Tanto a música como a linguagem são universais e provavelmente especificamente humanas. Muitos autores têm mostrado associações entre música e linguagem.

A música tem a capacidade de facilitar a aquisição da linguagem, a preparação para a leitura, o desenvolvimento intelectual geral; melhorar a criatividade; promover o desenvolvimento social, o ajustamento da personalidade e a autoestima. Vários estudos comprovam que aprender e fazer música exercita o cérebro. Ao fazer música ativamos sinapses dos sistemas sensorial, cognitivo (simbólicos, linguísticos e da leitura), motivacional, sinapses que veiculam a aprendizagem, a estimulação da memória, o planeamento de movimentos, etc.

Várias investigações científicas realizadas e publicadas sugerem que a música altera a forma como o cérebro processa os componentes da linguagem, melhorando a perceção dos sons, incluindo os sons da fala e, consequentemente, a sua relação com a escrita.

Para aprender a ler, a criança deverá já ter desenvolvido a consciência de que as palavras são constituídas por sílabas e estas por sons (consciência fonológica), sendo que estas capacidades são aprimoradas com a aprendizagem da leitura e escrita. Deverá ter desenvolvido também a perceção auditiva e este é um processo complexo, que depende do processamento auditivo e é constituído pela receção e interpretação dos padrões de fala; discriminação entre sons – quanto ao espectro, às características temporais, às formas, sequência e ao ritmo – reconhecimento, memorização e compreensão da fala.

A música requer precisão nas capacidades de timing e pode ser um meio para melhorar as capacidades de processamento temporal (domínio motor e auditivo). O ato de cantar é forma natural de abrandar as transições da fala, tornando-as mais fáceis de reconhecer e reproduzir, sendo que esta é uma forma de melhorar o processamento. Cantar e os aspetos melódicos de um programa de intervenção musical, bem como as canções, promovem a retenção e evocação na área da linguagem.

A discriminação de sons musicais, especificamente a consciência de mudanças de altura sonora está relacionada com a performance ao nível da leitura.

A utilização da música e/ou dos seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta pode ser um método de intervenção nas perturbações de leitura e escrita, dislexia, perturbações fonológicas, perturbações do processamento auditivo, entre outras. As experiências rítmico-musicais permitem uma participação ativa (ver, ouvir e tocar), favorecendo o desenvolvimento dos sentidos das crianças. Este trabalho pode ser assim realizado em benefício da consciência fonológica, perceção/sensibilidade auditiva, processamento (motor e auditivo), atenção, comunicação verbal e não-verbal, facilitando também a expressão de emoções. Podem ser feitas diversas atividades tendo sempre em conta os objetivos delineados para trabalhar com a criança, entre elas: ouvir música, movimento ao som da música, cantar, tocar instrumentos, criar (improvisar, compor), discutir experiências musicais.

A música tem em si uma forte componente motivacional, é um meio de interação positiva e um método por excelência para chegar à criança, uma vez que é também uma forma lúdica de trabalhar competências.

Assim, um programa de intervenção em musicoterapia poderá melhorar a linguagem oral e escrita destas crianças, padrões que podem ser transferidos para as atividades de sala de aula, bem como para seu dia-a-dia.

Musicoterapeuta - Dra. Catarina da Isabel
Centro de Psicologia e Desenvolvimento da Póvoa de Santa Iria