A família tem um papel decisivo no desenvolvimento psicológico do bebé/criança, pois é a qualidade das experiências emocionais precoces que lhe confere a capacidade de investir no meio extra-familiar e a confiança básica necessária para que este investimento ocorra com sucesso. É através de respostas adequadas aos sinais do bebé que a mãe vai atribuindo significado àquilo que este sente, e o bebé vai construindo um sentimento de segurança básica nos outros e na crença de conseguir comunicar e ser correspondido. Esta segurança é fundamental para o estabelecimento de bons hábitos de sono, sem ela será impossível ensinar o bebé a acalmar-se e conseguir adormecer autonomamente.

O processo de vinculação (segundo Bowlby) vai constituir uma matriz fundamental para o posterior desenvolvimento emocional e relacional da criança. É a existência de um bom relacionamento com os pais que torna um indivíduo capaz de formar relações duradouras, satisfatórias e íntimas com os outros e com o mundo.

No entanto, é muitas vezes confundida pelos pais a ideia de criar uma boa relação com o excesso de zelo, ou que para demonstrar afeto se tenha que andar com o bebé sempre ao colo ou de o adormecer nos braços. O bebé tem um grande potencial de aprendizagem e se, por exemplo, aprender a sentir-se seguro apenas no colo da mãe ou a depender desta para se acalmar e adormecer, não se sentirá apto a desenvolver as suas pequenas explorações muito longe dela. Inadvertidamente, esta tendência vai contribuir para mais situações de desconforto e choro sempre que houver a necessidade de separação – seja quando a mãe sai da divisão, ou de manhã quando sai de casa para ir trabalhar, ou até mesmo a separação necessária para dormir. Pelo contrário, sentindo confiança na relação, o bebé vai tendo movimentos de afastamento e aproximação sucessivos, autonomizando-se progressivamente.

Desenvolver uma relação através da confiança com o bebé/criança, em vez de uma relação pela continuada dependência, tem impactos muito diferentes em todas as áreas do desenvolvimento. É importante clarificar que para o progressivo estabelecimento da autonomia é fundamental que não se prive o bebé de carinho e amor, pois é este o elo fundamental da relação pais-filhos. Igualmente importante é sublinhar que a autonomia não deve ser entendida como afastamento ou falta de ligação. Educar é um ato de amor que privilegia a noção de perspetiva e a continuidade do bem-estar, e embora se baseie sempre na vivência do momento presente, tem os olhos postos no futuro. 

Algumas formas simples que os pais podem utilizar para promover a “sintonia” com o seu bebé, aumentando o elo de confiança e, como consequência, beneficiando o estabelecimento de bons padrões de sono, são:

- Identificarem-se intuitivamente com as vivências do bebé: ler os seus sinais, conseguir perceber as causas do seu desconforto e intervir atempadamente;

  • Estarem atentos às mensagens que transmitem, escolhendo bem as palavras que utilizam para que sejam simples, claras e adequadas à vivência momentânea do bebé;
  • Terem atenção à forma como falam (principalmente quando tranquilizam o bebé), a cadência e o tom das palavras escolhidas, a linguagem corporal e até mesmo a própria respiração - para transmitirem calma e segurança, em vez de impaciência e insegurança;
  • Evitarem utilizar o tom de “coitadinho do bebé” pois se o bebé estiver incomodado com algo, sentir que os pais “estão a sentir o mesmo” não o deixa a sentir-se melhor, sendo importante que os pais empatizem com o desconforto do bebé mas que lhe dêem uma resposta positiva e adequada;
  • Falarem, sorrirem e brincarem com o bebé, dando-lhe atenção “suficiente” sem ser intrusivos nem abandónicos;
  • Respeitarem o seu bebé como um ser autónomo (embora dependente), com características e desejos próprios;
  • Promoverem a autonomia (relativa) do bebé: evidentemente que os bebés são muitíssimo dependentes mas aprendem aquilo que lhes for ensinado. Os pais devem ensinar-lhes comportamentos, de forma segura e afectuosa, que lhes permitam viver com maior bem-estar (ensinar a adormecer em vez de adormecer o bebé no colo é um exemplo);
  • Serem os personagens privilegiados na vida do bebé mas não os exclusivos, promovendo a relação do bebé com outras pessoas significativas – familiares e amigos;
  • Evitarem fazer perguntas retóricas se não vão valorizar a resposta (por exemplo: “Vamos dormir?” ou “Vamos embora?”, e se o bebé (ou criança) responder “Não!”? Ou os pais cedem ou mostram ao bebé que a opinião dele não tem valor);
  • Promoverem um ambiente que envolva o bebé de harmonia e tranquilidade e que respeite as suas necessidades e rotinas.

Todas estas questões, apesar de simples, se negligenciadas interferem negativamente na relação de confiança e como consequência dificultam a tarefa de educar, em todas as suas vertentes, incluindo a educação face ao sono. Assim, sendo a principal tarefa dos pais na educação de uma criança ajudá-la a encontrar um sentido para a sua vida e vivê-la de forma plena, nada influencia mais esta questão do que a relação estabelecida entre pais e filhos.

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Ana Amaro Trindade - Psicóloga Clínica

Carolina Albino - Especialista em Ritmos de Sono do Bebé