Quem nunca ficou embaraçado depois de o filho receber um presente e não agradecer? Ou teve de segurar o riso quando ele surgiu, durante uma visita a casa de amigos, com um pacote de doces que foi buscar sozinho ao armário do anfitrião? Atitudes como dizer «obrigado» e não mexer nas coisas de outras pessoas são regras que as crianças aprendem aos poucos – e sempre com a sua ajuda. A seguir, saiba como ensinar os dez principais mandamentos de boas maneiras para que o seu filho brilhe em qualquer situação social.

 

1. Dizer «por favor»

O primeiro passo para que as crianças aprendam esta expressão é, claro, ouvi-la dentro e fora de casa. Ou seja, se for um hábito diário entre os adultos e os pais derem o exemplo, será mais fácil cobrar o mesmo comportamento aos pequenos. E não espere que seu filho tenha tudo na ponta da língua tão rapidamente. É preciso lembrar o pedido em todas as situações até que, aos poucos, a criança adquira o costume e saiba quando usá-lo. «Em casa, a “expressão mágica” vem de mim, do pai e da empregada. Se eles não pedirem algo com “por favor”, não cedemos. O meu conselho é pensar nisto como um treino que envolve todas as pessoas à volta da criança», diz Ana Vaz, consultora de etiqueta e de imagem e mãe de Tiago, 6 anos, e de Helena, 4. Insistir, portanto, é necessário – até porque esse entendimento está relacionado com a faixa etária em que a criança se encontra. Apenas por volta dos quatro ou cinco anos é que vão compreender mais facilmente normas sociais, como explica Teresa Ruas, terapeuta ocupacional especialista em desenvolvimento infantil. «Até aos dois ou três anos de idade, as crianças ainda são egocêntricas, não conseguem colocar-se no lugar do outro. Esta característica faz parte do desenvolvimento cognitivo. Só mais tarde vão entender conceitos como igualdade, respeito e solidariedade», explica.

 

2. Emprestar um brinquedo

Vale seguir a mesma lógica da fase em que se encontra a criança. Se ela tem até três anos, em média, terá dificuldades em entregar algo que é dela a outra pessoa ou em compreender que o emprestado será devolvido. Mas, quando não é possível escapar da situação, procure inicialmente estabelecer trocas. Ter à mão alguns objetos repetidos (mais de uma bola, mais de um carrinho) também é outra dica, caso saiba que vai encontrar outras crianças da mesma idade ou quando vêm visitas pequenas a sua casa. Conviver com irmãos, primos e colegas de escola também torna o processo mais fácil. «Jogos e brinquedos que favorecem o “brincar junto” contribuem bastante para esta aprendizagem», explica Teresa Ruas. A criança pode aprender, desta maneira, que ter um companheiro pode até ser mais divertido do que usar apenas aquilo que é «dela». Obrigar o seu filho a entregar o brinquedo, no entanto, pode não ser a melhor saída. É melhor estimulá-lo a dividir e chamar o amigo para brincarem juntos. O contrário também vale: quando seu filho pede algo emprestado, a resposta pode ser «não» – e é necessário aprender isto também. Para controlar o choro neste momento, procure alternativas para distrair a criança. «Eu sempre negoceio uma troca, mas quando não está a ser possível, tento mudar o foco para outra brincadeira», diz a empresária Cátia Parreira, mãe de Carolina, 6 anos, e de Gabriela, 2 anos e 8 meses.

 

3. Agradecer quando recebe um presente

Nesta situação, o importante é mostrar ao seu filho que outra pessoa se importou com ele e, por isso, merece um agradecimento. O mesmo vale para quando recebe um elogio. E não tem segredo: a recomendação é pedir à criança que agradeça sempre – mesmo que saia um «obrigado» meio atravessado. Se isto acontecer, não se zangue. O motivo está na famosa sinceridade infantil. «Quando a minha filha realmente gostava, o “obrigada” saía junto com um “adorei!”, com um abraço... Mas quando o presente não era muito interessante, o agradecimento saía, mas com um sorriso meio amarelado. Isto foi impossível mudar», diz Maria Regina Barba, professora de Educação Física e mãe de Marina, 12 anos. A especialista Teresa Ruas explica que há ainda mais uma questão a ser tida em conta: a proximidade (ou a intimidade) com a pessoa que deu o presente. «A criança pode ter ou não empatia por quem deu o presente. E isso também influencia a resposta», diz. Não dê muita importância ao assunto, pois geralmente o adulto que ofereceu o presente ou elogiou entende a situação. Mas, se os pais ficaram embaraçados com a atitude do filho, basta pedir desculpa mais tarde, a quem lhe ofereceu o presente.

