As "ideias" a que me refiro são ideias que normalmente põem os cabelos em pé a qualquer mãe, e as "habilidades" que possui são invariavelmente ligadas à arte de se meter nos sítios mais complicados, e nos cantos mais pequenos que desencanta, ou de enfiar qualquer parte do seu corpo em qualquer orifício que encontre. E sim, este meu filho de "ideias" e "habilidades" tem 19 meses, caracóis (quase) loirinhos, olhos doces e uma carinha angelical.

Aliás, contado são poucos os que acreditam nas minhas histórias, e tenho a certeza que duvidam do que ouviram quando olham para o rosto inocente deste pequenino diabrete. Muitos ouvem-me ao telefone a dizer "Tomás, está quieto", ou "o Tomás vai cair", ou até mesmo um grito incrédulo e assustado (meu, diga-se) quando o vejo em determinada posição, ou a fazer malabarismo com um dado objecto. Mas sei que pensam que sou exagerada pois não é possível um menino com uma carinha tão meiga e uns caracóis tão desenhados seja tão " terrorista" como por vezes relato.

Ainda para mais, ele faz cerimónia com as pessoas que não conhece, e recolhe-se à segurança do meu colo, esconde a carinha e finge ser um menino bem comportado. E depois dizem-me "como é possível, um bebé assim tão quietinho a fazer o que dizes?', ao qual tento justificar-me que ele não é assim, está sempre a mexer em tudo, não anda mas sim corre pela casa, escala prateleiras, dependura-se em almofadas e cadeiras, abre a porta do fogão e espreita lá para dentro (desconfio que se queria meter todo lá dentro), empoleira-se em parapeitos da janelas, enfim são tantas, desabafo em tom meio de queixa meia desconsolo.

Enquanto que desabafo estas peripécias, está ele sentado, quieto, encostado a mim, a esconder a cara, a parecer um autêntico anjo e eu uma exagerada.
Isto é bluff, digo eu, para tentar desculpar-me e dar alguma veracidade às minhas histórias.

Mas já há alguns que assistiram a peripécias e aventuras. Este fim?de?semana foi um bom exemplo deste índio e das suas aventuras. Estávamos nós a jantar com amigos, quando ouço um "ai, ai, ai". Era um "ai" calmo, tranquilo, de voz baixa e vinha da sala. Repetiu-se o tal "ai ai", e  levantei-me intrigada para ver. De todas as suas traquinices que já tinha assistido nada me preparava para o que vi.

Estava o menino, com os pés meios presos meios a descair da manta do sofá, e com as mãos a segurar a gaveta aberta da mesa do café. Com o corpo suspenso entre o sofá e a gaveta aberta da mesa, a fazer a chamada prancha, o doce anjinho estava paralelo ao chão, seguro pelos dedos dos pés e pelas mãos. Mas não estava aflito, não chorava, nem se mexia. Suspenso, entre o sofá , e a mesa.

Gritei, ri-me, zanguei-me, abracei-o, voltei-me a zangar, ri-me outra vez, consolei-o. Meia incrédula com o que vi, sem perceber como conseguiu a  proeza, assustada com as  "habilidades" desta cabecinha de caracóis de anjo e "ideias" de índio.

Marta Andrade Maia

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