Tudo nas rotinas me irritava: a repetição, a ausência de surpresa, a falta de espaço para o inesperado.

Entretanto cresci e estou feita uma Maria-das-rotinas. Tudo na minha vida está encaixado numa rotina, tudo é roda numa engrenagem qualquer e tudo se enleia de forma a que a vida corra tranquila.

Exemplos? Muitos. De manhã despacho-me primeiro, por uma ordem que é sempre a mesma (porque é a que gasta menos tempo). Depois trato do pequeno-almoço dela e, enquanto ela o toma, trato do rapaz da casa. Depois volto a ela. E com isto meia hora basta para estarmos os três prontos para sair de casa.

Os tempos mortos (isto é, as alturas em que estou a fazer tempo para a levar à natação por exemplo) são aproveitados para pequenas tarefas como seja apanhar ou estender roupa, temperar o jantar, etc.

Isto tudo para dizer que o que antes me dava comichões, agora dá-me segurança. Eu não aguentava ter os meus dias todos programados, sentia-me sufocar. Agora não aguento o caos e preciso da segurança de saber o que vai acontecer a seguir. Claro que há espaço para o improviso. Mas não há espaço para o descalabro. E sinto-me sempre culpada quando sei que devia estar a fazer uma coisa mas afinal permiti-me fazer outra, menos útil mas mais prazenteira. Significa isto que, para mim, esta engrenagem bem oleada também traz atrelado um constante sentimento de culpa, que nem sempre é fácil de digerir. A minha solução é encaixar, no meio das rotinas “úteis” (e por úteis entendam aquelas que ajudam a que os dias da minha família sejam mais fáceis), alguns momentos meus, para poder sentir que o que estou a fazer não tem mal nenhum. É por isso que reservo meia hora para almoçar a ver uma série; é por isso que reservo os serões para ler e escrever. Porque, apesar de o meu trabalho principal ser o de mãe, preciso que haja espaço para os outros papéis que desempenho enquanto pessoa.

Desde que me tornei uma pessoa mais organizada, os meus níveis de stress reduziram muito. Deixei de andar sempre a correr atrás do prejuízo. Passei a antecipar as coisas. Deixei de fazer quando me apetece para passar a fazer quando é necessário. E o que é facto é que, hoje em dia, tenho muito mais tempo livre, consigo fazer muito mais coisas e não me sinto sempre afogada em coisas que ficaram por fazer porque, graças à falta de organização, simplesmente me esqueci do que precisava de fazer.

 

Lénia Rufino

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