 

 

4. Pedir desculpa

Não basta apenas obrigar o seu filho a repetir a palavra. É preciso explicar o motivo por que pede desculpa. E, assim como nas outras situações já citadas, considere a idade da criança, pois o pedido também está relacionado com a aquisição do sentido moral. Se o seu pequeno de três anos empurrou o amigo, por exemplo, o ideal é explicar que aquilo não é correto e incentivá-los a fazer as pazes (sem muitas delongas sobre o assunto). Mais tarde, por volta dos quatro anos, a criança vai compreender melhor o sentido de certo e errado e, então, vale uma explicação mais longa, dizendo que não é bonito fazer com os outros aquilo que não gostamos que façam connosco e que, quando isso acontece, é preciso reconhecer o erro e se desculpar. A partir dos seis anos, quando estes conceitos estão mais claros para a criança, vale a pena investir em algum tipo de reparação, ou seja, numa atitude que aconteça a partir do pedido de desculpa. O objetivo é ensinar a importância de respeitar o outro e não banalizar o «sinto muito». E, sim, será preciso repetir a mesma ação até que a criança entender que aquilo não pode ser feito. «Às vezes, percebo que meus filhos dizem “desculpa” quase a “rosnar” e eu peço para repetirem», diz Ana Vaz. Isto porque o pedido não pode vir só «da boca para fora», para se livrar da bronca. O pedido de desculpa deve ser feito porque a criança realmente compreendeu o erro.

 

5. Não interromper enquanto os adultos conversam

Principalmente por volta dos dois anos, a criança vai interromper as conversas. E este é um comportamento normal, que faz parte da fase egocêntrica pela qual ela está a passar. «Na verdade, o estranho seria nunca interromper, já que, nesse período, a criança considera-se o centro das atenções», afirma Teresa Ruas. Portanto, tente incluir o seu filho de alguma maneira. Está numa festa de família? Peça para que ele fique por perto e que interaja também com a pessoa com quem os pais estão a conversar. Ou deixe a conversa para mais tarde. «Quando estou com as crianças, não costumo ter longas conversas com outros adultos. O programa é realmente mais voltado para elas. Mas, quando acontece, não tem segredo: é só pedir. A mais velha já sabe, só com um olhar meu, que é para esperar um pouco», conta Cátia Parreira. No caso de o seu filho ser um pouco mais velho (a partir dos quatro anos), já é mais fácil explicar a situação e dizer que, quando duas ou mais pessoas conversam, cada uma tem sua vez para falar – e que é preciso esperar. Mas, não se esqueça: assim como todas as regras de convívio social, será necessário repetir mais de uma vez.

 

6. Não tirar macacos do nariz

A criança passa por um processo acelerado de conhecimento durante a primeira infância. E este tipo de «exploração» do corpo é comum entre a garotada. O mesmo vale para «puns» e arrotos. O ideal é explicar que são atitudes privadas – assim como é preciso fechar a porta para fazer xixi, por exemplo. Essa é a tática da advogada Carolina Santana, mãe de Ricardo, 6 anos. «Tirar macacos do nariz é mais forte do que ele (risos). Mas costumo explicar que existem algumas coisas que não podemos fazer à frente de outras pessoas», diz Carolina Santana. Para os mais novos, principalmente, é preciso dizer sempre, durante o dia todo, até que entendam. Viu o seu filho com o dedo no nariz no meio de uma festa de casamento? Leve-o à casa de banho para limpar as mãos e o nariz. E pronto. Evite dar uma palmada na mão ou chamar a atenção para o facto. Geralmente, a criança nem dá conta do que está a fazer. A sugestão de Lígia Marques, especialista em marketing pessoal, é combinar com o seu filho um código discreto ao chamar a sua atenção – e ter paciência. Como tempo, ele vai aprender.

 

7. Não abrir o frigorífico em casa dos outros

Esta atitude está relacionada com a ideia de «a nossa casa» e «a casa dos outros». A alternativa é fazer com que o seu filho compreenda que não pode mexer no que não é dele (o que inclui o frigorífico). Não precisa dizer ao seu filho – principalmente se ele ainda for pequenino – que é falta de educação em frente de toda a gente, até porque o adulto que é o dono da casa costuma reagir com bom humor à cena. De qualquer maneira, é sempre com reforçar a recomendação de que, quando está fora de casa, é preciso pedir quando deseja alguma coisa. «Também pergunte, por exemplo, se ele gostaria que as pessoas que vão a sua casa remexessem em tudo», diz Lígia Marques. Aos poucos, a criança vai aprender como deve comportar-se nessas situações.

