Educar e disciplinar os filhos implica, entre outras coisas, estabelecer regras e limites claros. Nem sempre isto é fácil, ainda para mais nos dias que correm, mas se os pais adotarem práticas educativas positivas desde cedo, é possível prevenir dificuldades e problemas futuros. Cláudia Madeira Pereira, psicóloga clínica e da saúde, doutorada em psicologia clínica, aponta nove boas práticas que lhe vão facilitar essa tarefa:

1. Converse com o seu filho

Mesmo que esteja exausto depois de um dia de trabalho, reserve algum tempo do seu dia para conversar com o seu filho. Ao jantar ou antes de ir deitar, pergunte-lhe como foi o dia dele, usando frases como «Conta-me o que fizeste hoje», «Fala-me das coisas boas que aconteceram hoje» ou ainda «Aconteceu alguma coisa má?».

Se o seu filho teve um mau dia, pode recorrer a várias soluções. Em primeiro, dê-lhe oportunidade de falar e escute-o sem julgar ou criticar. Se preferir, procure aspetos positivos que possa destacar e/ou elogiar. Fale-lhe também sobre «o quê» e «como» fazer para lidar melhor com situações semelhantes no futuro.

2. Dê atenção aos bons comportamentos

Por vezes, as crianças aprendem que os maus comportamentos são as melhores formas de obter a atenção dos pais… Isto acontece particularmente nas crianças cujos progenitores lhes prestam atenção apenas quando se comportam mal, mesmo que essa atenção seja negativa, ralhando com eles e repreendendo-os.

Para que o seu filho perceba que a melhor forma de conseguir a sua atenção é através dos bons comportamentos, elogie-o e/ou ofereça gestos de carinho (dando-lhe beijos e abraços) sempre que ele fizer ou mesmo tentar fazer alguma coisa boa, como ajudar a pôr a mesa ou fazer um recado, por exemplo.

3. Promova a autonomia e a responsabilidade do seu filho

Algumas tarefas, como por exemplo vestir-se de manhã, podem revelar-se difíceis para as crianças. Mesmo sabendo que seria mais rápido ser você a vestir o seu filho, prefira incentivar a sua autonomia e responsabilidade. Ajude o seu filho, dando instruções curtas e simples na realização das tarefas.

Para isso, use expressões como «Tira o pijama», «Agora, veste a camisa» ou «Por fim, veste as calças». Termine com um elogio, utilizando frases como «Muito bem, fizeste um bom trabalho!». Por vezes, não bastará dizer ao seu filho o que fazer, poderá precisar de mostrar-lhe «o quê» e «como» fazer.

4. Estabeleça regras claras

Esclareça o seu filho acerca de uma série de regras. Em primeiro lugar, explique a regra de forma sucinta e concreta. Em segundo, certifique-se de que o seu filho compreendeu a regra e sabe o que se espera dele. Para que o seu filho seja capaz de respeitar as regras mais facilmente, procure dar indicações claras e simples, de forma empática e positiva.

Frases como «É hora de ir para a cama. Vamos para o quarto agora e depois eu leio-te uma história», por exemplo, costumam resultar. É comum as crianças desafiarem as regras nos primeiros tempos, mas mantenha-se firme e consistente. Repita as indicações quantas vezes forem necessárias para que o seu filho perceba que a nova regra é para ser cumprida.

Veja na página seguinte: O que (não) fazer para acabar com as birras

5. Defina limites

Quando precisar de corrigir o comportamento do seu filho, procure ter paciência e mantenha-se firme. Comunique ao seu filho que um determinado comportamento tem de parar, explique as razões e informe-o das consequências de não obedecer. Nesse caso, use preferencialmente frases como «Se continuares a fazer, então…». Implemente as consequências de forma imediata e consistente sempre que ocorrer o mau comportamento.

Mas não recorra à punição nem a castigos físicos (como, por exemplo, bater), pois estes só agravam os problemas de comportamento das crianças. Prefira retirar um passatempo ou um objeto apreciado pelo seu filho, durante algum tempo.

6. Acabe com as birras

Embora não seja fácil, procure ignorar as birras, não dando atenção à criança nesses momentos, desde que não haja perigo para a criança, claro! Se for possível, afaste-se e volte a dar-lhe atenção somente quando a birra cessar, para que o seu filho perceba que só consegue a sua atenção quando deixa de fazer birra. Nessa altura, prepare-se, porque o seu filho vai pô-lo à prova.

No início, é normal as birras piorarem. Contudo, ao aplicar sistematicamente este método, as birras acabarão por desaparecer. Lembre-se que o que se pretende com isto é que o seu filho aprenda que as birras já não são uma boa forma de obter o que deseja e que a melhor forma agora de obter a atenção dos pais é comportando-se bem.

Para conseguir isto, terá de estar atento aos bons comportamentos do seu filho e valorizar estes comportamentos sempre que ocorrerem, dando por exemplo um elogio, um beijo ou ainda um abraço. Se o fizer, a criança sentir-se-à mais acompanhada.

7. Aprenda a controlar os seus sentimentos negativos

Há momentos em que qualquer mãe ou pai sente os nervos à flor da pele. Quando isto acontecer, tem várias formas de agir. Em primeiro, certifique-se de que o seu filho se encontra num sítio seguro (como, por exemplo, o berço ou o quarto. De seguida, retire-se durante um momento para se acalmar.

Procure, seguidamente, fazer algo que o ajude a relaxar. Pode, por exemplo, ouvir um pouco de música ou fazer uns minutos de meditação. Quando se sentir mais tranquilo, volte para junto do seu filho e recomece, usando frases conciliadoras num tom meigo, como «Eu senti-me irritado quando tu te portaste mal mas agora estou mais calmo. Gostava que fizéssemos as pazes… Gosto muito de ti».

Veja na página seguinte: O que precisa de ter para conseguir domar o seu filho

8. Tenha (muita) paciência

Quando educa o seu filho a partir de uma comunicação (verbal e não-verbal) empática e positiva, estará a contribuir para uma relação mais saudável e feliz entre ambos. Educar e disciplinar o seu filho vai exigir uma boa parte do seu tempo e paciência. Afinal, não é à toa que dizem que ser mãe e pai é um trabalho a tempo inteiro! Mas, no fim de contas, vai valer bem a pena, porque é o trabalho mais gratificante que pode ter…

Texto: Cláudia Madeira Pereira (psicóloga clínica e da saúde doutorada em psicologia clínica no Consultório de Psicologia Dra. Cláudia Madeira Pereira) com edição (internet) de Luis Batista Gonçalves