam bons. Quanto a truques, mais uma vez, a dupla de autores dá uma ajuda. «Tendo em conta que as temperaturas baixas disfarçam os sabores desagradáveis, mantenha o remédio gelado. Se isso não for suficiente, misturá-lo em alimentos igualmente gelados (pudim, compota de maçã, iogurte, gelado) pode dar resultado», recomendam.

 

«No fim, como recompensa, dê-lhe depois o resto do gelado. Dilua o remédio em sumos ou refrigerantes. Os de sabor a laranja ou uva, muito frios, disfarçam o sabor de quase todos os remédios líquidos. Ajuste a mistura conforme o sabor desagradável do medicamento», explicam ainda os especialistas. 

«Finja ser a Mary Poppins. De facto, uma colher de açúcar ajuda a engolir o remédio. Administre-o em colher e tenha pronta outra colher com xarope de chocolate. Entre outras propriedades, o chocolate elimina o gosto de quase todos os medicamentos. Deixe a criança decidir onde tomar o remédio. Muitas vezes, ceder num pequeno elemento de controlo é o suficiente para atingir o objetivo», asseguram os autores do livro.

Convença o seu filho a partilhar

«É meu!», costumam gritar as crianças, agarradas a um boneco, carro, gelado ou o que quer que seja. A verdade é que, se não é fácil que alguns adultos reconheçam a importância de partilhar, explicá-lo a uma criança é uma tarefa ainda mais difícil.

Cabe aos pais transmitir a ideia que partilhar é esperado, necessário e até benéfico.

Neste campo, os conselhos de David Borgenicht e James Grace são para que o adulto leia à criança histórias sobre partilha (ou invente algumas), para que esta aprenda a reconhecer que partilhar é difícil mas que traz recompensas de vários tipos, como elogios dos pais e brincadeiras divertidas com os amigos. Incentive a criança a ir alternando os brinquedos («primeiro brinca o João com o comboio e depois trocam») quando estiver a brincar com amigos. No livro é ainda mencionada uma estratégia mais radical, menos consensual.

 

«Se vem um amiguinho brincar, guarde os brinquedos especiais. Pergunte ao seu filho quais são os brinquedos que ele não quer mesmo emprestar e respeite a sua vontade. Esconda-os num armário e garanta ao seu filho que o amiguinho não irá encontrá-los. Isto passa a informação de que se espera que ele partilhe tudo o resto. Esta é uma daquelas situações de fala agora ou cala-te para sempre», sublinham os autores.

Convença o seu filho a ser arrumado

Ter uma criança em casa é sinónimo de desarrumação. Mas pode envolver o seu filho na solução do problema, estabelecendo uma rotina em relação às arrumações e habituando-o a devolver as coisas aos seus lugares antes do jantar, diariamente ou a um dia da semana pré-estabelecido.

Seja inflexível, caso contrário a criança vai sempre inventar qualquer coisa para adiar o momento de arrumar. Uma sugestão que torna a tarefa mais divertida é fazer uma corrida de arrumação, recorrendo a um cronómetro. Não se esqueça que os brinquedos devem ter locais de arrumação certos e, quando isso não acontecer, deve existir uma caixa grande onde sejam guardados os objetos avulso. 

Convença o seu filho a deixar aplicar-lhe protetor solar

Mais uma inevitabilidade da vida que não pode ser contornada. O protetor solar vai ter de ser aplicado, quer o seu filho queira, quer não. A única concessão que pode fazer é deixá-lo escolher se prefere que o primeiro alvo sejam as costas, os braços ou as pernas.

Aplique o protetor solar ainda em casa, reforçando a dose quando chegarem à praia, piscina e/ou campo.

 

Um dos truques de David Borgenicht e James Grace consiste em que os pais chamem ao protetor solar filtro mágico, explicando à criança que este vai desempenhar o papel de escudo invisível, protegendo-o do sol (o que é 100 por cento verdadeiro) e conferindo-lhe poderes especiais. Outra estratégia é levar consigo um pincel e uma tigela. Deite um pouco de protetor solar na tigela e deixe o seu filho molhar o pincel no creme e pintar desenhos no próprio corpo. Ele pinta e você distribui uniformemente o produto. 

Deixe-o fazer o mesmo no seu corpo, pedindo-lhe para espalhar o creme nas suas costas. Também pode arranjar uma luva de banho em forma de boneco/fantoche e aplicar o protetor solar com ela. Como constatam os autores, «é muito mais divertido ser o pato, ou o gato ou a boneca a espalhar o creme do que a mãe ou o pai».

Texto: Teresa d'Ornellas