 

 

8. Respeitar os mais velhos

Seja com os mais próximos, como os avós, ou com aqueles que vê de vez em quando, como um vizinho, o seu filho provavelmente vai conviver com pessoas mais velhas. «Para que aprenda a respeitá-las, sempre digo ao Lucas, hoje com 7 anos, que ele não deve fazer a alguém o que não gostaria que lhe fizessem a ele», diz Margarida Barata, arquiteta, mãe também de Lucas e dos gémeos Gabriel e Rafael, com 1 ano e 10 meses. Além do diálogo, o ideal, como sempre, é partir de situações rotineiras. Explique ao seu filho, por exemplo, que forma de brincar com o avô é diferente da maneira com que ele se diverte com o amigo da escola e que eles têm o seu próprio tempo. Também vale lembrar que os idosos são pessoas mais experientes e, por isso, devem ser ouvidos. «Diga que eles já viveram mais e, por mais “chatos” que às vezes possam parecer, fazem e dizem as coisas com a intenção de ajudar», diz Lígia Marques. Outra dica para fazê-los compreender a maneira de se relacionar com os mais velhos é ter a literatura como aliada. Que tal passar a tarde numa livraria e ler, com as crianças, obras que abordam a relação com os avós (ou com os idosos em geral)? É uma forma mais «leve» de tratar a questão. Por fim, dê o exemplo. Não adianta exigir que seu filho trate bem os mais velhos se os pais não dão o lugar num transporte público para que um idoso se sente ou reclama quando passam à sua frente numa fila.

 

9. Fazer as refeições com tranquilidade

O ideal é tornar a hora refeição a mais organizada possível. Acompanhe a criança enquanto ela se alimenta e evite interrupções que possam distraí-la. Também diga que é importante ficar sentado durante a refeição para que a comida não faça mal. Ana Vaz conta que, com os seus filhos, faz uma brincadeira: quem ficar na mesa até o fim, ganha pontos. Quando o almoço ou o jantar é num restaurante, distrair a criança é uma boa alternativa. Uma dica é procurar locais com áreas de recreação (mas combine que poderá brincar só depois de comer) e levar brinquedos, jogos, papel e caneta para que se distraia enquanto a comida não chega. Explique também que, se ela se levantar antes de terminar de comer, o seu prato será retirado. Outra dica para o caso daqueles muito agitados (em casa ou fora) é «cansá-los» antes da refeição: leve-o para um passeio ou deixe que brinque bastante antes de comer. Quem tem mais de uma criança em casa e veja diferenças entre as duas, respeitar o ritmo de cada uma também é necessário. João, de 13 anos, filho mais velho do fotógrafo Augusto Lima (também pai de António, 9), é muito autónomo e acelerado. «Ele sempre comeu mais rápido do que o irmão e, por isso, saía mais cedo da mesa», diz. Lidar com esta diferença pode ser uma boa estratégia enquanto os filhos são pequenos. Depois, devem ter paciência para só se levantarem quando todos acabarem a refeição.

 

10. Saber esperar

Seja na fila para o escorrega ou na sala de espera do consultório médico, é comum ver uma criança inquieta. Esta ansiedade começa ainda na fase de bebé e está relacionada com a rapidez com que a criança vê as suas necessidades atendidas. É preciso ter paciência para que, aos poucos, o seu filho aprenda a ser mais paciente, mas há algumas atitudes suas que podem ajudar. Partiu ou perdeu um brinquedo? Não precisa comprar outro imediatamente, diga que noutra ocasião os pais lhe darão um novo, ou que tal pedir ao Pai Natal? Quando a ansiedade está relacionada com alguma viagem ou festa que vai acontecer, espere para contar sobre o evento quando estiver mais próximo à data. Em situações que não dá para escapar da espera, procure sempre ter na bolsa um brinquedo, um tablet, um livro, um vídeojogo ou, dependendo do horário, algo para comer ou beber. Por fim, sempre vale repetir (mesmo para as mais novas) que «tudo tem a sua hora». A criança precisa saber que chegará a sua vez, mas isto precisa ser mostrado com ações. Atue sempre da mesma maneira com o seu filho até ao momento que ele consiga ter o que está à espera. Outra dica: se está num restaurante, por exemplo, que tal explicar (de uma forma que ele entenda, claro) como se dá o processo de preparação de um alimento? «Fale do cuidado e do tempo que é necessário para preparar aquilo que comemos. Provavelmente, o seu filho não vai compreender à primeira, segunda ou terceira vez. Mas, aos poucos, começa a compreender que nem tudo está pronto e acabado, à espera para atender os seus desejos», conclui Teresa Ruas.