A minha filha largou as fraldas com dois anos e meio. Não foi muito complicado, não demorou muito a largar as fraldas de noite.

De vez em quando lá havia um acidente nocturno, mas era tão esporádico que nem sequer dava para manter registo. Quando o irmão nasceu não regrediu neste aspecto - felizmente! Passou a querer que a ajudássemos a comer, mas fora isso não houve retrocessos.

Há coisa de um mês ou dois houve um descuido nocturno. E outro no dia a seguir. E depois mais um ou dois durante o dia, porque a rapariga é tão ocupada que não tem tempo para ir à casa-de-banho tratar da urgência do xixi. Se estes acidentes acontecessem por causas “psicológicas” eu era mais tolerante. Mas eles não acontecem porque ela anda stressada, ou porque teve uma mudança na vida dela ou porque se assustou com qualquer coisa. Acontecem porque é distraída e porque aguenta até ao limite, só para não perder tempo de brincadeira. E isso é complicado de aceitar.

Aqui há dias deitou-se e tornou a levantar-se, como faz muitas vezes. Sai da cama e vai ao pé de mim com uma desculpa qualquer: quer um chá, está um barulho esquisito no quarto, quer beber água, teve um pesadelo (quando nem se quer adormeceu ainda). Tudo serve de desculpa para mais cinco minutos a pé. Dessa vez usou a desculpa do barulho. Mas era domingo, no dia a seguir havia escola e eu mandei-a de volta para a cama. Fui com ela, ela deitou-se, eu aconcheguei-a. E um minuto depois (literalmente!) chamou-me, a dizer para não me zangar, mas tinha feito xixi na cama.

Altura perfeita para uma liçãozinha. Disse-lhe que não lhe mudava a roupa da cama nem a roupa dela. Ela que mudasse, se quisesse. E ela mudou. Tirou a roupa molhada, lavou-se, vestiu-se. Fui dizendo o que tinha que fazer e como, mas não mexi um dedo. Até que ela resolveu ser impertinente e dar uma resposta torta e eu saí do quarto deixando-a a resolver o problema sozinha. Começou a desfazer a cama enquanto se lamentava para o irmão “fiz um disparate, mano. Devia ter feito xixi na sanita mas fiz na cama e agora a mãe deixou-me aqui sozinha a fazer a cama. Não tenho sorte nenhuma!!” (sim, foi isto, ipsis verbis!). Entretanto chegou o pai, que foi ajudá-la com os lençóis.

No fim pediu desculpa, disse que não voltava a acontecer mas que, se acontecesse, agora já sabia fazer a cama dela. Espero que tenha aprendido a lição. Acho que sim - e acho que, naquela noite, cresceu mais um bocadinho.