Os bebés também sofrem de stress?

Os bebés podem sofrer de stress mesmo antes de nascer. O ritmo de vida acelerado, o stress no trabalho, o trânsito, os atritos em casa ou até mesmo as mudanças no modelo social e familiar podem afetar o sistema nervoso quer da grávida, quer do bebé. A vida conjugal dos pais, os seus ritmos diários, os fatores ambientais, o barulho, a solidão ou o escuro afetam a criança. A falta de cuidados, de atenção, de afeto, a alimentação insuficiente ou o excesso de exigências também. São imensos os fatores que podem desencadear stress no bebé. Não há nada como estar atento aos possíveis sinais de alerta.

Quais são os sinais de alerta?

Há vários: bebés com choro sem motivo e irritação, independentemente do local onde estejam. Nesse casos, um "não" dos pais é suficiente para provocar uma birra ou agitação. Situações de isolamento, dificuldades de relacionamento com outras crianças, desinteresse total pela comida, ingestão de alimentos em excesso, demora para adormecer ou insónias são outros sinais de alarme.

Há ainda outros fatores extremamente importantes que se manifestam em fases do crescimento posteriores. É sempre importante estar atento a qualquer comportamento fora do comum em qualquer fase do crescimento e analisar a necessidade de se recorrer a um especialista ou não.

Em que situações é que os pais devem procurar ajuda de um psicólogo?

Sempre que notarem qualquer comportamento fora do comum nos seus bebés. Algo que persista durante vários dias, semanas, não deixando que cheguem a meses. É preciso procurar sempre uma opinião caso haja dúvidas sobre algum comportamento fora do normal, ainda que os amigos lhe digam que próprio da idade.

Evite o contacto dos bebés e das crianças com notícias más ou desagradáveis. Sejam elas do seio familiar ou dos telejornais. Estas podem incutir medos e ansiedade às crianças.

De que forma é que o stress na primeira infância pode prejudicar o bebé?

A primeira infância é das fases mais importantes no desenvolvimento de uma criança. É nessa fase que o cérebro está mais recetivo a novos estímulos e apto a adquirir novas competências. É uma fase crucial para o desenvolvimento físico, cognitivo, social, emocional... É uma fase onde o cérebro passa por grandes mudanças e é extremamente sensível a determinadas vivências, como o caso do stress, onde as alterações de voz de um adulto, acontecimentos que podem ser marcantes pela negativa, mais tarde podem vir a manifestar-se na adolescência ou idade adulta.

Tanto Piaget como Freud defendiam que acontecimentos precoces não eram armazenados na memória. No entanto, nenhuma das suas explicações são apoiadas por investigações recentes que revelam que algumas crianças se recordam de episódios de fases precoces das suas vidas.  Seja qual for a situação, os estilos de conversação dos adultos têm influência nas crianças. Recordar episódios bons e descrever situações agradáveis junto da criança ajuda a reter melhor a informação. É fundamental que os pais ou cuidadores proporcionem, sempre que possível, ambientes tranquilos, serenos, onde consigam promover a união, harmonia e bem-estar.

Como é que se pode diminuir os efeitos desse stress nos bebés?

O carinho de um cuidador é talvez a estratégia mais forte para transmitir confiança, segurança e proteção a quem se sente inseguro, ansioso e em stress. Um abraço apertado, um colinho e um beijo na testa são pequenos gestos essenciais. É preciso distraí-los. Ler-lhes um livro ou simplesmente ver os bonecos com eles. No fundo, é importante fazê-los esquecer o fator stressante. Um passeio ao ar livre, apanhar ar fresco, brincar ou correr são outros exemplos.

Há vários estudos que comprovam cientificamente que através da placenta passam hormonas que ativam e transmitem o stress da mãe para o filho.

Em casa é preciso manter a rotina. As rotinas trazem segurança, estabilidade e consequentemente geram menos stress e ansiedade. É importante manter os mesmos horários das refeições, de deitar e levantar, e se possível chegar a casa mais ou menos às mesmas horas. É necessária uma boa alimentação e horas certas de descanso. Seguir uma dieta equilibrada e ter horas para deitar e levantar são hábitos fundamentais para que a criança ande mais serena. Por fim, mas não menos importante, evite o contacto dos bebés e das crianças com notícias más ou desagradáveis. Sejam elas do seio familiar ou dos telejornais. Estas podem incutir medos e ansiedade às crianças.

Quais são as principais causas de stress nos bebés?

A inexistência de rotinas. Tudo o que é imprevisível pode gerar stress e ansiedade. As criticas negativas frequentes também são prejudiciais. Ainda que o pequenino seja um “desastrado”, nunca se esqueça de elogiar, incentivar, motivar a que faça mais e melhor. Ensine-o e motive-o a fazer sozinho. Em situações de comportamentos que têm de ser repreeendidos, explique-lhe apenas que não fez bem, mas que não tem mal, porque da próxima vez já não vai acontecer. Reforce-o sempre de forma positiva!

O bebé também sente o stress da mãe na barriga da mãe?

Há vários estudos que comprovam cientificamente que através da placenta passam hormonas que ativam e transmitem o stress da mãe para o filho. Uma equipa da Universidade de Konstanz, na Alemanha, refere que as alterações sofridas pelo feto podem levar a que a própria criança, mais tarde, seja menos capaz de lidar com o stress e que tenha problemas de comportamento.

Bebés que choram muito são mais stressados?

Não necessariamente. Os bebés são extremamente sensíveis a diversos fatores e isso não implica que estejam sujeitos a stress. Um bebé pode chorar por ter fome, por precisar que lhe mudem a fralda, por estar com sono, por ter alguma dor, por ter frio ou calor, por ter alguma peça de roupa a incomodar… São imensos os motivos que podem levar uma criança a chorar. Nunca nos podemos esquecer que o choro é a primeira forma de comunicação do bebé.

As explicações são da psicóloga Marta Martins, das Clínicas Leite